“A possibilidade de um “acordão” entre instituições e agentes políticos para salvar o mandato do ex-juiz Sergio Moro era especulação, mas, agora, virou fato”
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A possibilidade de um “acordão” entre instituições e agentes políticos para salvar o mandato do ex-juiz Sergio Moro era especulação, mas, agora, virou fato: houve, sim, um grande acordo para salvar a pele dele. E esse acordo é maior do que você pensa…
Há algumas semanas, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fez uma brincadeira com o ministro do STF Alexandre de Moraes, considerado inimigo pelo bolsonarismo. Foi durante cerimônia de comemoração dos cem anos do Tribunal de Contas de São Paulo. O clima era de confraternização.
Michel Temer, que indicou Moraes ao STF, aproximou governador e ministro do tribunal. Alguns dias depois, Tarcísio faria um “agrado” a Moraes escolhendo como novo procurador-geral de Justiça paulista Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, preferido do ministro do STF.
Foi por isso que Moro foi absolvido? não, não foi SÓ por isso. Os ministros do Supremo Kassio Nunes Marques e Gilmar Mendes proferiram terça-feira, 21, os votos decisivos no julgamento em que a 2ª Turma extinguiu a pena por corrupção passiva imposta ao ex-ministro José Dirceu na Lava Jato. Com isso, criaram uma situação de ganha-ganha.
Com essas três decisões, a direita ficou contente, a esquerda também ficou contente com a volta — agora muito provável — de Dirceu à política e o empresariado ficou contente. Um jogo de ganha-ganha, como eu disse.
E é óbvio que o jogo de ganha-ganha não para por aí. Porque Moro fez a sua parte. Em meio às investigações na Justiça Eleitoral e no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra si, buscou o ministro Gilmar Mendes, que lhe pespegou uma carraspana. Mendes lhe disse que o único mérito de Bolsonaro foi tirá-lo de Curitiba, e detonou a Lava Jato. Moro ouviu calado, calçado nas sandálias da “humildade” natural dos que encaram o patíbulo.
Ganham Moro, ganha o STF, todo mundo sai ganhando. Talvez nem tanto a Justiça, mas política e Justiça não costumam andar de mãos dadas. Isso se evidencia no fato de que concomitantemente à não-cassação de Moro, o ministro Dias Toffoli livrou Marcelo Odebrecht de condenações na Lava Jato, fazendo coom que todos os empreteiros envolvidos na Lava Jato saíssem ganhando também.
No meio do ganha-ganha, alguém tem que ficar com o perde-perde.
Mas há outro fator poderoso que pesou bastante para muitos ganharem. A cassação de Moro não era bem vista por… Lula. O presidente temia que Moro, absolvido pelo TSE, virasse ‘mártir’ da direita se fosse cassado. E de nada adiantaria porque, no Paraná, ganharia um bolsonarista que faria oposição mais ferrenha ao governo federal em um Senado que já é problemático. Provavelmente, ganharia Michelle Bolsonaro.
Ganham Moro e Lula. Um ganha o mandato de volta e o outro ganha um Senado menos radical.
Além disso, a salvação de Moro está longe de ser completa. Mesmo com a absolvição eleitoral dele, o relator do caso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Floriano de Azevedo Marques, deu alguns recados e indiretas durante a leitura de seu voto. Deixou em aberto a possibilidade de o Ministério Público se debruçar sobre indícios de crime de improbidade na campanha de Moro – tema que não cabe ao tipo de ação que estava sendo analisada na corte eleitoral.
Além disso, apesar de o presidente do STF estar tentando postergar o julgamento de Moro no Conselho Nacional de Justiça, esse julgamento pode abrir uma investigação criminal contra o ex-juiz e terá que ser marcado cedo ou tarde. Então, Moro está longe de poder comemorar.
Mas que houve acordão, houve. E foi muito claro e se deu entre inúmeros atores, num gigantesco jogo de ganha-ganha com alguns poucos perdedores. Entre estes, o processo eleitoral, que, após a passada de pano, vai virar um festival de abusos de poder econômico. Fonte: Brasil 247. Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania