Supra-sumo do atraso

4

Por Henrique Matthiesen*

Não há limite para o absurdo, tampouco para a desfaçatez — muito menos para o cinismo — de determinados setores da política nacional.
A aprovação da urgência da anistia, na Câmara dos Deputados, fruto de chantagens e das mais sombrias articulações da extrema-direita, encontrou eco em um presidente frágil, que apequena diariamente o Parlamento — como faz Hugo Mota.

Convém lembrar: a bandeira da anistia simboliza a covardia dos golpistas. Foram eles que, em atos de bravata, atentaram contra a ordem institucional, usaram a máquina pública de maneira despudorada e recorreram a todos os meios possíveis para usurpar o poder e corroer a democracia. Mais que isso: planejaram atentados e outros crimes hediondos, dignos de facínoras e tiranos.

Agora, os mesmos conspiradores contra o Estado Democrático de Direito surgem choramingando por anistia, alegando “perseguição” — tudo isso após processos conduzidos com pleno respeito às garantias constitucionais, assegurando contraditório, ampla defesa e julgamento justo.

Em meio a esse espetáculo de insensatez e desprezo pela Constituição, pela democracia e pelo povo brasileiro, Hugo Mota designa como relator do projeto ninguém menos que Paulinho da Força (Solidariedade).

Paulinho dispensa apresentações: seu histórico fala por si, marcado por episódios que se acumulam e o desnudam como representante da mais genuína política de conveniências. Ainda assim, como o absurdo não conhece limites, a cena emblemática ocorreu logo após sua indicação, quando, em tom farsesco, bradou pela “pacificação nacional”.

Eis a ironia: em busca dessa falsa paz, Paulinho da Força recorre justamente a Michel Temer e Aécio Neves. Se não fosse trágico, seria grotescamente cômico. Aécio, derrotado por Dilma Rousseff nas urnas, não apenas contestou o resultado eleitoral — sem apresentar provas — como também sabotou o governo com discursos inflamados de ódio, tornando-se um dos principais articuladores da queda da presidenta legitimamente eleita — um golpe conduzido por gângsteres travestidos de parlamentares.

Já Michel Temer encarna um papel ainda mais patético e afrontoso: o golpista-mor. Tal qual um Silvério dos Reis contemporâneo, tramou o mais desleal e repugnante golpe da história recente do Brasil. A fatura foi paga com a famigerada reforma trabalhista — um retrocesso digno da elite escravocrata — e com a alteração no regime de exploração da Petrobras, que abriu caminho para que acionistas estrangeiros, em sua maioria norte-americanos, acumulassem lucros bilionários às custas do povo brasileiro.

São esses que agora falam em “pacificar” o Brasil? Com que legitimidade? Com que autoridade moral?

O fato é que não buscam pacificação alguma. O objetivo real é livrar Bolsonaro e sua quadrilha das consequências jurídicas já reconhecidas pela Justiça, salvando, mais uma vez, a pele daqueles que jamais respeitaram a Constituição nem a vontade soberana do povo.

Essa união representa o que há de mais hipócrita e anacrônico na política nacional: a junção nefasta que simboliza o verdadeiro supra-sumo do atraso — a afronta mais rasteira à Justiça e à soberania popular.

Pacificação só existe com respeito às leis, à Constituição e à vontade do povo. Lugar de golpista é na cadeia, mediante o devido processo legal. Na conjuntura atual, a anistia não passa de bandeira de covardes. É hora de a Câmara dos Deputados recuperar sua dignidade e trabalhar em nome da nação, e não para proteger uma família de usurpadores da pátria.

Sem Anistia!

*Henrique Matthiesen é Formado em Direito e Pós-Graduado em Sociologia.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui