@joalbo_brandao
Embora a Constituição Federal estipule que o Brasil é um país laico, e deve manter a prudência afastando dogmas religiosos dos atos governamentais, estamos vivenciando tentativas de intervenções das culturas religiosas nas questões de Estado. Em um país democrático, as múltiplas crenças e valores são incomensuráveis, justamente porque depende da liberdade. O Art. 5, inciso VIII discorre que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei. Scherkerkewitz(*1) em seu artigo direito e religião no Brasil, assinala que “o Estado deve se preocupar em proporcionar aos seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa separando bem o Estado da religião”.
Criada nas igrejas estadunidenses, a “Teologia do Domínio”, foi adaptada por alguns pastores nas igrejas brasileiras e começa a avançar seus tentáculos na política partidária, especialmente após o governo federal adotar o slogan “Deus acima de todos”. O discurso da priorização da família, da moral e dos bons costumes ao invés de somar com a democracia brasileira vem colidir com princípios da integração entre povos, pacificação e a construção de uma sociedade justa, livre e solidária, conforme está alicerçado no art. 3º, inciso I da Constituição Federal.
É importante que o cidadão desenvolva essa consciência mais esclarecida a respeito de que o Reino de Cristo não é aqui, (Jo 18:36…), e observe que este discurso que o cristão dominará este mundo, apesar de invadir os púlpitos religiosos disfarçados de palavras de conforto e fé, não encontra base no novo testamento.
Importante ressaltar que esse movimento das igrejas evangélicas, principalmente as neopentecostais, tem origem em uma interpretação bíblica que alguns teólogos chamam de Teologia do Domínio. (*2) Segundo essa teoria, a igreja teria recebido as promessas divinas direcionadas ao povo de Israel no Antigo Testamento, que envolvem fartura, domínio e governo de territórios e lugares de destaque na Terra. Seria o modo de refletir aqui o que seria o Reino dos Céus prometido para os que creem no Cristo. Vale lembrar que esse tipo de visão ganhou muito destaque às vésperas das eleições de 2018, potencializada quando Edir Macedo lançou o livro “Plano de Poder”, cujo foco era mobilizar os evangélicos para que a igreja governe o Brasil no sentido literal da palavra.
A Ascenção das campanhas de prosperidade financeira e o avanço das bancadas evangélicas nas câmaras de vereadores em todo país também são exemplos práticos deste engajamento das igrejas nas relações de valores e costumes na sociedade. Desse modo, não se pode ingenuamente acreditar que a expansão das bancadas evangélicas sejam apenas consideradas uma pauta religiosa. Pelo contrário, elas revelam a existência de um projeto de poder político-religioso em curso que está sendo bem-sucedido.
Teixeira de Freitas não é diferente. Segundo um dos candidatos evangélicos para o legislativo municipal, que preferiu deixar o nome em sigilo, “O projeto é crescer”, ele sugere olhar para as últimas eleições como indicativo do que vem por aí no legislativo em 2020, …a bancada tem crescido, e agora avança também para as candidaturas majoritárias. Importante ressaltar que minha crítica não é aos crentes nem ao Cristianismo. Sou Cristão tenho uma experiência particular com Cristo. Vivo momentos felizes e importantes na congregação em que frequento, no entanto, é preciso estudar esse fenômeno que tem crescido no mundo inteiro: A teologia do domínio como projeto de poder.
*1. Procurador do Estado de São Paulo, Mestre e doutorando em Direito pela PUC/SP e Professor Universitário
*2. Túlio Gustavo – the intercept brasil