Tupi or not tupi, that’s the question

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Por professor Sérgio Nogueira
A frase bem traduz o sentimento de Oswald de Andrade. Os nossos primeiros poetas modernistas demonstraram abertamente o seu sentimento nacionalista. Exacerbado e até xenófobo. E essa aversão não era só a tudo que era estrangeiro mas também à sintaxe lusitana. Era o desejo de valorizar o que é nosso, a nossa língua, a língua falada no Brasil.
Por muito tempo, em nossas escolas, os professores ensinavam como “erro” o uso de galicismos. Era proibido falar ou escrever abajur, chofer, detalhe… Éramos obrigados a substituir por quebra-luz, motorista e pormenor. E o tempo provou que estávamos enganados. Hoje, todos nós usamos – sem culpa ou pecado – abajur, chofer e detalhe. Temos até um belíssimo réveillon, na sua forma original.
Agora o inimigo são os anglicismos. Palavras e expressões inglesas infestam e poluem a nossa fala. Temos um festival de beach soccer, play off, delivery, shopping, brainstorming, software, marketing e tantos outros.
A presença de termos estrangeiros no uso diário de uma língua não é crime nem sinal de fraqueza. Ao contrário, é sinal de vitalidade. Só as línguas vivas têm essa capacidade de enriquecimento. A forte presença do inglês na língua portuguesa é reflexo da globalização, do imperialismo econômico, do desenvolvimento tecnológico americano etc. Poderíamos citar muitas outras causas, mas há uma em especial que merece destaque: a paixão do brasileiro em geral pelas “coisas estrangeiras”. Nós adoramos a grife, o carro importado, a palavra estrangeira. Tudo dá status.
É, portanto, um problema muito mais cultural do que simplesmente linguístico.
Valorizar a língua portuguesa, sim; fechar as portas, não.
Qualquer projeto de valorização da língua portuguesa é louvável, mas é um absurdo criar uma lei que pode vir a punir o seu João da esquina porque escreveu hot dog em vez de cachorro-quente.
Se aprovada, será mais um péssimo exemplo de lei a não ser cumprida neste país. Quem vai fiscalizar? Não somos capazes sequer de fiscalizar clínicas geriátricas…
Não precisamos de lei para proteger a nossa língua. Necessitamos, sim, é de recursos para melhorar o nosso ensino, investir na educação, talvez criar um Instituto Machado de Assis, semelhante ao Instituto Camões, de Portugal, e ao Instituto Cervantes, da Espanha.
E aí você me pergunta: e a Barra da Tijuca? Eu respondo: qualquer semelhança com Miami não é mera coincidência.
E é contra isso, contra os exageros, contra os modismos, que devemos lutar. A nossa crítica deve concentrar-se no ridículo, no “desnecessário”. Para que sale, se sempre vendemos? Por que startar, se podemos começar, iniciar, principiar? Se podemos entregar em domicílio, para que serve o ridículo delivery?
O modismo a ser criticado é esta lista imensa de palavras e expressões inglesas para as quais a nossa língua já está bem provida: beach soccer (futebol de areia), paper (documento), printar (imprimir)…
O aportuguesamento de termos estrangeiros também é uma boa saída. É só lembrar o futebol, o blecaute, o estresse, o balé, o filé, o chope, o espaguete…Continua.