Decisão do Supremo Tribunal Federal valida dispositivo do Marco Legal das Garantias, gerando debates sobre direitos dos devedores e impacto no crédito
Em uma decisão que impacta diretamente o mercado de crédito e os direitos dos devedores, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou, por 10 votos a 1, dispositivos do Marco Legal das Garantias (Lei 14.711/2023) que permitem a bancos e credores apreenderem veículos de pessoas inadimplentes sem a necessidade de autorização judicial. O julgamento, finalizado em 1º de julho de 2025 no plenário virtual, confirma a constitucionalidade da execução extrajudicial em casos de alienação fiduciária, quando o veículo é dado como garantia de financiamento. A medida, que promete facilitar o acesso ao crédito, também levanta preocupações sobre os direitos dos consumidores e possíveis abusos por parte das instituições financeiras.
O que diz o Marco Legal das Garantias
Aprovado em 2023, o Marco Legal das Garantias reformulou as normas que regulamentam garantias de empréstimos no Brasil, com o objetivo de reduzir o risco de inadimplência e os custos associados ao crédito. Um dos pontos centrais da lei é a permissão para que credores solicitem diretamente a cartórios a busca e apreensão de bens móveis, como veículos, em caso de não pagamento, desde que o contrato preveja a alienação fiduciária. Esse trecho havia sido vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o veto foi derrubado pelo Congresso, levando a questionamentos no STF por entidades como a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e associações de oficiais de justiça, que apontaram possíveis violações ao direito de defesa.
O julgamento, conduzido sem debates públicos no plenário virtual, teve como relator o ministro Dias Toffoli, cujo voto prevaleceu. Toffoli defendeu que a execução extrajudicial é constitucional, desde que respeite direitos fundamentais, como a inviolabilidade do domicílio, a privacidade, o sigilo de dados e a proibição de violência durante o processo de apreensão. Ele destacou que os devedores podem recorrer à Justiça para contestar a retomada do bem, garantindo o direito de defesa. A ministra Cármen Lúcia foi a única a divergir, argumentando que a norma desrespeita garantias constitucionais básicas dos cidadãos.
Reações e implicações
A decisão do STF foi recebida com reações mistas. Instituições financeiras, representadas em publicações no X, celebraram a medida, afirmando que ela reduz custos operacionais e agiliza a recuperação de créditos, o que pode levar a juros mais baixos e maior oferta de financiamentos. Um post da conta @Metropoles, por exemplo, destacou que a decisão, aprovada por 10 a 1, reforça a constitucionalidade da retomada de bens dados como garantia. Já críticos, incluindo associações de juízes, alertam para o risco de abusos, como apreensões indevidas, especialmente em um contexto em que 29,9% das famílias brasileiras estavam inadimplentes em janeiro de 2023, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).
A medida também reacende o debate sobre o equilíbrio entre a proteção dos direitos dos consumidores e a eficiência do sistema financeiro. Em 2023, o STF já havia validado a retomada extrajudicial de imóveis em casos de inadimplência, por 8 votos a 2, reforçando a tendência de facilitar a execução de garantias. Especialistas apontam que, embora a decisão possa estimular o mercado de crédito, é essencial que os cartórios e credores sigam rigorosamente as exigências legais, como a notificação prévia do devedor e a garantia de que o processo não viole direitos constitucionais.
Impacto no cotidiano
Na prática, a decisão significa que, em contratos de financiamento de veículos com alienação fiduciária, o credor pode acionar um cartório para buscar e apreender o bem caso o pagamento esteja atrasado e o devedor não entregue o veículo voluntariamente. Essa possibilidade já existia para imóveis desde 1997, mas agora se estende aos bens móveis, como carros e motos, que representam uma parcela significativa dos financiamentos no Brasil. A medida pode reduzir a sobrecarga no Judiciário, mas também exige maior fiscalização para evitar abusos, como apontado em posts no X, que mencionam preocupações com a proteção dos devedores.
O senador Weverton (PDT-MA), relator do projeto no Senado em 2023, havia defendido que a execução extrajudicial não impede o acesso à Justiça em última instância, mas ajuda a desafogar o sistema judicial. Ele também propôs que os Departamentos de Trânsito (Detrans) sejam responsáveis pela execução extrajudicial de veículos, com possibilidade de uso de empresas privadas credenciadas.
O que vem pela frente
A decisão do STF estabelece um precedente importante, com repercussão geral, ou seja, servirá de orientação para casos semelhantes em instâncias inferiores. Para os consumidores, é fundamental conhecer os termos dos contratos de financiamento e buscar renegociação de dívidas antes que a situação chegue à apreensão do bem. A Serasa, em artigo de 2022, recomenda que inadimplentes negociem dívidas para evitar protestos em cartório, que podem complicar ainda mais o acesso a crédito. A decisão também reforça a importância de educação financeira em um país onde a inadimplência permanece elevada.
A validação do STF pode transformar o mercado de crédito, mas o desafio será garantir que os direitos dos devedores sejam respeitados em um processo mais ágil e menos judicializado. O debate, agora, se volta para a implementação prática da medida e seus efeitos no dia a dia dos brasileiros. Por Alan.Alex / Painel Político