Trump quer taxar remessas de imigrantes e ameaça economia de cidades brasileiras

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Medida pode impactar fortemente regiões como Governador Valadares, que movimenta US$ 700 milhões anuais com recursos enviados dos EUA, em meio a crescente pressão sobre comunidade brasileira

Em meio a uma intensificação das políticas anti-imigração nos Estados Unidos, uma nova proposta do presidente Donald Trump ameaça impactar significativamente as remessas financeiras de imigrantes brasileiros para suas famílias. O projeto de lei, que deve ser votado até 4 de julho no Senado americano, prevê a taxação das transferências internacionais realizadas por não cidadãos, incluindo residentes permanentes e portadores de visto.

A Casa Branca quer a aplicação de um imposto de 3,5% sobre as remessas de estrangeiros que trabalham nos EUA, de volta a seus países, independente se estão de forma regular ou não em empregos americanos.

O impacto dessa medida pode ser especialmente severo para algumas regiões do Brasil que dependem historicamente desses recursos. Em Governador Valadares (MG), por exemplo, a economia local movimenta aproximadamente US$ 700 milhões anuais provenientes de transferências de brasileiros que trabalham nos Estados Unidos, segundo dados da prefeitura municipal.

De acordo com o Banco Central do Brasil, em 2023, os brasileiros residentes nos EUA enviaram US$ 2 bilhões ao país, representando 50% do total de remessas internacionais recebidas de imigrantes brasileiros em todo o mundo. Embora esse valor corresponda a apenas 0,2% do PIB nacional, o impacto é concentrado em comunidades específicas que têm forte tradição migratória.

A situação se agrava com o aumento das operações migratórias ordenadas por Trump em diversas cidades americanas, especialmente aquelas governadas por democratas, como Los Angeles, Chicago e Nova York. Imigrantes brasileiros em situação irregular já relatam dificuldades crescentes para manter suas rotinas de trabalho e envio de recursos.

Uma brasileira que trabalha em um bar próximo a Miami, identificada apenas como Cátia, relatou à reportagem que tem evitado sair de casa durante operações das autoridades, resultando em perda de dias de trabalho e redução na renda. “A prioridade agora é pagar as contas aqui“, afirmou.

O cenário é ainda mais crítico para países da América Central, onde as remessas representam parcela significativa das economias nacionais. Em El Salvador, por exemplo, os recursos enviados por imigrantes correspondem a 24% do PIB, com taxas similares em Honduras e Nicarágua. No total, as remessas para a América Latina atingiram US$ 161 bilhões em 2024, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, com México e Guatemala recebendo US$ 64 bilhões e US$ 21 bilhões, respectivamente.

A incerteza sobre a implementação da nova taxa já provoca mudanças no comportamento dos imigrantes. Um casal de Sorocaba (SP) que vive em Nova York relatou ter suspendido a reforma de uma casa no interior de São Paulo. Além disso, há relatos de brasileiros evitando casas de câmbio por medo de operações do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA) nesses estabelecimentos. Por Alan.Alex / Painel Político

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