Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, escreve que “renúncia ou impeachment ainda não estão na pauta, mas de uma hora para outra pode entornar a gota d´água, como estamos vendo agora na rebelião popular no Chile”. “Para que o mesmo não se repita aqui, poderíamos pensar numa saída pacífica para o impasse, mas o capitão quer guerra contra tudo e contra todos, como já deixou bem claro”, diz ele
Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia – Está todo mundo tentando descobrir qual é a estratégia do Bolsonaro, mas provavelmente ele nem sabe o que é isso.
Pode ser também “arte militar de planificações de guerra”, algo em que nosso capitão-presidente talvez seja especialista, nunca se sabe.
Outro dia, num quartel da Marinha, no Rio, ele falou em combater “inimigos internos e externos”, sem dizer quem são.
Das reuniões familiares de domingo aos debates sobre altos estudos estratégicos na cúpula das Forças Armadas, só há uma certeza: do jeito que está não pode continuar, com o país se desintegrando a olhos vistos.
Eu mesmo não tenho a menor ideia do que pode ser feito para estancar a sangria a curto prazo.
Renúncia ou impeachment ainda não estão na pauta, mas de uma hora para outra pode entornar a gota d´água, como estamos vendo agora na rebelião popular no Chile, que colocou os militares novamente nas ruas, pela primeira vez desde a era Pinochet e já deixou uma dezena de mortos e centenas de presos e feridos.
No Chile, o estopim foi o aumento das passagens do metrô; no Equador, na semana anterior, foi a revolta contra os aumentos dos combustíveis que obrigou o presidente Lenin Moreno a se refugiar no interior do país.
Em ambos os países, não havia sinais de que isso pudesse acontecer, e não havia nenhuma estratégia da oposição para colocar o bloco na rua. Aconteceu, simplesmente.
Foi do Chile, onde deu aulas nos tempos de Pinochet, que Paulo Guedes importou o projeto neoliberal de previdência, uma das causas da revolta popular.
Para que o mesmo não se repita aqui, poderíamos pensar numa saída pacífica para o impasse, mas o capitão quer guerra contra tudo e contra todos, como já deixou bem claro.
A estratégia para uma solução sem mortos e feridos seria uma grande aliança da oposição democrática contra o bolsonarismo, o que não está no horizonte.
Enquanto o ex-presidente Lula assume um papel de pacificador em suas ultimas entrevistas, abrindo as portas do PT para quem quiser voltar ou entrar, e acenando para alianças com as forças democráticas, Ciro Gomes só pensa em destruir o PT.
“Ataques de Ciro ao PT são uma estratégia errada”, disse Camilo Santana, governador do Ceará, em entrevista ao Estadão publicada nesta segunda-feira.
Aliado de Ciro Gomes na política local, Camilo Santana é um dos jovens governadores nordestinos, todos da oposição a Bolsonaro, que procuram se unir para a formação de uma aliança de centro-esquerda, na mesma linha do que Lula está pensando.
“Acho que nenhuma candidatura se constituirá à esquerda, centro-esquerda, se não tiver o PT como aliado” diz Camilo Santana..
Esta é também a posição de Flávio Dino, do PCdoB, governador do Maranhão, e de Rui Costa, petista da Bahia, que estudam propostas para combater a desigualdade social com a retomada do crescimento da economia.
Nada disso parece preocupar o ex-capitão, já em campanha pela reeleição.
Depois de ser eleito na onda da “nova política”, ele entrou em conflito com seu próprio partido de aluguel, o PSL, e agora procura aliados na “velha política” do MDB, DEM e PSD, como a Folha relata hoje em reportagem de Talita Fernandes.
Com João Doria já em campanha pela sucessão, o PSDB procura se afastar cada vez mais do bolsonarismo e corre o risco de ficar isolado, nem governo nem oposição, no novo cenário que começa a se formar de olho nas próximas eleições.
O problema é que Doria não consegue unir nem o próprio partido, com uma ala piscando o olho para o apresentador-empresário Luciano Huck, sempre em busca de uma boa onda.
No governo e na oposição, estratégias eleitorais não faltam, mas o país continua se arrastando na depressão econômica e na balbúrdia política, sem que se veja a luz no fim do túnel.
É nesse clima que pode explodir o imponderável, como aconteceu no Chile e no Equador, para ficarmos só na vizinhança. Vida que segue.