Lendo jornais, encontramos palavras novas, muitas das quais não estão no dicionário. Uma reportagem sobre ‘reforma eleitoral’ lembra alguns desses exemplos.
A todo instante, o locutor usou ‘reforma’ precedido de ‘míni’ (este elemento, quando sozinho, deve ser acentuado com o agudo). Se juntamos os dois termos, como fica a grafia? Mini reforma, mini-reforma ou minirreforma? Ou ‘tanto faz como fez’, diria alguém, desde que você entenda.
Seguindo a Nova Reforma Ortográfica, a grafia é aquela em que os dois termos se unam sem o uso do hífen. Como o primeiro é terminado pela vogal ‘i’, e o segundo começa pela consoante ‘r’, a regra manda que a consoante seja dobrada, para conservar a pronúncia inicial. Logo, temos ‘minirreforma’, grafia correta usada por alguns e que causaria dúvida a pessoas não-habituadas à nova mudança ortográfica (acredita este colunista).
Nesse aspecto, foram escolhidos alguns termos que começam com o primeiro elemento, seguido daquele que interessa ao usuário. Se você quiser, pode ‘criar’ o seu vocábulo. Siga os escolhidos para hoje: minifúndio, minissaia, minissérie – já tradicionais. Mas podem ser criados os que lhe interessam. Se não houver R ou S, os dois termos ficam juntos, a que se chama ‘justaposição’ sem o uso de hífen: minipizza, minicadastro, minitom, minipônei. Veja agora: minissorvete, minissoldado, minirrecorde.
Os novos seriam neologismos, em comparação com os comuns.
Paralelamente ao uso de ‘míni’, temos grande quantidade de vocábulos que começam com ‘anti’, muitos relativos a produtos (antiderrapante), entretanto, usados de forma incorreta. Seguem a mesma regra – se o vocábulo seguinte começar por R ou S, dobra-se essa consoante; se houver a vogal ‘i’, usa-se hífen (por haver duas voais iguais); em não havendo esses casos, os dois termos ficam juntos sem o uso de hífen. Primeiro caso – antirroubo, antissemitismo (existente no dicionário, porque se trata de um termo muito conhecido no mundo histórico-religioso), antirruído, antirrábico, antirressonância, antissepsia, antisséptico, antissedativo. Anti-inflamatório. Antiácido, antifurto, antialcoólico, antialérgico, antibiótico, anticanceroso, anticiclone, anticoagulante, anticoncepcional, anticonstitucional, anticorpo, anticorrosivo, anticorrupção. Antivírus. Esta é a mesma grafia em Inglês, em cujo idioma não há o acento agudo (antivirus).
Se houver H, o uso do hífen é obrigatório – anti-hispânico, anti-histórico, anti-humorístico, anti-hospício, anti-humano, anti-herói.
Já que foi citado o elemento ‘anti’, é de bom alvitre o lembrete sobre ‘ante’, de significado bem diferente – ‘anti’ significa contra, e ‘ante’, antes. Não se confunda. Citemos exemplos com este: antessala, antedata, antever, antevéspera, antevisão, anteontem, antedatado. ‘Ante’ e ‘pré’ se assemelham em uso e sentido – antedatado vem a ser o mesmo que pré-datado.
A relação serve, apenas, como orientação para possível dúvida.
Quando muitos conversam, costumam usar a expressão “na verdade…” e dão, em seguida, uma justificativa. Não vejo com bons olhos esse dizer – então, significaria que o que foi dito, antes, seria mentira?
Um cartaz de um grupo que fazia protesto continha a frase “Fora Levy”, referindo-se a um membro do Governo federal. Está correta sem o uso da vírgula? (consulta-me alguém). Sem a vírgula, frase também correta, o nome Levy funciona como o sujeito da frase – ‘que Levy fique fora do Governo’ (ou uma forma similar). Com a vírgula, que continua correta, o mesmo nome funciona como ‘vocativo’ da frase (por isso, a obrigatoriedade da vírgula), e o sujeito está oculto (você). ‘Fora, Levy!” seria como “Levy, fique fora do Governo”. “Fique você!” – você é o sujeito oculto da frase.
Costumam usar em abundância termos compostos, como ‘terra-mãe’, sem o uso do hífen, o que não é aconselhável. Seguindo o mesmo modelo de caneta-tinteiro, banana-maçã, navio-escola, todos esses substantivos compostos exigem a presença do hífen, formando derivados justapostos. Lembro ainda que, no plural, o ideal é que só o primeiro elemento venha a flexionar, embora pessoas flexionem a ambos: homem-bomba, homens-bomba; trocador-cantor, trocadores-cantor; mulher-maravilha, mulheres-maravilha; garota-propaganda, garotas-propaganda, veículo-ambulância, veículos-ambulância, hotel-fazenda, hotéis-fazenda, casa-hospício, casas-hospício, homem-caranguejo, homens-caranguejo, veículo-baú, veículos-baú, sequestro-relâmpago, sequestros-relâmpago.
Até a próxima.