União pode criar sétima maior bancada na Câmara e quarta no Senado, mas desafios internos e a cláusula de barreira seguem no radar
Uma movimentação política de peso está prestes a ganhar forma no Brasil. O PSDB e o Podemos, dois partidos com trajetórias distintas, mas desafios semelhantes, planejam anunciar, ainda em abril de 2025, uma fusão que pode reconfigurar o tabuleiro político nacional. Segundo informações confirmadas por dirigentes das legendas, os ajustes finais do acordo estão concluídos, e a oficialização deve marcar o início de uma nova fase de negociações para definir o estatuto, o programa partidário e até o nome do novo partido, provisoriamente chamado de PSDB+Podemos.
A fusão, que ainda depende de aprovação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), promete criar uma força política robusta. Juntos, os partidos podem formar a sétima maior bancada da Câmara dos Deputados, com 28 parlamentares, e a quarta maior no Senado, com 7 senadores, empatando com o União Brasil. Contudo, a possibilidade de deputados migrarem para outras siglas sem punição, como permite a Justiça Eleitoral em casos de fusão, coloca o número exato sob incerteza.
Um novo capítulo para o PSDB
Para o PSDB, a fusão com o Podemos surge como uma tentativa de estancar o declínio que assombra a sigla. Após dominar o cenário político brasileiro, com a Presidência da República e gestões históricas em estados como São Paulo, o partido enfrentou seu pior desempenho nas eleições de 2022.
Na ocasião, federado ao Cidadania, o PSDB elegeu a menor bancada de sua história na Câmara, ficou sem representação no Senado e, pela primeira vez desde 1989, não lançou candidato ao Planalto. A perda do governo de São Paulo, após quase três décadas, foi outro golpe duro.
A crise interna se intensificou no ano pré-eleitoral, com sinais de debandada. Dos três governadores eleitos pelo PSDB, Raquel Lyra (Pernambuco) já migrou para o PSD, enquanto Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) avaliam seus próximos passos. Segundo o blog da Ana Flor no g1, Leite já teria decidido se filiar ao PSD, embora não tenha feito um anúncio oficial. Riedel, por sua vez, segue em negociações com outras siglas, aguardando uma definição sobre o futuro tucano.
Estratégia contra a Cláusula de Barreira
O endurecimento da cláusula de barreira, que regula o acesso a recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda em rádio e TV, é uma ameaça existencial para partidos em declínio como o PSDB. Em 2026, os resultados das eleições de 2022 definirão a distribuição desses recursos, e a fusão com o Podemos garante ao novo partido um fundo partidário maior, além de fatias mais generosas do Fundo Eleitoral. A expectativa é que isso permita campanhas mais competitivas, aumentando as chances de superar a cláusula de barreira em 2027, quando será necessário obter 2,5% dos votos válidos para a Câmara em pelo menos 9 estados (com mínimo de 1,5% em cada) ou eleger 13 deputados distribuídos em 9 estados.
Desafios e expectativas
Embora os detalhes da fusão estejam “bem encaminhados”, como afirmam dirigentes, algumas pendências persistem. Uma comissão formada por líderes do PSDB e do Podemos discutirá questões como a unificação dos comandos nacionais e estaduais e a elaboração de um programa partidário conjunto. O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, prometeu entregar, até o fim de abril, um horizonte claro para o futuro da sigla, e o anúncio da fusão é um passo nessa direção.
A esperança de parte dos tucanos é que a união com o Podemos não apenas fortaleça a legenda, mas também convença figuras como Eduardo Leite a permanecer no partido. No entanto, há ceticismo: em uma recente reunião sobre a fusão, Leite teria evitado se comprometer com a permanência no ninho tucano, segundo relatos.
Um futuro incerto, mas promissor
A fusão entre PSDB e Podemos é mais do que uma manobra de sobrevivência; é uma tentativa de resgatar a relevância de uma sigla histórica e criar uma nova força no cenário político brasileiro. O sucesso do empreendimento, porém, dependerá da capacidade de superar divisões internas, atrair lideranças e mobilizar eleitores em um ambiente cada vez mais polarizado. Com a oficialização iminente, os olhos do Brasil político se voltam para o que pode ser um marco na reconfiguração das alianças partidárias. Por Alan.Alex / Painel Político