Português do Dia a Dia (30 de junho/2013)

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A Língua Portuguesa é rica em formar palavras. Substantivos compostos, formados por elementos diversos, são muitos. Bem-estar, pé-de-moleque, caneta-tinteiro, sempre-viva, leva-e-traz (mexerico), maria-vai-com-as-outras etc. E há uma série de substantivos compostos formados por dois substantivos em que o segundo elemento caracteriza o primeiro (navio-escola) cuja grafia exige a presença do hífen (não é travessão!); mas nem sempre o hífen é usado. Também não se pode usar hífen com espaço entre os dois vocábulos (casa – modelo). Casa-modelo (tudo juntinho), da mesma forma que se grafa um adjetivo composto com hífen (bem-vindo, pré-fabricado) etc. Se o leitor for acostumado a não usar o hífen ou deixar “espaço” entre os dois termos, e aceitar o conselho aqui dado, daqui para a frente, sua escrita vai ficar mais bonita e coerente. Se você achou estranha a grafia “maria-vai-com-as-outras”, não se trata de grafar o sintagma “Maria vai com as outras”, uma frase normal: Maria, o sujeito, está seguindo com suas companheiras. Na outra grafia, temos um substantivo composto que designa uma pessoa insegura, que não tem pode de decisão; apenas segue, talvez “cegamente”, o que outros indiquem. Trata-se de substantivo composto do tipo “os leva-e-traz”, “as marias-sem-cabeça”, “os indivíduos-sem-poder-de-decisão”.

Vamos a uma lista (não necessariamente em ordem alfabética), com a advertência de que nem todos os termos estão no dicionário, mas são corretos e podem ser usados. O leitor também deve ter a coragem de criar seus “exemplos” e usá-los com segurança. Não se atrapalhe se alguém disser que não achou “sua descoberta” no léxico. Argumente seu ponto de vista e defenda seu neologismo. Vá em frente!

Navio-tanque, navio-escola, carro-pipa, sala-ambiente, custo-benefício, homem-bomba, bomba-relógio, meio-ambiente (sim, apesar de aparecer constantemente sem o hífen; e pode ser grafado com as iniciais maiúsculas – Meio-Ambiente), carro-ambulância, licença-maternidade, conta-salário, cidade-polo, fundação-casa (ou Fundação-Casa – que seria a antiga FEBEM), homem-morcego (por influência do Inglês “bat-man” – morcego-homem, em tradução literal), mulher-melancia (modelito da televisão; ah! se meu pai estivesse vivo para comparar que a melancia de sua época, que ele plantava, era chamada de “melancia de arroba”, porque seu tamanho médio girava em torno de quinze quilos; arre égua!); futebol-arte, professor-bronca, loja-modelo, mulher-morango, mulher-jaca, garota-mangaba, garoto-propaganda, homem-borracha, abacate-manteiga, mestre-cuca, banho-maria, ideia-padrão, (o) Bolsa-Família, (o) Bolsa-Escola, pasta-base, empresa-consultoria, funcionário-fantasma, visita-relâmpago etc. E outros, muitos outros.

É de bom alvitre lembrar que a pluralização desses termos deve ser a que flexiona apenas o primeiro elemento (ideal que seja essa forma): os navios-escola, as pastas-base, os mestre-cuca, as lojas-modelo. Entretanto, não se pode renegar o plural de ambos os termos (os abacates-manteigas), mas não seria essa a forma ideal, embora exista na prática cotidiana e na teoria gramatical.

O verbo chegar tem regência intransitiva – Ele chegou cedo do trabalho. No caso de se indicar o lugar a que se chega, não deve ser usada a preposição “em”, porque não se chega “num” lugar, mas a um lugar. Chegou cedo ao clube. Chegou à roça e encontrou tudo revirado. Nas reportagens sobre a Copa das Confederações – o Brasil seria o campeão?,“chegar” foi machucado – “A Seleção (Brasileira) já está em BH”, disse o repórter, “onde chegou ontem”. Que pena!Onde chegou? Se se chega a um lugar, deve-se chegar “aonde” – Foi à cidade, aonde chegou cedo, e havia greve geral. Seria muito comum pessoas usarem “Quando chega nesta época do ano” (o São João, por exemplo), em que é duvidoso o uso desse verbo – quem chega, e aonde (se) chega?É bom que se use: “Quando se chega a esta época do ano”, alguém chega. “Quando chega esta época do ano”, a própria época “chega”, vem. “Quando chega nesta época” – poderia ser a criançada barulhenta?

Para terminar, que expressão seria melhor “Limpeza de pele profunda” ou “Limpeza profunda de pele”?

Um abraço.

 

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