Presidente americano sugere deportação do bilionário sul-africano e ameaça cortar subsídios às empresas do empresário; confronto expõe racha na aliança que ajudou a eleger Trump em 2024
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou o tom contra o empresário Elon Musk ao sugerir publicamente a possibilidade de deportá-lo para a África do Sul, seu país natal. Em declarações feitas a jornalistas nesta segunda-feira (30), Trump respondeu à pergunta sobre uma possível deportação do bilionário com a frase: “Não sei, teremos que dar uma olhada nisso“.
A declaração marca uma nova fase no crescente confronto entre o presidente americano e o homem mais rico do mundo, que até recentemente era considerado um de seus principais aliados empresariais e políticos.
Raízes do conflito: o pacote fiscal trilionário
A tensão entre os dois escalou nas últimas semanas após Musk criticar abertamente o projeto de lei “One Big Beautiful Bill Act”, considerado o maior pacote de corte de impostos da história americana. O projeto, que está em tramitação no Senado dos EUA, prevê a revogação de subsídios para veículos elétricos, o que afetaria diretamente a Tesla, principal empresa de Musk.
Em suas redes sociais, o bilionário classificou o projeto como uma “abominação repugnante” e chegou a chamá-lo de “suicídio político” para os republicanos. “É óbvio, pelo gasto insano desse projeto que eleva a dívida a cinco trilhões de dólares, que vivemos num país governado pelo Porky Pig Party“, escreveu Musk, em referência ao personagem de desenho animado.
Segundo reportagens da imprensa americana, o pacote fiscal inclui cortes bilionários em programas de saúde voltados a idosos e populações de baixa renda, enquanto direciona US$ 150 bilhões adicionais ao orçamento militar. De acordo com cálculos do Congresso americano, a proposta aumentará significativamente o déficit orçamentário dos EUA para US$ 2,5 trilhões (aproximadamente R$ 13,7 trilhões).
Trump contra-ataca: “Musk é dependente de subsídios”
Em resposta às críticas, Trump acusou Musk de hipocrisia e afirmou que o empresário é altamente dependente de recursos públicos. “Talvez Elon seja o homem que mais recebeu subsídios na história, e sem isso ele provavelmente teria que fechar as portas e voltar para a África do Sul“, disse o presidente americano.
“Acabariam os foguetes, os satélites e os carros elétricos. E o país economizaria uma fortuna“, completou Trump, sugerindo que poderia cortar os contratos governamentais com as empresas de Musk, incluindo a SpaceX, que mantém acordos bilionários com a NASA e o Departamento de Defesa.
O DOGE contra seu ex-diretor
Em um tom irônico, Trump sugeriu ainda que Musk poderia ser alvo de investigação pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), órgão que o próprio bilionário chegou a liderar até maio deste ano, quando renunciou ao cargo.
“Talvez tenhamos que soltar o DOGE para cima do Elon. Sabe o que é o DOGE? É o monstro que pode ter que voltar e devorá-lo“, ironizou o presidente.
Musk foi nomeado para liderar o DOGE logo após a posse de Trump em janeiro de 2025, com a missão de reduzir a burocracia e os gastos governamentais. No entanto, o empresário deixou o cargo após apenas quatro meses, em meio a rumores de divergências com o presidente sobre a direção das políticas econômicas.
Histórico de tensões recentes
Essa não é a primeira vez que os dois entram em rota de colisão. No início de junho, Musk chegou a fazer insinuações sobre supostas relações entre Trump e o empresário Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais, o que provocou forte reação do presidente americano.
Na ocasião, Trump usou sua rede social, Truth Social, para acusar Musk de “perder a razão” e já havia feito ameaças veladas sobre os contratos governamentais das empresas do bilionário.
Impacto no mercado e no cenário político
O confronto entre Trump e Musk tem gerado preocupação entre investidores e analistas políticos. As ações da Tesla e da SpaceX sofreram oscilações nas últimas semanas em resposta às declarações do presidente.
Politicamente, o racha expõe fraturas na base de apoio que ajudou a eleger Trump em 2024. Musk foi um dos principais apoiadores financeiros e midiáticos da campanha republicana, utilizando sua plataforma X (antigo Twitter) para impulsionar mensagens favoráveis ao então candidato.
Além de criticar o pacote fiscal, Musk tem defendido publicamente a criação de um novo partido político nos EUA, alegando que o país vive sob um “regime de partido único” onde republicanos e democratas seriam duas faces da mesma moeda quando se trata de gastos públicos.
Analistas políticos apontam que o confronto entre Trump e Musk pode representar um ponto de inflexão importante para a administração republicana, que completa apenas seis meses de governo em meio a crescentes tensões com setores do empresariado que antes o apoiavam. Por Aoan.Alex / Painel Político
