Sobretaxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos a produtos brasileiros pode frear PIB e ampliar oferta interna, avaliam técnicos do governo

247 – A imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os bens exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, já está sendo avaliada por técnicos do governo brasileiro como um fator com potencial desinflacionário para a economia nacional. A análise foi publicada nesta sexta-feira (25) pelo Valor Econômico.
De acordo com os especialistas, a medida deve gerar impactos negativos sobre a atividade econômica, mas também tende a pressionar os preços para baixo. “A tarifa de 50% prometida pelo presidente americano Donald Trump tende a pressionar para baixo, em alguma medida, não apenas a atividade econômica, mas também a inflação no Brasil”, afirmaram técnicos do governo ao Valor. Essa dinâmica ocorreria tanto pelo enfraquecimento do Produto Interno Bruto (PIB), quanto pelo aumento da oferta de produtos no mercado interno — resultado direto da queda nas exportações para os Estados Unidos.
O cenário, no entanto, ainda é de elevada incerteza. Pesam na equação fatores como a volatilidade do câmbio, a reação dos mercados, as eventuais medidas de retaliação que o Brasil poderá adotar e os programas de apoio aos setores mais atingidos pela medida norte-americana. O impacto real sobre os preços, portanto, ainda dependerá de como esses elementos irão se comportar nas próximas semanas.
Os dados mais recentes reforçam o quadro de inflação persistente. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou de 5,32% em maio para 5,35% em junho, no acumulado de 12 meses. Já o IPCA-15 — considerado uma prévia da inflação oficial — subiu de 5,27% em junho para 5,3% em julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A meta de inflação estipulada pelo Banco Central é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A medida de Trump, que entra em vigor em 1º de agosto, atinge uma ampla gama de produtos brasileiros, incluindo bens agrícolas, siderúrgicos e manufaturados. A decisão faz parte da política econômica protecionista que marca o segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, iniciado em janeiro de 2025. Além de gerar apreensão entre empresários brasileiros, a tarifa provocou reações em outros países latino-americanos, e já mobiliza esforços diplomáticos do Itamaraty e análises econômicas no Ministério da Fazenda.
Com a queda nas exportações e consequente aumento da oferta de produtos no mercado interno, os técnicos do governo enxergam espaço para uma moderação nos preços. Contudo, alertam que isso poderá ocorrer às custas de um crescimento mais fraco da economia. A médio prazo, o Brasil poderá ser forçado a diversificar ainda mais seus mercados e reduzir sua dependência do comércio com os Estados Unidos.