Por João Carlos de Oliveira
Vamos falar de coisas simples e aprender um pouco mais com as regras da Gramática Normativa? Se você pratica alguma arte, você é um “artista”. No popular, o artista é o experto, o malandro. Veja nessa palavra o sufixo “ista”, elemento mórfico que apresenta a ideia de agente, como balconista, dicionarista, propagandista, ou indica o partidário de sistema político, religioso ou filosófico, entre outros, como budista, integralista, kantista, kardecista. Logo, o proprietário de uma loja é o lojista. Lojista e não logista. Não entendo por que algumas revistas ou noticiários televisivos divulgam, com certa frequência, a grafia “logista”, que nada tem a ver com logística, é claro, nem se refere, como se vê, ao termo loja, tão popular entre nós. Lembro que esse sentido de loja não é o mesmo – só a grafia é igual – usado para Loja Maçônica. Loja, nesse aspecto, é originário do Inglês “lodge”, como o sentido próximo a “organização”. Fica o recado.
Na divulgação de passeata contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, aparece a faixa “Fora Ricardo Teixeira”. Fui questionado sobre o uso da vírgula, se caberia, nesse enunciado. Cabe, mas teria a conotação de estar se dirigindo diretamente a ele, de forma pessoal: “Ricardo Teixeira, fique fora!”, uma vez usado o vocativo (o pronome nome), indicando a pessoa a quem se dirige. Sem a vírgula, forma indireta de comunicação, que está correta também, indica simplesmente que aquele indivíduo deve ficar fora da CBF, deixando o cargo que ora ocupa (pelo motivo de estar envolvido em corrupção, como anunciam os jornais).
O cuidado com o feminino, ou masculino, em frases na voz passiva analítica deve ser redobrado, porque a concordância nominal deve prevalecer. O homem construiu a casa, voz ativa. A casa foi construída pelo homem, voz passiva analítica. Nem sempre o agente da passiva (no caso, “pelo homem”) é obrigado a aparecer. Porque, assim, se destaca a construção e não o agente. Veja isto: Foi construído o prédio. Foi marcada a reunião. Foi refeito o cálculo. Em nenhum desses, que não é obrigatório, foi revelado o agente. Isso é opcional, mas a concordância nominal, sim. Construído… o prédio. Marcada… a reunião. Fica, portanto, errada a concordância “Foi feito uma perícia”, como alguns costumam usar. A perícia foi feita pelo perito “Joaquim de Castro” (nome fictício), e, ocultado o agente, se vai dizer “Foi feita a perícia”, cuja ordem agora é a indireta.
Em se falando de futebol, as grafias “semi-final, bi campeonato, super time”, entre outras, aparecem com abundância. O uso do hífen ou a falta dele, deixando o prefixo ‘afastado’ do radical, não se justificam. Tudo junto, como deve ser, temos aí o derivado prefixal por justaposição: semifinal (semifinais, como em “hemisfério”), bicampeonato, supertime. O mesmo critério para “contrafeito”, mas “contrarregra”, “contra-ataque” (hifenizado por causa de duas vogais iguais). O mesmo caso de supermercado, por isso superpromoção (grafia que lojistas não usam), superlegal, supercampeão etc. Foi possível entender? Se não, releia.
Para finalizar, use “recapear”, o mesmo que recapar – Recapeie o pneu – e não recapiar, ou – Recapie o pneu. A mesma forma para grampear. Grampeie as folhas, e não grampie. Mas se o verbo terminar em “iar”, como copiar, ‘Copie os trabalhos’. Um abraço.
Coluna anterior: É comum jogadores de futebol usarem a expressão “Lutamos de igual para igual”. Estaria correta? Ou teria que ser diferenciada: “Lutei de igual para igual” e “Lutamos de iguais para iguais”. Faria sentido “Eles, por si mesmo, provaram sua capacidade”? Resposta: se apenas um fala e a ele se refere, ou o termo está no singular, deve ser “Luto de igual para igual”, “Luta de igual para igual”. Mas, em se tratando de plural, a concordância com esse aspecto é obrigatória: Lutamos de iguais para iguais. Lutam de iguais para iguais. Da mesma forma: por si mesmo, por si mesma, por si mesmos, por si mesmas. Consigo próprio, consigo própria, consigo próprios, consigo próprias.
Pegadinha: Durmir ou dormir? Durmo ou dormo? Comprido ou cumprido? Pesquise e veja a diferença: o que está certo e o sentido de cada termo pela grafia diferente.