Prostitutas lutam por legalização profissional na Conferência de Aids

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Um grupo de prostitutas se tornou o centro das atenções na Conferência Internacional de Aids em Amsterdã, usando música e dança para lançar uma mensagem séria: "Também somos pessoas e temos direitos".

Um grupo de prostitutas se tornou nesta quinta-feira o centro das atenções na Conferência Internacional de Aids em Amsterdã, usando música e dança para lançar uma mensagem séria: “Também somos pessoas e temos direitos”.

As protagonistas de um espetáculo intitulado “Sex Worker’s Opera” (Ópera das Trabalhadoras Sexuais) se apresentaram em uma sala lotada no lugar onde acontece a reunião, interpretando canções cujas letras defendem que o “trabalho sexual é trabalho”, e que “não há putas más, apenas leis más”.

“No fim das contas todos somos seres humanos, e ninguém deveria nos julgar pelo que fazemos para ganhar a vida”, disse à AFP a artista Charlie Rose, trabalhadora sexual de 37 anos, procedente de Londres.

“Os direitos humanos determinam que é legítimo ganhar a vida e manter nossas famílias assim, e isso é exatamente o que faço”, acrescentou.

Em meio a aplausos, as artistas entraram no palco com meia-arrastão, lingerie e salto alto, cantando em uníssono: “Seja qual for o trabalho, é a sobrevivência que escolhemos”.

A despenalização, insistiram, é a única maneira de acabar com o estigma e proteger os direitos e a saúde das trabalhadoras sexuais.

“Ainda há tantos estigmas, o que torna mais difícil para as trabalhadoras do sexo ter acesso ao atendimento médico”, disse à AFP outra das artistas, também londrina, Siobhan Knox, de 31 anos.

“É muito difícil para as trabalhadoras do sexo adotar filhos, por exemplo, porque poderiam lhes tirar seus filhos, ou enfrentar a expulsão da universidade porque alguém descobre com o que trabalham”, acrescenta.

– “Pessoas normais” –

Nos países em que a prostituição é legal, como a Holanda, as trabalhadoras sexuais podem denunciar facilmente a violência à polícia “porque não temem (…) ser criminalizadas ou presas”, acrescentou.

“O que estamos dizendo é que talvez deveríamos revelar mais coisas (…) Devemos começar a ver as trabalhadoras sexuais como pessoas normais, como qualquer outra: mães, irmãs, filhas, amantes”, disse Knox.

Segundo os especialistas, as leis que criminalizam a prostituição na realidade contribuem com a propagação entre as trabalhadoras sexuais do HIV, o vírus da Aids, que ataca e destrói o sistema imunológico.

Segundo a Sociedade Internacional de Aids, as chamadas “populações-chave” – que incluem trabalhadoras sexuais, homens que praticam sexo com outros homens, pessoas transgênero e viciados em drogas por via intravenosa – representaram 44% das novas infecções por HIV registradas em 2016.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que as trabalhadoras sexuais têm 13,5% mais probabilidades de contrair o HIV que outras mulheres em idade reprodutiva.

A despenalização do trabalho sexual poderia reduzir em apenas 10 anos à quase a metade as novas infeções por HIV entre as trabalhadoras sexuais, segundo esta agência da ONU.

Mudar as leis para penalizar os clientes e não as provedoras de serviços sexuais, aparentemente para proteger as prostitutas, tampouco é uma solução, segundo os grupos de defesa desta profissão.

Uma pesquisa sobre o assunto, apresentada na conferência, mostrou que no Canadá e na França, esta abordagem, conhecida como “modelo nórdico”, não reduz a estigmatização nem a perseguição.

“Ainda assim são as trabalhadoras do sexo as que são presas com mais frequência ou controladas pela polícia, e pagam mais multas que os clientes”, disse a pesquisadora Helene Lebail, do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica) francês.

“Não importa se você criminaliza as trabalhadoras do sexo ou se penaliza seus clientes, o estigma ainda está presente ali”, acrescenta.  Por Mariëtte Le Roux,AFP