Tupi or not tupi, that’s the question

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Por professor Sérgio Nogueira

Tudo isso é interessante e curioso. Todas essas variantes linguísticas são válidas e têm sua utilidade, mas não devemos esquecer que, por trás de todas elas, há uma língua portuguesa comum, básica, padrão. É a língua geral. É aquela que faz com que todos esses grupos se comuniquem e se entendam.

O correto é “não tem a ver” ou “não tem que ver”?

Tanto faz. O fato de a expressão “não tem a ver” ser um galicismo não é crime. Já se foi o tempo em que os galicismos eram considerados “erros”. Palavras como atelier, abajur, chofer, detalhe e tantas outras já estão devidamente registradas em nossos dicionários e são plenamente aceitáveis. Portanto, não se sinta um criminoso por preferir a forma “não tem a ver”.

Leitor tem dúvida quanto ao uso do acento da crase em “candidatos a vereador” e “candidatos à reeleição”.

Vejamos a diferença:

a) Candidatos a vereador (sem o acento da crase)

b) Candidatos à reeleição (com o acento da crase)

A diferença é que no primeiro caso não há o artigo definido. Vereador, além de ser um substantivo masculino, está tomado no sentido genérico, isto é, sem artigo definido. No segundo caso, ocorre a crase, porque temos o artigo “a” feminino que define a reeleição, mais a preposição “a”. No masculino, corresponderia a “candidatos ao cargo”.

Em “O parcelamento não poderá ser pago a perder de vista”, esse “a” é craseado?

É impossível haver crase antes de verbos, por um motivo muito simples: jamais haverá artigo antes do verbo. Temos apenas a preposição “a”. Observe melhor:

“…a perder de vista”

“…a partir das 10h”

“…começou a chorar”

“…prefere sair a ficar em casa”

“Os filhos têm de obedecer aos pais ou obedecer os pais?”

O verbo OBEDECER é transitivo indireto, portanto “os filhos têm de obedecer aos pais”.

Qual é a diferença entre INVERTER e REVERTER? Na frase: “O Cruzeiro fez três gols no primeiro tempo e ficou difícil para o Náutico INVERTER ou REVERTER o resultado?”

Rigorosamente, “ficou difícil INVERTER o resultado”, e não “reverter” como estamos acostumados a ouvir. Se um clube está perdendo e precisa ganhar o jogo, só invertendo o resultado, ou seja, INVERTER significa “mudar para o oposto”. REVERTER significa voltar ao ponto de partida. Uma situação irreversível é aquela que “não tem volta”. Reverter o quadro político ou econômico significa “voltar à situação anterior”. Em geral, não é isso o que se quer dizer. Queremos, na verdade, é inverter a situação, ou seja, se está ruim queremos que a situação fique boa.

Ocorre crase em “a vista, a venda e a porta”?

VIAGEM ou VIAJEM?

VIAGEM é substantivo: “A VIAGEM foi ótima”.

VIAJEM é verbo (=presente do subjuntivo): “Quero que vocês VIAJEM amanhã.”

VIGENDO ou VIGINDO?

O gerúndio do verbo VIGER (=vigorar) é VIGENDO: “Este contrato ainda está VIGENDO (=vigorando, valendo, dentro do prazo VIGENTE).

VIMOS ou VIEMOS?

VIMOS pode ser o passado do verbo VER ou o presente do verbo VIR:

“Ontem nós VIMOS o filme.” (=pretérito perfeito do indicativo do verbo VER);

“VIMOS, por meio desta, solicitar…” (=presente do indicativo do verbo VIR);

VIEMOS só pode ser o passado do verbo VIR:

“Ontem nós VIEMOS à reunião.” (=pretérito perfeito do indicativo do verbo VIR).

Tinha VIDO ou VINDO?

O particípio do verbo VIR é VINDO (igual ao gerúndio):

“Ele tinha VINDO de outra empresa.” (=particípio);

“Ele está VINDO para cá.” (=gerúndio).

Os verbos derivados (advir, convir, intervir, provir), consequentemente, deverão seguir o verbo primitivo: “Quando chegou a solicitação do presidente, o diretor já havia intervindo no caso”. Continua.