Português do dia a dia

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Talvez, não seja importante o comentário. Admitamos que sim para alguns: um slogan em um veículo diz que certa empresa faz “projetos em movéis”. A palavra ‘móvel’, paroxítona terminada por L, no plural, se tornaria oxítona?

Móvel, como fácil e amável, preceitua a Gramática Normativa, é um vocábulo acentuado graficamente por se tratar de paroxítona terminada por L. No plural, o acento agudo continua na mesma posição (móveis). Discutida a regra no plural, trata-se de um vocábulo terminado por ditongo decrescente terminado por EI, seguido de S – amáveis, fáceis, que se diferencia de ‘ameis’, por exemplo. Qualquer vocábulo terminado por EIS, como ameis, fazeis, não sendo acentuado graficamente, classifica-se como vocábulo oxítona – amais, fazeis, faleis – todos terminados por ditongo decrescente, seguindo ou não de S.

O vocábulo papel, com a mesma terminação de móvel, é, entretanto, oxítona – a prosódia indica que palavras terminadas por al, el, il, ol, ul – não acentuadas graficamente (não levam acento agudo ou circunflexo) – são oxítonas. Canal, anel, funil, anzol, azul. No plural: canais, anéis, funis, anzóis, azuis. Um exemplo que pode confundir: novel (novato, neófito); plural: novéis, por ser um vocábulo pouco usado no meio popular. Qualquer profissional, no início da carreira, com pouca experiência, portanto, é novel; um neófito, um novato.

Significa que o slogan alterou a pronúncia do vocábulo, usando ‘movéis’, pelo fato de o acento gráfico ter sido deslocado. Como corrigir esse hábito? Basta pronunciar forte a palavra. Fala-se forte a sílaba que leva acento – se não for forte ali, também não é ali que se coloca o acento. Essa é uma maneira simples de se sanar uma dúvida nesse aspecto. Logo, se não se fala ‘mo-VÉIS’, logo a grafia não é essa. Voltemos: móvel, de “mobilis”, Latim, que dá mobília, mobilizar, é uma palavra paroxítona, cujo plural é mó-veis.

Uma novela global divulgou bastante a expressão “Brasil, mostra tua cara!”, que pertence a uma música. Trata-se de um verso de elevado fundo poético, que indica um protesto – semelhante a “Que país é este?”. Sua originalidade deve ser respeitada, incluída a sua autoria. Vemos, porém, que muitos mudam o verso para “Brasil, mostra sua cara!”. Claro está que houve a mudança do pronome tua para sua. Se assim fosse, o poeta deveria ter usado a forma verbal “mostre”, por agora estarmos usando o sujeito oculto você. No primeiro caso, o sujeito oculto é tu – Brasil, mostra tua cara! O registro ‘Brasil, mostra sua cara!’ fica errada duas vezes – mostra é da pessoa tu (sua é da pessoa você); e já que foi mudada a pessoa, a forma verbal também teria que ser mudada – mostre.

Como temos que respeitar a autoria e a originalidade (não necessariamente nessa ordem), não podemos mudar a frase – o que muitos fazem, chegando a alterar textos bíblicos, cujos significados, por consequência, se tornam diferentes. É uma pena!

Na semana passada, citei nesta coluna a palavra ‘dieta’, colocando-a como do Inglês anglo-saxônico, pois é chique a boca-cheia dizer ‘dáit’, especialmente em programa televisivo. Como o som torna essas pessoas ‘poderosas’!

Sobre esse termo, podem ser dadas outras duas versões etimológicas, que me esqueci de comentar.

‘Dieta’, pelo Latim tardio dieta, significa ‘dia marcado’, antiga assembleia política de alguns Estados de então. Certamente, um texto histórico que contenha o vocábulo dieta nesse sentido será pouco entendido hodiernamente. Não se trata, pois, de regime alimentar – único sentido admitido nos dias de hoje.

Do Grego ‘díaita, dieta é um gênero de vida, um regime. Emprego racional dos alimentos tendo em vista um resultado higiênico ou terapêutico, como nos ensina o dicionário. Abstenção momentânea, total ou parcial, de alimentos.

Quanto ao Inglês, como adjetivo, ‘diet’ – termo muito usado no momento – é produto alimentar que não contém açúcar, seja qual for a quantidade de gorduras e o total de calorias. Confronta-se com ‘light’ (leve).

Como substantivo, diet significa one’s regular foods – The boy lives on a diet of junk food (hamburgers, ice cream, potato chips), conforme um dicionário em Inglês.

“Junk” é algo de preparo rápido e fácil. Diz o léxico: junk – food that is quick to prepare.

Foi um acréscimo que precisava fazer.

Para terminar, a grandiosa revista Língua Portuguesa, ano 9, nº 111, janeiro de 2015, traz um comentário intitulado Berço da palavra, pág. 62. Explicou dessa feita ‘pão francês’, ‘porquinho-da-índia’ e ‘poltrona’. Fico feliz pelos meus comentários: veja a grafia ‘porquinho-da-índia’ – letra minúscula para o nome que, em outro contexto, é próprio (Índia). Assim tenho comentado aqui – castanha-do-pará, coco-da-baía – grafias que muitos não admitem (há relatos de revistas sobre o campo que só registram Castanha do Pará e Coco da Bahia), inconveniente – porque os nomes agora são comuns, e não próprios.

Em 30 de janeiro de 1948, Mahatma Gandhi foi assassinado por um hindu (fanático) na Índia, porque o grande líder foi favorável à divisão de sua Nação – em que o Paquistão se tornava um país, e deixava de ser estado indiano. Entende-se isso lendo a História.

Um abraço.