Respostas sobre alta nos preços são 37% das interações do presidente, que adota tática de tentar jogar a responsabilidade para governadores
A tônica de Bolsonaro nas respostas é tentar culpar os governadores e as medidas de distanciamento social adotadas por eles para reduzir o contágio pelo coronavírus – discurso que o presidente também leva constantemente para as conversas com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada.
O levantamento e os exemplos
Algumas reações presidenciais tratam de mais de um assunto ou incluem respostas e também ataques. Ao dividir o material em categorias, desdobramos as 68 respostas em 81 ações do mandatário do país nesse período. E 30 dessas ações, ou 37% do total, foram respostas a questionamentos sobre a inflação – sempre na tentativa de transferir a culpa para outras autoridades (principalmente os governadores). O mês com mais respostas sobre a inflação, até agora, foi agosto, com 13 interações.
Frases como “Quanto o seu governador cobra de ICMS?”; “Na refinaria, a gasolina está barata” e “Fique em casa, a economia a gente vê depois” formam a base do repertório de argumentos do presidente da República para lidar com a questão. Inexiste qualquer admissão de responsabilidade, tampouco o compromisso de que seu governo fará algo para reduzir a carestia. Veja exemplos:
Agressividade presidencial
O perfil presidencial preocupa-se em reagir rapidamente às cobranças, mas não faz nenhum esforço para ser simpático com os críticos. O tom das respostas varia entre desdém, ironia e grosseria. A um internauta que questionou, em agosto, o que “caga” quem deixa de comer feijão e passa a comer fuzil Bolsonaro retrucou: “Aquilo que você escreveu”. A outro que o provocou, em junho, sobre provar que é “incomível” o presidente respondeu: “Se você não consegue, eu respeito”.
As respostas do chefe do Executivo federal, que é seguido por 14 milhões de internautas no Facebook, viralizam instantaneamente, e o destinatário da mensagem costuma virar alvo de ataques dos aliados de Bolsonaro. Muitos internautas acabam apagando suas contas para escapar da perseguição, e outros deletam a postagem que haviam feito na tentativa de fazer cessar as investidas dos apoiadores do titular do Planalto. Em ao menos três casos, porém, o perfil do presidente fez um “print” da publicação apagada por um usuário e voltou a postar na rede, expondo mais uma vez a pessoa.
No exemplo mais extremo de bullying presidencial, o perfil de Bolsonaro respondeu a uma postagem de internauta que criticava eventos superlotados, em maio deste ano, com uma foto de aglomeração da própria usuária, buscada no perfil dela. Veja uma série de bate-bocas do chefe do Executivo federal com algumas pessoas no Facebook:
Outros alvos: adversários e imprensa
No material coletado pela reportagem nas interações de Bolsonaro no Facebook, há críticas genéricas aos governadores, bem como palavras mais diretas a adversários políticos, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid-19 no Senado. Os ataques à imprensa também estão presentes. Veja investidas do presidente contra os seus alvos favoritos:
Pandemia não é prioridade
Apesar de boa parte de seus posts no Facebook serem a respeito de ações do governo de combate ao coronavírus, Bolsonaro não se preocupa muito em responder críticas relativas à pandemia. De todos as respostas colhidas pela reportagem no período, apenas quatro tinham a Covid-19 como tema. Veja todas elas: