STF divulga conversa do jornalista Reinaldo Azevedo com irmã de Aécio

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Após ter conversa com Andrea Neves divulgada, Reinaldo Azevedo se demite da Veja

Andrea Neves, irmã do Senador afastado, Aécio Neves. Foto: Flavio Tavares

O ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes criticou na terça-feira (23/5), a divulgação, pela própria Corte, de uma conversa entre o jornalista Reinaldo Azevedo e Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), no âmbito da investigação relativa à delação da JBS.

“A lei que regulamenta as interceptações telefônicas é clara ao vedar o uso de gravação que não esteja relacionada com o objeto da investigação. É uma irresponsabilidade não se cumprir a legislação em vigor. O episódio envolvendo o jornalista Reinaldo Azevedo enche-nos de vergonha, é um ataque à liberdade de imprensa e ao direito constitucional de sigilo da fonte”, afirmou o ministro.

O diálogo foi publicado pelo site BuzzFeed. Segundo a reportagem, a conversa entre Azevedo e a irmã de Aécio ocorreu no dia 13 de abril, logo após a abertura dos conteúdos da delação da Odebrecht. Eles também conversaram sobre Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Azevedo anunciou na terça sua demissão da revista e afirmou que dar publicidade a “esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas”.

Os áudios fazem parte de um lote de gravações liberado pelo ministro Edson Fachin na semana passada após o fim do sigilo das delações. Em notas, a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal negaram ter divulgado a conversa. A PRG disse que “não anexou, não divulgou, não transcreveu, não utilizou como fundamento de nenhum pedido, nem juntou o referido diálogo”.

A Polícia Federal afirma que o diálogo “não foi lançado em qualquer dos autos circunstanciados”, já que as conversas “não diziam respeito ao objeto da investigação”.

Ainda de acordo com a PF, a gravação dos diálogos foi feita no mês de abril, por decisão judicial do ministro Edson Fachin, e que “somente o juiz do caso pode decidir pela inutilização de áudios que não sejam de interesse da investigação”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) emitiu nota em que diz que “vê com preocupação a violação do sigilo de fonte protagonizada pela Procuradoria Geral da República”.

Ainda de acordo com a associação, a “inclusão das transcrições em processo público ocorre no momento em que Reinaldo Azevedo tece críticas à atuação da PGR, sugerindo a possibilidade de se tratar de uma forma de retaliação ao seu trabalho” e “considera que a apuração de um crime não pode servir de pretexto para a violação da lei, nem para o atropelo de direitos fundamentais como a proteção ao sigilo da fonte, garantido pela Constituição Federal”. Fonte: Estadão Conteúdo.

Procuradoria anexou grampos ao processo da Lava-Jato

O portal Buzzfeed divulgou na terça-feira (23/5), a informação de que a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal anexou no processo da Operação Lava Jato, uma gravação grampeada entre a jornalista Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves, atualmente presa por envolvimento na operação, e o jornalista e colunista da Veja Reinaldo Azevedo. O conjunto total desses audios provocou o afastamento de Aécio e a prisão da irmã.

A PF não considerou indícios de crimes na conversa realizada entre o jornalista e sua fonte. Porém, segundo o Buzzfeed, o assunto é justamente as graves acusações contra Aécio, na delação da Odebrecht. É uma conversa mútua de críticas à Odebrecht, Lava Jato e até à revista Veja, sempre em defesa de Aécio.

As gravações foram feitas no dia 13 de abril, com autorização da Justiça. Ao ser procurado pela reportagem, ele anunciou sua demissão da Veja e disse que, como não era investigado, a divulgação da conversa tinha o jornalista, e não Andréa Neves. “Há uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos pilares do jornalismo”, escreveu.

Um dos assuntos discutidos é um dos pontos da delação da empreiteira. A acusação de que o empresário Alexandre Accioly, dono da academia Bodytech, emprestou uma conta em Cingapura para Aécio receber propina. O caso foi revelado pelo BuzzFeed. Ele nega as acusações.

Andrea Neves – Aí aparece uma história maluca, que já tinha aparecido um mês atrás mais ou menos naquele site BuzzFeed, dessa conta do Accioly em Cingapura. Que era, em tese, o mesmo dinheiro da minha em Nova York, que é o tal dinheiro da [usina] Santo Antônio. É essa coisa mágica, que ninguém consegue explicar, porque que o Aécio poderia ganhar uma bolada desse tamanho numa obra que é do governo federal. […]

O assunto então muda para a Veja. A revista havia publicado, na capa, que a delação da Odebrecht trataria o pagamento de propina a Aécio em Nova York, numa conta em nome da irmã Andrea. Esta suposta conta que Veja atribuiu a Andrea Neves nos EUA nunca apareceu. Com a divulgação pelo Supremo da delação de Henrique Valladares, citada na reportagem de capa, os dois passam então a criticar a revista.

