A Teoria das Inteligências Múltiplas

427

Por Maurício de Novais Reis*
Desenvolvida pelo psicólogo estadunidense Howard Gardner, a teoria das inteligências múltiplas surgiu como uma alternativa aos padronizados testes de QI (quociente de inteligência) popularizados no século XX. Enquanto os testes de inteligência mensuravam as habilidades das crianças nas áreas do conhecimento restritas aos campos da linguagem verbal e lógica, a teoria das inteligências múltiplas compreende a inteligência como um complexo quebra-cabeça formado por nove peças independentes, as quais se organizam para promover a resolução de problemas ligados à vida, que exigem respostas as mais variadas. A doutora em educação Maria Clara Salgado Gama afirma que a teoria de Gardner “postula que as competências intelectuais são relativamente independentes”, tendo origem e limites genéticos próprios e substratos neuro-anatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios.
Nesta perspectiva, Gardner defende que os seres humanos dispõem de níveis diferenciados de cada inteligência, sendo que estas podem combinar a fim de produzir novos focos de desenvolvimento. O ganho embutido nessa nova concepção de inteligência está no fato de haver maior valorização de variadas áreas, não somente no que se refere à inteligência lógico-linguística. Desta forma, a inteligência dos futebolistas é também valorizada, uma vez que é necessário um nível elevado de conexões mentais a fim de se desenvolver os movimentos no âmbito de uma partida de futebol que exige conhecimento dos movimentos do próprio corpo num espaço limitado; ademais, as expressões artísticas adquirem relevância no discurso científico, posto que a criatividade artística também é fruto da inteligência – aspectos que não eram devidamente valorizados nos testes de QI.
Contudo, fascina-nos na teoria gardneriana a inteligência intrapessoal. Essa inteligência, até então, jamais havia sido valorizada. A inteligência intrapessoal está relacionada com a compreensão de si mesmo, sentimentos, emoções, sonhos e ideias, enfim, subjetividade. Daniel Goleman corrobora a teoria gardneriana com seu livro “Inteligência Emocional”, uma espécie de fusão das inteligências interpessoal e intrapessoal. A relevância da teoria das inteligências múltiplas reside exatamente no fato, descoberto somente a posteriori, de que aprender a aprender e aprender a ser estão intrinsecamente relacionados à maneira como cada indivíduo lida com seus próprios sentimentos e emoções. Tanto isso é verdade que os sistemas de ensino estão começando a inserir nos seus currículos os aspectos afetivos-emocionais, a fim de auxiliar as novas gerações a lidar com sua subjetividade.
Gardner, certamente, não é psicanalista. E a psicanálise, certamente, não tem demonstrado maiores interesses pelas teorias sobre a aprendizagem. Todavia, fundada no inconsciente, a psicanálise, desde sua inauguração por Freud, sustenta a existência de um saber para além da racionalidade: um saber inconsciente.
*Mauricio de Novais Reis é Graduado em Pedagogia, Graduado em Filosofia, Especialista em Teoria Psicanalítica, Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e Coordenador Pedagógico na Escola M. Prof. Sheneider Cordeiro Correia. Contatos: (73) 99928-0460 | (73) 98885-3463.