Trump catalisa o declínio do Ocidente e a ascensão do Oriente, avalia intelectual chinês

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Especialista aponta que o presidente dos EUA desafia a ordem liberal e acelera a transição geopolítica global

Donald Trump, dos Estados Unidos, e Xi Jiping, da China
Donald Trump, dos Estados Unidos, e Xi Jiping, da China (Foto: REUTERS / KEVIN LAMARQUE)
247 – O portal chinês Guancha publicou uma análise assinada pelo especialista em política internacional Tian Feilong, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Beihang, em Pequim, e diretor executivo do programa One Country, Two Systems (Um país, dois sistemas) da instituição. Em seu artigo, Tian avalia o impacto da política de Donald Trump no cenário global, argumentando que o presidente norte-americano não apenas desafia a ordem internacional baseada em regras, mas também pode ser considerado um dos principais impulsionadores do que descreve como a transição histórica do “declínio do Ocidente e ascensão do Oriente”.

Para Tian, Trump personifica uma ruptura dentro da política americana e do sistema internacional. Sua visão se baseia em um nacionalismo radical e na valorização de uma identidade americana tradicional, frequentemente em oposição aos princípios da globalização e do liberalismo ocidental. O autor caracteriza o “trumpismo” como um fenômeno de “retorno às raízes” dos Estados Unidos, resgatando o espírito isolacionista e expansionista do país, ao mesmo tempo em que reconfigura sua lógica imperialista.

O impacto de Trump, segundo o especialista, se desdobra em duas frentes principais: a política doméstica e a geopolítica internacional. Internamente, sua agenda busca desmantelar políticas democratas e centralizar o poder em uma estrutura mais alinhada ao conservadorismo, utilizando medidas de reorganização governamental e cortes drásticos na burocracia. Tian destaca a influência de figuras como Elon Musk, que, segundo ele, teria um papel central na implementação dessa agenda, incluindo o enfraquecimento de órgãos federais tradicionais.

No cenário global, Trump já implementa uma série de políticas que abalam o equilíbrio mundial. Entre as principais ações mencionadas por Tian estão o expansionismo territorial dos EUA, incluindo supostas ambições sobre o controle de regiões estratégicas como Groenlândia e Panamá; a retomada de um “novo Doutrina Monroe”, visando eliminar influências externas na América Latina, especialmente da China; e uma abordagem de compromisso incerto na guerra entre Rússia e Ucrânia, que poderia redefinir os arranjos de segurança europeus.

Outro ponto crítico apontado pelo analista é a posição de Trump em relação ao conflito entre Israel e Palestina. O presidente norte-americano teria planos de apoio irrestrito ao governo de Benjamin Netanyahu, chegando a propor a “recolonização” de Gaza, algo que, na visão de Tian, representa um flagrante desrespeito ao direito internacional e aos princípios das Nações Unidas.

A guerra comercial com a China também aparece como um dos eixos centrais da análise. O especialista sugere que o governo Trump pode trazer uma escalada nas tarifas sobre produtos chineses, buscando enfraquecer economicamente Pequim. No entanto, Tian argumenta que, diferentemente de adversários históricos dos EUA, como o Japão nos anos 1980 ou a União Soviética nos anos 1990, a China atual possui bases institucionais sólidas para resistir a essa pressão e adotar contramedidas eficazes.

O artigo conclui que Trump não representa uma continuidade da hegemonia americana tradicional, mas sim sua mutação para um modelo mais agressivo e fragmentado. Para Tian, essa abordagem contribui para a erosão do sistema global liderado pelo Ocidente e fortalece a ascensão de um novo paradigma multipolar, no qual potências emergentes, especialmente na Ásia, terão um papel cada vez mais relevante na construção da ordem mundial.

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