Quarenta anos sem Mazzaropi, dono de personagem icônico do cinema brasileiro

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Ator e produtor, Amácio Mazzaropi morreu em em 13 de junho de 1981, de câncer na medula, anos 69 anos

Ator e produtor, Amácio Mazzaropi morreu em em 13 de junho de 1981, de câncer na medula, aos 69 anos

Mazzaropi não era só um “caipirão”, dono de um dos personagens mais icônicos do cinema brasileiro, na pele de um matuto ingênuo cheio de malícia. “Ele teve uma importância empresarial muito grande, conseguindo manter em suas mãos o tripé produção-distribuição-exibição”, registra o professor e crítico de cinema Celso Sabadin, diretor do documentário “Mazzaropi”.

A importância do ator e produtor paulista, nascido em 1912, é evidenciada no momento em que são lembrados os 40 anos de morte, ocorrida em 13 de junho de 1981, vítima de um câncer na medula óssea. “Mazzaropi resolveu um problema que até hoje não foi equacionado. Na época, ele criou um sistema de fiscalização nas bilheterias e uma distribuição própria”, assinala Sabadin.

O crítico lembra que, depois dele, somente José Padilha chegou mais próximo deste tipo de autonomia na cadeia do audiovisual. Com “Tropa de Elite 2”, ele contratou Marco Aurélio Marcondes para trabalhar a distribuição do filme a partir de uma sala da produtora, sem passar pelas majors. “Deixar  (o lançamento) para terceiros já está provado: não funciona. As multinacionais avançam ferozmente”.

O sucesso, claro, não estava apenas no tino de Amácio Mazzaropi para os negócios. “Ele era de um carisma muito grande. Uma figura muito engraçada. Foi a pessoa certa no momento certo, porque, naquele exato momento, no início da década de 50, o Brasil vivia um grande êxodo rural, com um grande público vindo do interior para tentar trabalhar na capital. E São Paulo vivia um desenvolvimento absurdo”.

Sabadin acredita que um “novo  Mazzaropi”, com os mesmos ingredientes de êxito, tanto fora ou dentro da telona, jamais se repetirá. “Não vai aparecer outro. Com esta conjugação de fatores, não tem como se repetir. Ele é único, um marco do nosso marco”, afirma o crítico, que lamenta o fato de boa parte dos filmes de Mazzaropi ter perdido a comunicação com o público.

O controle total que passou a ter da produção de seus trabalhos teve um lado negativo, sem conseguir ao nível de sofisticação dos filmes feitos na Vera Cruz. “Continuo achando esses longas muito legais, porque eles satirizam essa coisa horrorosa chamada elite paulistana, exibindo o preconceito, a hipocrisia e a superficialidade dela. E isso continua até hoje, formando a categoria mais reacionária do país”.

Já as produções realizadas a partir de 1958, quando o ator funda a PAM Filmes, com estúdios em Taubaté, no interior de São Paulo, “apesar do sucesso financeiro continuar, tinham um nível de roteiro muito ruim, principalmente na década de 70, quando Mazzaropi parecia estar em piloto automático”. Ao  todo, foram 32  filmes como ator. O último trabalho foi “O Jeca e a Égua Milagrosa”, lançado um ano antes de sua morte.

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Mazzaropi criou um estúdio em Taubaté, no interior de São Paulo, para fazer os seus filmes

Filme de ficção abordará momentos finais do comediante

A história de Amácio Mazzaropi deverá ganhar em breve a forma de um longa-metragem de ficção. O roteiro já foi escrito, assinado por Celso Sabadin e Di Moretti, e acompanhará os últimos anos do comediante, desde o dia que descobriu ser portador de câncer. “Não é por isso que o filme será baixo astral”, avisa Sabadin.

A realização do filme, que deverá ter o título “Saudade do Jeca”, concretiza um desejo de 20 anos atrás, quando  o produtor Moracy do Val deixou nas mãos de Sabadin a missão de escrever um roteiro de ficção sobre o caipira, tendo como inspiração a cinebiografia “Chaplin”, que aborda a trajetória do criador de Carlitos.

“Estava fazendo a assessoria de imprensa de um filme do Moracy, o ‘Menino da Porteira’, quando ele me revelou que queria produzir um longa sobre Mazzaropi e me pediu ajuda. Na hora, disse que toparia fazer a assessoria sem problemas, mas ele me queria no roteiro. Avisei que nunca tinha feito roteiro de ficção e o Moracy me respondeu: ‘Vai aprender agora!’”, diverte-se.

O projeto de ficção não foi para frente, após Sabadin explicar ao produtor que seria “muita areia para o caminhãozinho deles”, devido aos altos custos para fazer reprodução de época. Du Val aceitou a argumentação, já um pouco desanimado pelas baixas bilheterias de “O Menino da Porteira”. Sabadin não jogou a pesquisa fora e propôs um documentário, gênero que não era do gosto do produtor.

“Ficou esse impasse até eu perguntá-lo se podia pedir para outro produtor fazer”, lembra. O crítico conseguiu a parceria de Edu Felistoque, mas se viu sem um nome para a direção do projeto. Ele não viu outra alternativa do que assumir o posto. “Me deu aquele medão. Na sala de imprensa da Mostra de Tiradentes encontrei o produtor Cavi Borges, que, naquele jeitão dele, me disse para eu ficar tranquilo, pois dirigir se resumia a duas coisas: saber o que quer e montar uma boa equipe”, recorda. Por Paulo Henrique Silva / Hojeemdia