Tupi or not tupi, that’s the question

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Por professor Sérgio Nogueira
E o que fazer com o dumping? Não conseguimos aportuguesar e não há em português uma palavra para traduzi-la: “é quando uma empresa faz preços abaixo do mercado para quebrar o concorrente”. É demais. Nestas horas, o termo estrangeiro é bem-vindo, pois enriquece a língua. E há outros bons exemplos: ranking, show, marketing, impeachment. São palavras devidamente incorporadas à nossa língua cotidiana.
Portanto, nada de radicalismos. É importante valorizar a língua portuguesa, mas nada de purismo e xenofobia.
Na antiga Roma, mais precisamente na região central da atual Itália, ficava o Lácio, onde se falava o Latim. Com a propagação do grande império romano, principalmente na Europa, o Latim passou a ser a língua oficial de muitas regiões. Foi assim, com o passar do tempo, que se formaram as línguas neolatinas: o italiano, o romeno, o francês, o provençal, o catalão, o espanhol… e, como disse o poeta Olavo Bilac, a última flor do Lácio: a língua portuguesa.
Como toda língua viva, o português sofre mudanças não só com o passar do tempo, mas também nas diferentes regiões onde é falado. Assim sendo, é natural que haja diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal, o de Angola, Moçambique, Timor Leste… No próprio Brasil, são normais os regionalismos: o gauchês, o baianês, o cearês…
Nada disso tem a ver com certo ou errado.
Todas as variantes linguísticas são válidas e aceitáveis dentro do seu contexto. É muito pobre reduzirmos tudo a uma simplista discussão de certo ou errado. A beleza da língua portuguesa está na sua variedade, na sua riqueza vocabular, nos seus mistérios.
O mais incrível e ao mesmo tempo lindo é que o brasileiro entende o angolano e que o sertanejo se comunica com o gaúcho da fronteira. As variedades só enriquecem a nossa língua, que não perde sua unicidade básica.
Além das diferenças regionais, temos as variantes linguísticas que caracterizam diferentes grupos.
No “policialês”, todo ser humano vira “elemento” e todo carro é “viatura”.
No “futebolês”, seu time tem que “correr atrás do prejuízo” para “fazer o dever de casa” e, assim, “fugir do fantasma do rebaixamento”.
No teleatendimento, “nós vamos estar analisando seu problema”, depois “vamos estar retornando sua ligação” e, por fim, “vamos estar enviando a resposta”.
“A nível de” executivo, é preciso “alavancagem de vendas” e “fidelização de clientes”.
No “internetês”, “tb axo q vc naum eh burro”.
E assim vai… temos ainda o “juridiquês”, onde tudo é procrastinado, o “economês”, que adora um “nicho de mercado”, o “trafiquês”, o “surfês”…
Dúvidas dos leitores
1ª) Qual é o feminino de “o artista” e de “o músico”?
Para o artista, basta mudar o artigo: a artista. Temos aqui, o que chamamos substantivo “comum de dois gêneros”. É aquele cuja forma é a mesma para o masculino e o feminino, mudando apenas o elemento determinativo. Veja mais exemplos:
O jovem – a jovem;
O estudante – a estudante;
O jornalista – a jornalista;
O artista – a artista.
Quanto ao músico, podemos usar a forma “o músico” tanto para homens quanto para mulheres. Quando isso acontece, o substantivo é chamado de sobrecomum. Veja mais exemplos:
O indivíduo (homem ou mulher);
O músico;
A criança;
A vítima.
2ª) Quando devemos repetir a conjunção “ou”. Em perguntas e afirmações ou só em afirmações?
Só repetimos a conjunção “ou” quando queremos deixar clara a ideia de exclusão e só podemos usar em frases afirmativas. Em frases interrogativas, não há a necessidade da repetição.
Observe melhor:
Frase afirmativa (=ideia de exclusão):
“Ou o diretor ou o gerente deverá viajar a Brasília.”
Frase interrogativa:
“O diretor vai ficar para a reunião ou vai viajar a Brasília?”
Toda variante linguística é válida. Continua.