Apesar de polícia americana reforçar a importância da exposição de Roberto Wagner Fernandes, para que mais vítimas possam reconhecê-lo, assassino morreu antes do início da ‘era digital’

Há complicação em obter dados, inclusive, do processo daquele que pode ter sido o primeiro dos crimes do potencial serial killer: o assassinato da esposa, Danyelle Amaral Bouças Fernandes, em novembro de 1996 – o qual, segundo investigadores da Flórida, o piloto foi absolvido ao alegar “legítima defesa”. Num raro documento, como já antecipado pelo GLOBO, é possível ter acesso às alegações do advogado em uma das apelações. Mesmo Roberto tendo admitido ter dado os dois tiros fatais na mulher, ele alega que ela estava agressiva, embriagada, sob efeito de remédios e que não havia testemunhas no quarto no momento do crime que colocassem em xeque a versão apresentada pelo piloto – princípio de in dubio pro reo.
Além disso, a polícia do condado de Broward afirma que, em 2003, pouco depois de voltar ao Brasil, o paranaense ainda passou a responder por “várias” acusações de agressões a mulheres, sendo uma por estupro, mas o documento ou detalhes dele também não foram fornecidos. Num único registro encontrado sobre ele bases de dados públicas dos EUA, seu endereço aparece registrado como sendo no Southeast Financial Center, um centro comercial no coração de Miami, onde há apenas escritórios.

Filha prefere não comentar
Sobre Danyelle, morta há mais de 25 anos, os registros são ainda mais raros. Um deles é sobre sua exoneração em Diário Oficial do cargo de professora de educação básica do município de Londrina, um mês após ter sido assassinada. Numa pesquisa mais aprofundada, é possível encontrar uma foto de sua lápide, no Cemitério São Pedro – o mesmo onde seu algoz foi enterrado. A inscrição leva o sobrenome Fernandes.

Cronologia de um assassino
18 de novembro de 1996
Roberto Wagner Fernandes mata a mulher, a professora Danyelle Bouças Fernandes, de 27 anos, com dois tiros, no apartamento de ambos em Londrina (PR). É absolvido por legítima defesa.
28 de novembro de 1996
A prostituta que foi o pivô da discussão do casal conta à polícia que telefonou para a casa de Fernandes e Danyelle. Ela conta que em um encontro, Fernandes a espancou e tentou afogá-la.
1996 a 1999
Fernandes realiza viagens para os EUA e em seguida começa a trabalhar em Miami como motorista de turismo e comissário de bordo.
Junho de 2000
Kimberly Dietz-Livesey, de 35 anos, é encontrada em uma mala em Cooper City, na Flórida. Ela foi espancada até a morte.
Agosto de 2000
Sia Demas, de 21 anos, é encontrada morta em uma mochila em Dania Beach. Demas também foi espancada.
30 de agosto de 2001
Jessica Good, de 24 anos, é achada na Baía de Biscayne, morta a facadas.
1º de setembro de 2001
Roberto foge para o Brasil. Na noite em que foi morta, Jessica Good contou a um companheiro que iria se encontrar com um “homem branco hispânico”.
2003
Fernandes passa a responder por estupro e outros casos de agressão contra mulheres no Brasil.
13 de dezembro de 2005
Fernandes morre na queda de um avião que pilotava no Paraguai, perto da fronteira com a Argentina.
2011
Após consulta ao banco de dados brasileiro, os investigadores americanos encontram uma combinação entre o DNA colhido de Roberto Wagner no assassinato da esposa, e a amostra colhida nas vítimas de Miami.
2020 e início de 2021
O corpo de Fernandes é exumado e o DNA combina com o de amostras colhidas com as três mulheres mortas na Flórida.
30 de agosto de 2021
Policiais de Broward, na Flórida, anunciam o fim das investigações das mortes de três jovens mas alertam que Roberto pode ter assassinado outras pessoas. Fonte: Arthur Leal / O Globo