Ária e área são dois vocábulos parecidos. O primeiro se refere à música; o segundo, tão conhecido no contexto popular, indica a superfície de um terreno, de um poliedro ou o setor de atuação de um profissional, entre outros sentidos. A pronúncia é muito próxima, mas a grafia fica claro que não, e o significado é longe um do outro.
Intender e entender. A grafia do primeiro verbo está errada? Entender, que conhecemos e usamos muito, é compreender, depreender; intender, pouco usado, que parece estar com a grafia errada, é o mesmo que superintender, isto é, atuar como um superintendente em um órgão oficial. Antes, o prefeito foi chamado de superintendente.
Certos termos não precisam de hífen, mesmo que o tenham usado antes, nem podem ser escritos separados. Anote uma pequena relação – subproduto, subdelegado, subdelegacia, antissemítico, antimofo, antiderrapante; superpromoção, superlegal, superluxuoso. Subterfúgio, anticárie e supermercado servem de modelo para muitos casos, como superpromoção, subproduto e superlegal.
No momento em que se fala muito sobre doenças causadas por mosquitos diversos, como microcefalia e dengue, aparece o termo zica, também grafado zika. Qual seria a grafia ideal ou correta? Como não é um termo conhecido de todos, como não foi ainda indicado, em obras específicas, por dicionaristas, lexicólogos e etimologistas, é preferível um padrão – nesse caso, no meu parco conhecimento e tendo aprendido nesse curto espaço de tempo, opto por grafar ‘zica’, mesmo que o termo seja um derivado da sigla ‘zika’; ainda se tem a obrigação do uso do hífen – zica-vírus. A outra parte, se a origem é inglesa ou não, se o termo surgiu na África no ano de 1947 etc. é secundária; a dupla grafia é desaconselhável. Melhor usar apenas um modelo – zica-vírus.
No momento em que alguém quer expressar ironia, surge a necessidade de ser usada uma interjeição capaz de representar esse sentimento psicológico. O que se sabe é que a grafia ‘criada’ não pode ser a mesma de um termo já existente. O espanto, por exemplo, não pode ser grafado com o mesmo ‘há’ do verbo haver. Nesse caso, “Há… tá…” não faz sentido. Como se trata de uma interjeição, o mínimo que se tem de usar é “Ah! Tá…”, e deixar que o outro entenda nosso falar lacônico.
Se você criar um termo composto, os elementos não podem ficar soltos. Assim como já usamos caneta-tinteiro, banana-maçã, navio-escola – em que o segundo elemento qualifica o primeiro –, devemos usar obrigatoriamente o hífen em termos como bolsa-família, Extremo-Sul, Centro-Oeste, efeito-estufa, força-tarefa, homem-bomba, meio-ambiente. Se houver pecado, o erro por excesso é melhor que o erro por falta. Pense assim. Melhor que você escrever ‘misturado’ – no mesmo texto, aparecem as grafias “homem-bomba” e “homem bomba” (como se vê, com hífen e sem hífen). Ou erre as duas ou acerte as duas grafias.
Numa locução verbal, o último verbo não pode ser flexionado – Você precisa ver, você deve chegar, deve estar aqui amanhã. Esses exemplos bastam para exemplificar o comentário. Imagine que você fique em dúvida – precisar ver ou precisa vê? Deve estar ou deve está? Não está correta a forma em que o segundo verbo vem flexionado – apenas isso. Quer ver uma coisa? Troque ver por enxergar. Se você acha que o certo é Você precisa vê, seria correto usar “Você precisa enxerga”? No mesmo padrão, se você acha certo “Deve está aqui amanhã”, troque ‘estar’ por ‘chegar’. Agora escreva – Você deve chega aqui amanhã. Teria sentido?
Fernando Pessoa, o lusitano conhecido em todo o mundo, escreveu seus poemas personalíssimos – aliás, o estilo pessoense já é único. Nesse caso, precisamos apenas procurar entender e respeitar. Em uma de suas poesias, que trata da História de Portugal, ele escreveu “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, salvo engano. O problema é que agora muitos ‘escritores’ estão usando “vale à pena”, com crase, como está. O que vale a pena? O que é valer a pena? É preciso ficar mais claro – “Tal coisa (isso, aquilo) vale a pena”. Vale o sacrifício, vale o esforço, vale o empenho. Fica visível, portanto, que o uso da crase é indevido. Vale a pena. Vale a pena trabalhar, vale a pena o sacrifício do trabalho!
Para terminar por hoje, a expressão inglesa “Pet shop”, como no plural (Pet shops), ganhou o mundo. Todos sabemos que, numa tradução livre, pet shop é a loja do cão. Que seja do cãozinho, numa linguagem afetiva. Assim como eles usam ‘kid’ para indicar criança, ‘pet’ pegou como ‘cão’, e todos os seus sinônimos. Mas se for usado separado, pet tem plural. Não se pode usar em Português, como fez a propaganda de uma loja que cuida de cães, “Os pet”, para dizer os cães. Temos que usar “Os pets” e dar o sentido que queremos. Kid, kids; pet, pets.
Esperemos que o ano vindouro seja de grandiosas realizações imateriais; que a ‘cerveroíce’ reinante em muitos órgãos estatais seja extirpada; que muitos de nós, como eu mesmo, aprendamos a medir e a ter o PIB da felicidade, e não o financeiro, tão decantado nos meios sociais e midiáticos; que o voto deixe de ser obrigatório; que o trabalho seja uma meta de vida e de sobrevivência; que, finalmente, todos realizem seus objetivos e sejam felizes. Supimpa 2016! Um abraço.