Por Maurício de Novais Reis*
Parte III – No tocante ao aumento do número de diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, duas situações não podem deixar de receber os devidos questionamentos. Um questionamento relevante diz respeito a se o número de diagnósticos está crescendo porque existe um conjunto maior de conhecimentos por parte dos médicos, ou se, devido à escassez de estudos conclusivos e em decorrência da amplitude sintomatológica que tanto pode indicar TDAH como poderá indicar inúmeros outros transtornos catalogados no DSM. Questionamentos dessa natureza tornam-se importantes em decorrência, principalmente, das condições de vigilância psicofarmacológica. Portanto, surge outra questão de igual relevância: o homem contemporâneo consome uma quantidade abusiva de psicofármacos?
Nesta perspectiva, no tocante à medicalização do homem contemporâneo, especialmente no tocante à medicalização da infância, torna-se necessário refletir sobre a medicalização no âmbito do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. No TDAH, a medicação mais amplamente difundida é o metilfenidato, popularmente conhecido como Ritalina. Todavia, não é sem um miligrama extra de controvérsia que esse fármaco tem sido utilizado, sob prescrição e rigoroso acompanhamento médico, por tratar-se de uma substância estimulante do sistema nervoso central cuja finalidade é provocar aumento na produção de neurotransmissores como dopamina e norepinefrina, o que auxilia na manutenção da concentração e reduz eficientemente os sintomas de hiperatividade.
Como não existe, até o presente momento, uma causa específica para o problema, embora algumas pesquisas tenham apontado determinados genes como potenciais fatores etiológicos. Outro fator que às vezes é apontado como possível causador do transtorno é a presença de minúsculas lesões cerebrais, tão minúsculas que torna impossível a detecção nos exames neurológicos. Não obstante as pesquisas ainda não sejam conclusivas, certamente os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade que interferem na vida de crianças e adultos precisam ser identificados para tratamento.
Se por um lado, parecemos combater o que habitualmente designamos de medicalização da infância, por outro, reconhecemos a importância dos fármacos nos quadros mais graves de acometimento patológico em geral, sempre, obviamente, sob o rigoroso acompanhamento médico.
No entanto, como a psicanálise pode oferecer contribuições legítimas à temática ora tratada? Maria Beatriz Peixoto Tuchtenhagen responde: “A contribuição da psicanálise com relação a esta temática é de grande e fundamental importância, pois é através de seus aportes que se tem a possibilidade de resgatar o sujeito em sua subjetividade, recolocando-o em cena novamente.” A palavra-chave, portanto, no interior da teoria psicanalítica é “sujeito”. A psicanálise confere ao sujeito o direito de exercer sua subjetividade, elaborar seus conflitos, reconstituir seu discurso frente ao real, numa perspectiva de reconstrução do próprio desejo. Continua.
*Maurício de Novais Reis é Psicanalista, Especialista em Teoria Psicanalítica e Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa.