Por Maurício de Novais Reis*
Final – Conforme sustentado na parte inicial deste artigo, que visa a estabelecer uma relação significativa entre a crônica do Arnaldo Jabor e as teorias psicanalíticas referentes ao conceito de Gozo, podemos sustentar a tese jaboriana de que “os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais”, porque símbolos se apresentam como inatingíveis, principalmente na semiologia contemporânea. O homem pós-moderno não aprendeu a subjetivar. O homem pós-moderno parece hipnotizado pelas danças sensuais das deusas deslumbrantes com seus corpos sarados, perfeitos. A contemporaneidade segue a lógica do excesso, consumindo-se em subjetivações que na realidade são apenas reflexos do modelo fordista que ainda impera na sociedade atual, uma espécie de ditadura do desejo pessoal de provocar desejo no outro sem sequer desejar saciar o desejo provocado. Subentende a antiga ideia do Marquês de Sade de usar o corpo enquanto este produzir prazer, não mais.
Vê-se, portanto, uma modificação no laço social que, outrora vertical, apresenta-se hoje horizontalizado, fugindo de qualquer paradigma das relações humanas. Vivemos a era do homem desbussolado, como defende o psicanalista Jorge Forbes. Diferentemente do homem traumatizado que procurava tratamento para solucionar seus conflitos, o homem pós-moderno busca orientação para realizar escolhas. As transformações ocorridas na sociedade desde Freud têm obrigado a Psicanálise a engendrar um discurso que dê conta dos sintomas constituídos pela própria sociedade consumista. A angústia que surgia do medo de não ter escolha incide exatamente na possibilidade de múltiplas escolhas (e de múltiplas renúncias). Os homens não namoram mulheres que são símbolos sexuais porque temem não se mostrarem capazes de satisfazê-las plenamente, com um gozo impossível, ilimitado, preferindo apaixonar-se pelas fantasias patrocinadas pelas revistas masculinas ou por algum Big Brother da vida (quase) real.
Sim, o gozo não respeita nenhum limite. Todavia, encontra-se em operação na atualidade o gozo do Outro, enquanto intersecção entre o real e o imaginário, operando fora do registro simbólico. Desta forma, o sujeito encontra-se num estado de não subjetivação do gozo, uma vez que falta o significante adequado para atribuir sentido a esse gozo que pertence ao outro. O Outro torna-se, portanto, um sujeito suposto-gozar, e o gozo que se supõe no Outro é um gozo perfeito, como aquele prometido pelas mulheres superobjetos cujas nádegas pululam nos programas de televisão.
O homem contemporâneo não reflete sobre seus conflitos intrapsíquicos e seus desejos, apenas se deixa hipnotizar pela evolução pós-industrial das mulheres construídas em laboratório.
*Maurício de Novais Reis, Agente Municipal de Desenvolvimento de Itanhém/BA; professor de sociologia do Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e especialista em Teoria Psicanalítica / FACEL.