Desde o trabalhismo de Getúlio Vargas, a partir de 1932, a sociedade brasileira escolheu ser social-democrata. Afinal, todos os países chiques são pelos menos um pouco disso, certo? Por que, então, haveríamos de não ser?
Fizemos a opção pelo welfare state (dito assim fica mais chique ainda) há 83 anos e jamais renunciamos a ele mesmo sabendo que nunca se viu um país pobre tornar-se rico por implantar um “Estado de bem-estar social”. Isso só pode acontecer (se é que pode) naqueles que se tornaram ricos com o capitalismo, conforme constatou, por primeiro, o ex-marxista alemão Eduard Bernstein. Mas há como recolher, desse modelo de Estado, condições para enriquecer um país pobre. Ao optar pelo Estado benevolente, ao qual todos recorrem em suas necessidades, garantidor de direitos reais e imaginários, provedor inesgotável, inclusive das mais insaciáveis demandas, o Brasil fez e faz, ao contrário, uma opção fundamental pela pobreza.
Jamais criamos ou nos ocupamos seriamente dos pré-requisitos do desenvolvimento: a) educação de qualidade para todos, habilitando a juventude brasileira à realização de suas potencialidades e inserção produtiva na vida social, política e econômica; b) estímulos ao mérito e às manifestações de talento em todas as dimensões do humano; c) saneamento básico e adequada atenção à saúde; d) geração da infraestrutura necessária às atividades produtivas; e) segurança jurídica e respeito ao direito de propriedade; f) rigorosa proteção constitucional do cidadão contra o Estado; g) contenção da máquina pública dentro dos limites da capacidade contributiva da sociedade; h) economia de mercado; e i) um modelo político racional que separe Estado, governo e administração.
Tendo optado pelo Estado provedor-empreendedor, inclusive durante os governos sob orientação militar, o Brasil olha para o horizonte eleitoral de 2018 movido pelas mesmas cismas que orientaram os partidos políticos e o eleitorado em todos os últimos pleitos: nenhum candidato do quadrante liberal-conservador, nenhum de centro, todos do centro-esquerda para a esquerda. A crise em que estamos será a pior conselheira para as eleições por vir. Não faltarão candidatos para receitar ainda mais do mesmo veneno a uma nação enferma. Pretenderão resolver a crise do Estado oferecendo ao eleitor mais e mais Estado. Trarão pás e escavadeiras para aprofundar o buraco.
*Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no País, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia, e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.