Português do Dia a Dia (18 de novembro/2012)

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Recebi uma mensagem de uma Secretaria de Estado da Educação e nela um funcionário escreveu: “Sr. João, por favor, solicitamos os anexo, mensionado, pois os mesmo não consta no ofício (…)”. Sem nenhum comentário, apenas a “correção”: (…) solicitamos os anexos mencionados, pois os mesmos não constam do ofício (…). Dê uma olhada comparativa.

Há diferença entre taxado e tachado? Esses dois homônimos, que têm vários cognatos, derivados de taxar e tachar, de fato, causam certa confusão. O primeiro princípio é que tachar se refere a pessoas, logo tachado é denominado, tido como… Fulano foi tachado de “moleque, irresponsável, inadimplente” etc., logo, tem o significado, ou seu equivalente, de ofendido, visto como, considerado… Taxado se refere a coisas, mercadorias. Taxar é determinar um percentual, uma alíquota. O ICMS do leite foi taxado em 12 % (doze por cento). Esse percentual equivale a um valor determinado por lei, como essa hipótese.

A propósito, “cento” corresponde a uma centena. O centro da casa, o centro da cidade, o centro das ideias. O termo centro tem outro significado. É que um vendedor diria que vende o “centro” de laranjas por tal valor. Vende-se a laranja ao cento, à dúzia, à unidade, ao quilo etc. Um cento, ou uma centena, de laranjas custa?

Do substantivo ênfase pode ser derivado o verbo enfatizar, como de centro, centralizar, de normal, normalizar, de fiscal, fiscalizar. Se ele enfatizasse, de enfatizar… Se ele fizesse, de fazer. Mas de precisar, de analisar, criam-se precisasse, analisasse. Se já havia S no radical, como preciso, análise, conserva-se o S – análise, analisar, analisasse. Se havia Z, conserva-se esse – cicatriz, cicatrizar, cicatrizasse; cruz, cruzar, cruzasse; se não havia S nem Z (no termo primitivo), usa-se o sufixo verbal IZAR – nacional, nacionalizar, nacionalizasse. Se você escrever “enfatisasse” constitui erro, assim como “analizasse”. Trata-se de uma regra prática. Memorize-a que você se dará bem no momento da dúvida.

Hoje, em se tratando da violência, a todo momento, houve-se falar em “câmera de segurança”. Não seria “câmera de monitoramento” já que ela apenas registra a ocorrência e depois a autoridade competente vai tomar providências? A segurança, que seja local, nacional, seria outra coisa, e não simplesmente um aparelho, um dispositivo eletrônico. Outros já usam “a base de monitoramento” para indicar que o meliante está sendo vigiado, mesmo em via pública, por uma câmera, possante na maioria das vezes. Nessa última frase, o termo está mais próximo de seu sentido e finalidade.

Assunto já tratado aqui, o vocábulo “muçarela”, adaptado (aportuguesado) do Italiano, não deve ser escrito “mussarela”, como comumente aparece em supermercado, restaurante, padaria e outros. A grafia com dígrafo é apenas um hábito. Consulte o dicionário. Não o use, pois, com dois esses.

A tradução não é coisa fácil. Dizem que uma obra fica prejudicada em sua essência quando vertida de um idioma para outro. Quando traduziram Jorge Amado para o Húngaro (também chamado Magiar), algumas expressões, conforme a visão de especialista, podem não ter correspondido ao original. A mesma coisa seria traduzir John Milton, autor inglês, para o nosso idioma. E vai por aí uma série de observações. No rodapé de uma foto em jornal de grande circulação, havia os dizeres “Você precisa fazer aquilo que te faz feliz. Essa é a minha regra”. O mesmo rodapé explica: “Heidi Klum, modelo, em entrevista à revista alemã “Bunte”, falando sobre seu novo relacionamento e estilo de vida”. Ora, a versão em Português deveria ser: 1. Você precisa fazer aquilo que o faz feliz, se se fala com um homem. 2. Você precisa fazer aquilo que a faz feliz, se se fala com uma mulher. 3. Tu precisas fazer aquilo que te faz feliz, usando-se o pronome oblíquo “te”, que se refere ao pronome de tratamento “tu”, uma vez que o tratamento não deve ficar misturado: você e tu.

Para terminar, foi feita a pergunta se os vocábulos “super, hiper, mini, maxi, midi” podem receber acento gráfico, isto é, um acento agudo? Sim, se estiverem sozinhos: Ele é um cara súper. Sua saia é mídi. Se estiverem acompanhados de radical, formando um derivado, o que é mais comum, não podem ser acentuados graficamente, isto é, apenas a pronúncia é “forte”. Ele é um superamigo. Ela usa uma midissaia. Compramos uma maxicamioneta. Estamos no hipermercado Bombinha (nome fictício).

O que é uma coisa “armengada”? Comentarei também “Salve Jorge” (sem…) e “Salve, Jorge” (com vírgula). Aguarde.

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