Português do Dia a Dia (27 de janeiro/2013)

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A primeira parte da coluna de hoje é dirigida a ilustre amigo, não tão desconhecido, que escreveu, sem perceber talvez, “receiosos”, grafia que requer uma justificativa. Ninguém está isento de um lapso; pode ser, entretanto, que o preclaro companheiro não conheça a regra da eufonia – o bom som que deve haver entre o primitivo e o derivado. Verbos terminados em “ear”, na forma rizotônica, aliás, no plural – rizotônicas, recebem um “i” eufônico para que sua pronúncia agrade aos nossos sensíveis ouvidos, que já estão fartos de horríveis decibéis na nossa lide diária nas cidades de todos nós. Recorde-se: eu nomeio, tu nomeias, ele nomeia (…), eles nomeiam – formas rizotônicas. As arrizotônicas, cujas sílabas tônicas estão na desinência verbal e não no radical, são: nós nomeamos, vós nomeais. Por que esse “i” eufônico? Parece simples: para que a palavra tenha um som agradável, como adaptação fônica ou fonética “determinada” pela Fonologia. Observe que ninguém diz, salvo algumas exceções extremas, “nós nomeiamos” nem “eu nomeo”. Compare com outros verbos que tenham a mesma terminação (não existe verbo terminado em “eiar”, seria de bom alvitre frisar): rechear – eu recheio, mas nós recheamos, portanto, bolo recheado – se nos pusermos a citar formas diversas da mesma palavra, a que se chama família de palavras, ou palavras cognatas. Recear – receio, receoso. Estrear – ele estreia, nós estreamos; portanto, Ele estreou idade nova (ao nos referirmos ao aniversário de alguém). Tinha estreado com sucesso. Claro, nunca diga – Tinha estreiado. Assim fosse, você escreveria e falaria “O prefeito tinha nomeiado seu secretariado”. Pentear – penteio, penteamos, penteado. Para fechar a comparação – variar, vario, variado; copiar, copio, copiado. Não existe, portanto, “copeio”, como querem alguns, mas existe, porque é derivado de verbo terminado em ear, grampeia, grampeie, mas grampeado, e não grampiado. Misturei um pouco, mas dá para entender. Um abraço ao meu amigo, e que não fique receoso com o confrade aqui. Fique recheado de boas ideias.

A sequência se divide em dois pequenos parágrafos, porque quero ser breve, já que tomei mais tempo na minha “indiscreta” introdução: Alguns antropônimos têm grafia de todo modo, o que nos preocupa – assim, perde-se a tradição bonita que existe em nomes próprios de pessoas – o aspecto semântico, a origem, a grafia, a pronúncia, de tal modo que representa a sonoridade de um nome pomposo ou conhecido falado em público, não aquele que oferece dificuldade dupla, que pode até nos levar ao ridículo e finalmente não se saber a escrita nem a pronúncia nem o seu significado, três ícones sagrados que deve um nome ter, ademais o próprio. Estão aparecendo grafias que arrepiam os cabelos dos estudiosos – Lourena no lugar de Lorena. Se o leitor concorda, minha visão é a de que alguns brasileiros acham o nome bonito ou influente, até que vai trazer felicidade e fama a seu dono, pela “sonoridade”, mesmo aquela inventada por alguém moderno, que é o responsável pelo registro do pimpolho, que odeia nomes antigos. O de sua avó, o de sua tia, o de seu vizinho – Anphilóphio de tal (não se conhece mais nem Anfilófio!). E tascam lá – Máicon, que, comparado com a origem inglesa, alguém duvida que seja o mesmo nome “Michael”, um Miguel da vida! Aí, fica mais autêntico se falar – “Dona Ogusta, seu Migué taí?” E mais difícil é entender por que alteram tanto uma grafia – aparecem Geni, Geny, Genir, Genyr; e pode ser para o masculino e para o feminino; aparecem Valcenir, Valdenir, Valdemir, Valdemyr. Seriam todos derivados de “Waldemar”?

A outra curiosidade com relação aos nomes próprios de pessoas (os antropônimos; nomes de lugares são topônimos – o lembrete é bom) são a mesma grafia para o masculino e o feminino: Valdecir se casou com Valdecir (o homem com a mulher, ou vice-versa) – já vi essa curiosidade numa gincana estudantil na mineira Nanuque, onde morei; seu Bianor, dona Bianor; seu Eurípedes, dona Eurípedes; seu Juraci e dona Juraci (ou Juracy – para fichar chique). Seu Claudionor; algumas “donas Claudionoras”, como dona Elianora. Com “o” forte – E-li-a- nô-ra. Com todo respeito, dona Canô foi registrada Claudionor… É que naquela época não havia qualquer preconceito com nome assim tão bonito e enfático. Seu Gustavo, seu Guilherme, seu Guilhermino.

Um abraço a você que leu e compreendeu.

 

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