Português do Dia a Dia (21 de outubro/2015)

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Parece que não “tem” jeito. O uso de prefixos, como os conhecidos ‘super, semi, anti, mini’, tem causado muita dúvida. A regra, que está bem explicada na Gramática Normativa, existe; está bem explicitada na Reforma Ortográfica, e quanto ao professor, que a disseca perante seus pimpolhos, falando e/ou escrevendo, não é tão incompreensível assim, como alguns dizem.
Certo é que no texto jornalístico, por exemplo, vem com uma grafia, mas no comércio, de modo geral, como nas propagandas, deixa a desejar. No texto propagandístico, vem sempre separado do elemento principal. E se pergunta – o prefixo pode ficar ‘solto’ no texto, como se fosse um termo independente? Não. O prefixo é um elemento que tem vida somente ao lado do seu elemento maior – para formar verbos, adjetivos e substantivos, principalmente. A propósito, a fala “Ele super me atendeu bem” não cola – é invenção de quem quer ‘falar’ mais bonito. Esse tipo de construção frasal não é bonita nem se torna uma liberdade poética; poderia dar mais ênfase ao texto, mas tem uma construção enviesada – parece anacoluto –, linguagem solta, que não se coaduna com o restante do enunciado. “Ele me atendeu superbem” parece mais adequada, mas não se trata de uma maneira comum entre os inventores de falas modernas. E se você dissesse “Ele me superatendeu bem” valeria, já que você mantém as mesmas palavras, só que em outra montagem? Ainda parece que não. Aliás, o uso do prefixo ‘super’ nesse tipo frasal nem seria aconselhável. Basta que haja o advérbio ‘bem’ para caracterizar o atendimento; ou, então, bastaria que se usasse ‘super’ conectado ao substantivo da mesma família do verbo indicativo da ação. Se o usuário adotou ‘atender’ como verbo básico, poderá ou poderia usar ‘atendimento’, que, justaposto ao prefixo, dará um termo bem expressivo – “Ele me ofereceu um superatendimento”, o suficiente para qualificar a linguagem e o modo de atender.
Para que o leitor entenda melhor essa explicação, seria necessário este esclarecimento – o prefixo não pode ficar em qualquer lugar no contexto frasal. Não se trata de um adjetivo, que pode ser usado antes ou depois do substantivo, como as expressões conhecidas, embora cada uma possa apresentar aspecto semântico diferente da outra. Uma mulher boa, uma boa mulher; um carro de luxo, um luxuoso carro. Não seria ideal se dizer “um carro súper” (estando isolado, o prefixo, conforme sua pronúncia, deve ser acentuado graficamente), e sim – um supercarro. Só que, nesse momento, a maioria quer usar o prefixo separado do substantivo. Está aí o principal problema.
Assim, veem-se no comércio vários exemplos como estes – super liquidação, super promoção, mini tapete, semi novo etc. Não existe essa opção de grafia – ou está diretamente ligado ao termo principal, ou o prefixo fica justaposto através do hífen. Então, teríamos duas grafias para escolher uma? Também, não. Corrijamos os exemplos dados – superliquidação, superpromoção, minitapete, seminovo etc. O problema é que se pensa que, juntando os dois termos, o vocábulo perderia seu significado (o aspecto semântico seria outro). Isso não é verdade. Da mesma forma que se escreve ‘supermercado’, deve-se escrever superpromoção, superliquidação, megapromoção. Seguindo esse padrão, praticamente todos os prefixos ficam juntos aos substantivos sem o uso do hífen. Como há as exceções, vamos ter “super-herói, anti-inflamatório, micro-ondas, e outras grafias não tão populares (é verdade) – minirrodo, antirrábico, semi-ilustrativo, super-radical. Também é ideal que se diga isto: em produtos cosméticos, o uso de prefixos fica duvidoso. Não se pode usar anti-volume, anti-efeito, ou simples um lá e outro cá (anti volume, anti efeito), mas tudo junto: antivolume, antiefeito etc. Parece que não há essa consciência na linguagem usada em certos produtos, como até em bulas de diversos remédios.
De forma semelhante, mesmo não havendo prefixo, mas dois vocábulos – videogame, videocassete, videolocadora – eles devem ficar juntos; no mínimo, interligados com hífen; nunca soltos. Mas não escreva ‘vídeo-locadora’ ou ‘vídeo locadora’; apenas, videolocadora, que poderia parecer estranho. Tudo junto sem hífen é que é a forma gráfico-ortográfica correta.
Para diversificar e terminar o comentário de hoje, saiu em jornais que o nosso técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Dunga, disse isto – “Nem sempre quando se perde as coisas são todas ruins” (sic), comentando a derrota do Brasil para o Chile, nas Eliminatórias para a próxima Copa do Mundo. O texto está lá sem vírgula, que caberia ao intérprete colocar conforme a entonação do entrevistado. Sim, é obrigatória, pelo menos, uma vírgula – Nem sempre quando se perde, as coisas são todas ruins. Ou duas – Nem sempre, quando se perde, as coisas são todas ruins. Fiquemos com a primeira opção, que parece mais plausível. O final seria: Dunga não iria dizer ao repórter: cabe uma vírgula no que eu disse, apontando o local certo. Ou iria?
O colunista pode não estar certo, mas é certamente um articulador de ideias, e isso é importante para expor um conceito, com o qual ninguém é obrigado a concordar.
Um abraço.