Andrea Neves – Agora, que está acontecendo na Veja, o que o pessoal fez…

Reinaldo Azevedo – Ah, eu vi. É nojento, nojento. Eu vi.

Andrea Neves – Assinaram todos os jornalistas e vão pegar a loucura desse cara para esquentar a maluquice contra mim.

Reinaldo Azevedo – Tanto é que logo no primeiro parágrafo, a Veja publicou no começo de abril que não sei o que, na conta de Andrea Neves. Como se o depoimento do cara endossasse isso. E ele não fala isso.

Andrea Neves – Como se agora tivesse uma coleção de contas lá fora e a minha é uma delas.

Reinaldo Azevedo – Eu vou ter de entrar nessa história porque já haviam me enchido o saco. Vou entrar evidentemente com o meu texto e não com o deles. Pergunto: essas questões que você levantou para mim, posso colocar como se fosse resposta do Aécio?

Andrea Neves – Nós mandamos agora para a Veja uma nota para botar nessa matéria.

Reinaldo Azevedo – Não quer mandar para mim também?

Andrea Neves – Mando.

A irmã do senador e Reinaldo Azevedo começam então a criticar a Lava Jato. Ela afirma que a Procuradoria-Geral da República separou investigações contra Aécio para que ele fosse considerado o campeão de inquéritos.

Andrea Neves – Você tem vários casos, todos juntados. Como eles queriam que o Aécio aparecessem como campeão de inquéritos…

Reinaldo Azevedo – Sim, esse era o objetivo.

Andrea Neves – […] É inacreditável, é uma covardia.

Reinaldo Azevedo – […] É incrível, a Odebrecht agora virou a grande selecionadora de quem sobrevive e morre na política. A Odebrecht nunca teve tanto poder. É asqueroso. Me manda esse levantamento, me interessa, sim.

O levantamento citado no diálogo é uma compilação dos inquéritos que, segundo Andrea Neves, mostraria que Janot adotou um critério de caixa dois para os citados e outros para Aécio.

No final do diálogo gravado, há ainda uma crítica a Janot.

Reinaldo Azevedo – A gente precisa ter elementos objetivos de um certo senhor mineiro aí, cuidando da candidatura dele ou à presidência ou ao governo do Estado.

Andrea Neves – Como assim?

Reinaldo Azevedo – O nosso procurador-geral.

Andrea Neves – Você está achando?

Reinaldo Azevedo – Ôxi.. fiquei sabendo que está tendo conversas. Eu só preciso ter gente que endosse isso de algum jeito. Ter um pouco mais de elementos concretos. Que ele está, está. Presidência talvez não, mas o governo de Minas, sim.

Andrea Neves cita, em tom de chacota, a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmen Lúcia. Ela é mineira.

Andrea Neves – Vai disputar com a Carminha (risos).

Reinaldo Azevedo – Ah, deve ser né. Sua prima (risos).

Em nota, o jornalista explicou sua demissão na Veja. Confira abaixo.

“Pela ordem:

Comecemos pelas consequências.

Pedi demissão da VEJA. Na verdade, temos um contrato, que está sendo rompido a meu pedido. E a direção da revista concordou.

1: não sou investigado;

2: a transcrição da conversa privada, entre jornalista e sua fonte, não guarda relação com o objeto da investigação;

3: tornar público esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas;

4: como Andrea e Aécio são minhas fontes, achei, num primeiro momento, que pudessem fazer isso; depois, pensei que seria de tal sorte absurdo que não aconteceria;

5: mas me ocorreu em seguida: “se estimulam que se grave ilegalmente o presidente, por que não fariam isso com um jornalista que é critico ao trabalho da patota.

6: em qualquer democracia do mundo, a divulgação da conversa de um jornalista com sua fonte seria considerado um escândalo. Por aqui, não.

7: tratem, senhores jornalistas, de só falar bem da Lava Jato, de incensar seus comandantes.

8: Andrea estava grampeada, eu não. A divulgação dessa conversa me tem como foco, não a ela;

9: Bem, o blog está fora da VEJA. Se conseguir hospedá-lo em algum outro lugar, vocês ficarão sabendo.

10: O que se tem aí caracteriza um estado policial. Uma garantia constitucional de um indivíduo está sendo agredida por algo que nada tem a ver com a investigação;

11: e também há uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos pilares do jornalismo”.