Será que brasileiros conhecem a origem de seu nome? Parece que não se pode negar nem afirmar esse princípio lógico. Se alguns conhecem, outros não respeitam a grafia de seus nomes.
Pela Gramática Normativa, temos o VOLP – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, palavras que estão registradas nos dicionários, com sua origem (etimologia), grafia, significado e pronúncia, não necessariamente nessa ordem.
Fazendo parte do VOLP, temos o Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa, relação em que se incluem os nomes próprios de pessoas, palavras chamadas “antropônimos” – “antropo”, homem; “onimo”, nome. Há os masculinos e os femininos.
Seguida essa relação com rigor e atenção, não haveria tanta grafia errada em nomes próprios brasileiros.
E por que acontecem os erros? Porque há brasileiros que brincam com nomes próprios, prejudicando a vida escolar e profissional de pessoas com nomes estranhos – são motivo de chacota, ou de dificuldade para leitura e escrita, podendo levar a erros, que só seriam resolvidos na Justiça (um nome errado não daria direitos a benefícios no INPS – errado em relação a uma primeira escrita, porque pode aparecer mais de uma grafia referindo-se a mesma pessoa).
“Diana”, nome grego para a deusa da caça, tem essa grafia em muitos idiomas, como em Português. Em Inglês, passa a ter a pronúncia de “daiana”, que se popularizou a partir do momento em que a mídia divulgou a vida da Princesa da Inglaterra, a Lady Di (“Dai”). Pegaram esse nome e o foram modificando ao extremo, até surgirem grafias exóticas: Dayane, Dayanne, Daiane, Daiany, Daianni, e outros. Mayara, nome muito bonito, foi substituído por outros em que se troca apenas a consoante inicial – Nayara, e toda letra possível desde que tivesse uma “bonita” pronúncia – Dayara. Outros fizeram uma redução do nome: Mayra, que seria “Máira” para uns, e “Maíra” para outros. Ou exatamente como “pronunciados” foram grafados.
O espaço para se escrever tudo sobre esses casos seriam o de um livro de suas cem páginas. Não se precisa falar em nomes masculinos, como o caso de “Michael”, que gerou mais de uma dúzia de grafias em Português.
Essa atitude não é boa, porque prejudica a pessoa; ainda criança é inocente e percebe pouco as agressões; alguns não gostam de escrever o nome “todo” porque uma parte seria motivo de galhofa. Quando adulto, alega que o nome é diferente, e isso seria o suficiente. Mas e outros aspectos? Um nome precisa ter: grafia (ou escrita) clara, boa pronúncia e significado correto, de acordo com a etimologia da palavra, o que não se vai discutir aqui por questão de espaço. A Internet já traz hoje definições de nomes próprios, que ajudariam muito as pessoas desavisadas, antes de colocar nomes estranhos em seus pimpolhos.
Existe uma expressão em Inglês curiosa e típica para ser modificada: “deadline”, que seria “a time or date by which something must be finished” – um tempo ou uma data para que certa coisa possa ser concluída. Example: The deadline for the Project is tomorrow. Mas – e a pronúncia desse nome? Baseado em que modificam tudo, e não seguem a tradição de um nome ter “grafia, pronúncia e significado”, poderiam arranjar a grafia “Dedilaine”, tornando um bonito nome para ser colocado numa menina. Parece que vale para alguns a sonoridade. Soou bem, o nome é válido. Não soou, e se parece com aquele da vovó – “coisa antiga” – , jamais será usado.
Pense no caso da raça bovina chamada Girolândia, nome criado a partir de “Gir” e “Holanda”. Parece bonito; apenas é uma permissão linguística – a aglutinação – para ser criado um termo. Para as pessoas não se pode criar nome de forma aleatória. Imagine a grafia “Aicelândia”. Também seria bonito. Você colocaria em sua filha? Esse nome seria a grafia baseada na fonologia da expressão “ice land”, ou terra de gelo, em Inglês.
O nome próprio feminino “Maitena”, usado na Argentina, seria mais um para o povo usar e abusar no Brasil? Sim. Troque o eme por uma consoante que seria agradável, audível, daí para a frente existiriam mais de dez grafias.
Se não querem usar mais Maria ou Madalena, ou Maria Madalena, que seja natural, mas alterar a grafia de um nome desconhecido, cuja pronúncia e significado são desconhecidos, só para dizer que o nome de fulano é diferente, ou moderno, é um crime. Só os cartórios de registro de pessoas para combater esse abuso; e há a lei própria. Resta saber se está sendo respeitada. Basta o caso em que “Mílton” se tornou “Millôr”, como já se sabe, se não for o caso de “Maria Só”.
Em Francês, há o nome próprio feminino “Etienne”, muito conhecido; foi aportuguesado para “Etiene”. Correto até aí. Por outro lado, foram modificando “Hélia Helena” a tal modo, que virou “Eliene”, que se tornou “Eliane, Eliana”, e tantos outros. Essa grafia está normal e nada há que a desabone. Mas outros são de doer.
Países há, como o Irâ, em que o nome Ali é uma tradição. Aqui, não se respeita nem “Antônio”, da grafia portuguesa “António”, que se tornou uma dúzia de outras grafias. A grafia “Horeane”; o que seria? Não se sabe. “Hora e Ane” deram essa grafia? Isso tem sentido? Como se explica “Sorya” – um “sorria” diferente, que fica bonito falar “sória”? Syane, Ciane, Cyrela? O nome “Welvíston” comprova, para este professor, a teoria para alguns de que vale a fonologia, ou a sonoridade: o que soar mais bonito, esse será o nome…
Nada contra as pessoas, mas a atitude de ser “criado” o nome pela sonoridade deve ser revista. Perdemos um pouco a nossa identidade com essas mudanças. Quem é “Letisgo”? Ninguém respondia. Mas no final apareceu a mãe do menino dizendo “Meu filho não se chama ‘Letisgo’; ele é “Let’s go” (Vamo-nos agora, ou simplesmente Vamos), em Inglês. Pronúncia aproximada: “lé-ris-gô” em Inglês clássico; em Inglês alterado aqui no Brasil, “letisgô”.
Um abraço. Hoje, não há pegadinha, nem resposta anterior, por questão de espaço.
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Divulgação dos livros de João Carlos