Por Maurício de Novais Reis
Parte I – O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, comumente conhecido como TDAH, é um “transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade. Desatenção e desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento. Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e incapacidade de aguardar – sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento. […] O TDAH costuma persistir na vida adulta, resultando em prejuízos no funcionamento social, acadêmico e profissional”, indica o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), publicado pela Associação Psiquiátrica Americana. Pesquisas indicam que o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade ocorre num percentual que gira em torno de 5% das crianças em idade escolar, tendo como etiologia uma base genética. Sendo assim, numa sala de aula com 20 crianças, é bastante provável que pelo menos uma criança apresente os sintomas peculiares do distúrbio.
Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o transtorno demonstra prevalência maior entre crianças e adultos do sexo masculino, numa proporção de 2 para 1 em crianças e 1,6 para 1 em adultos, em relação ao sexo feminino. Outro fator que deve ser esclarecido é que o TDAH nem sempre manifesta todos os sintomas mencionados acima, esclarece o DSM-5. Isso ocorre, conforme indicado no próprio manual diagnóstico, existem subtipos, que são classificados como: combinado, predominantemente desatento e predominantemente hiperativo-impulsivo.
Desta forma, o transtorno pode apresentar-se de maneiras diferentes. No aspecto combinado, a criança apresenta sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, ou seja, combina os aspectos hipercinéticos com aspectos de desatenção. Já no aspecto predominantemente desatento, os sintomas de desatenção predominam, tornando pouco visíveis os sintomas motores. Outro subtipo existente refere-se a sintomas hipercinéticos que predominam sobre os aspectos de desatenção e falta de concentração. Esses critérios de observação sintomática devem referir-se aos últimos seis meses. Por outro lado, não representaria nenhuma surpresa que aspectos não-combinados evoluíssem para aspecto combinado, posto que compõem o mesmo transtorno.
O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) sustenta que “Atrasos leves no desenvolvimento linguístico, motor ou social não são específicos do TDAH, embora costumem ser comórbidos. As características associadas podem incluir baixa tolerância a frustração, irritabilidade ou labilidade do humor”. Desta forma, torna-se evidente que o TDAH pode provocar intensas dificuldades de comunicação, sociabilidade e progresso educacional e profissional, não porque comprometa a inteligência, mas em decorrência da desatenção, desorganização, inquietude, falta de encaixe nos padrões socialmente sancionados, o que normalmente resulta em discriminação por parte dos colegas que não compreendem as dificuldades enfrentadas pelo sujeito acometido pelo transtorno. Continua.
Maurício de Novais Reis é Psicanalista, Especialista em Teoria Psicanalítica e Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa.