Se o conselho vale, ei-lo: o comércio costuma usar o elemento ‘míni’ (sozinho, deve ser acentuado) seguido de muitos vocábulos, como ‘mini pizza’ (assim, separado). Anteposto a qualquer núcleo – saia, corpo, computador, pizza – não deve ficar separado e não pode ser usado, sem critério, com hífen. Junte tudo e escreva ‘minissaia’ (dobre o esse), ‘minicorpo’, ‘minicomputador’ e ‘minipizza’. Ao ser pronunciado, não se nota se há hífen, se ficou separado ou junto. Para entender, veja as três grafias do mesmo vocábulo: mini-pizza (com hífen), mini pizza (separado e sem hífen) e minipizzza (junto sem hífen, a grafia correta).
Não importa se o vocábulo é conhecido, se não é, se está no dicionário, se não está. Sendo criado – e todo cidadão tem esse direito – , o vocábulo deve seguir a norma da gramática. Todo mundo conhece (?) ‘minifúndio, miniconto, minicaminhão, minibiblioteca, minicomício, minidesvalorização, minijardim’. Qual é a sua cria? – minielevador, minipessoa (um anão?), minilivro (um livro de bolso?), miniespelho (aquele que o galã carregava no bolso, há anos idos?), minicavalo (um pônei?), minicasa (uma barraquinha?). Minifilmadora, minicópia, minilobo?
O usuário não deve é usar a palavra ‘criada’ só porque o outro usou, sem saber se a grafia está correta… Siga a regra, e se dê bem.
Se o conselho vale, vamos continuar: se o termo seguinte começar por ‘i’ (a mesma vogal final de mini), use, obrigatoriamente, o hífen: mini-infarto, mini-isca, mini-informe. Arranje, agora, as suas. Se o termo começa por R e S, dobre esses fonemas: minissaia, minissérie, minissabão; minirrato, minirraposa, minirretrato. Arranje, agora, as suas. Se o termo (o seguinte) começa por h, use hífen: mini-hospital, mini-hotel, mini-hospedaria, mini-horto, mini-homem (seria um pigmeu?). Arranje, agora, as suas. Espero que tenha contribuído para dirimir as dúvidas, como se diz em acordo judicial ou extrajudicial entre as partes. Estamos combinados?
Note, mesmo com a brincadeira, que há muitas opções, e o recado é repetido: precisou, crie a palavra, mas não a deixe solta (separada) e não precisa usar hífen. No caso de uma pequenina pizza (poderia ser usada essa expressão), escreva sempre “minipizza”. Acaso você queira usar o elemento ‘míni’ de forma posposta (depois), pode, embora possa causar estranheza: uma pizza míni, uma pessoa míni. Nessa colocação ou sozinho, é obrigatório o uso do acento agudo por se tratar de um vocábulo paroxítono, o mesmo modelo de júri, lápis, e todas as palavras terminadas em ‘i’ seguido ou não de ‘s’.
Em se tratando de acidente automobilístico, costuma o redator dizer que a vítima (quando houve lesão grave) teve um membro amputado (“Vítima tem perna amputada em acidente de carro”). Amputada? Como? Não seria ‘decepada’? Por que a pergunta?
Porque o ato de amputar é cirúrgico, envolve uma técnica, conhecimento médico, o profissional, os recursos etc. Observe assim “Fulano sofreu acidente, e depois de levado ao hospital, o médico amputou sua perna direita”. Não preciso explicar mais. Só entendo que decepar, quebrar e cortar (mesmo amputar) seriam sinônimos; mas o uso de ‘amputar, amputado, amputação’ requer mais cuidado. Que o próprio acidente fez a ‘amputação’?, fica vago. A boa semântica não permite isso. Basta.
Em relação à roca ou à fazenda, o dono costuma dizer que plantou ‘duas hectares’ de mandioca. Analise direito: o masculino, em Português, é palavra que termina por ‘o’ – o menino, o amigo, o abrigo. Há exceção – o telefonema. O feminino é palavra que termina por ‘a’ – a casa, a dama, a fama. Há exceção – a mulher, a libido. Então, há a exceção para ‘hectare’, que não termina por ‘o’ nem ‘a’, mas é termo masculino – o hectare, portanto, dois hectares. Da mesma família de ‘are, centiare’: um are, um hectare, dois centiares. É pena que ainda haja a pronúncia ‘hectária’, mas respeitado o nível do cidadão de zona rural, passemos-lhe um salvo-conduto de respeito. Pense em grama – o grama (o peso), a grama (a relva).
Terminando – um indivíduo disse que o doente vomitou um líquido ‘a-qu-o-so’ (sim, com essa pronúncia silabada). Temos que pensar um pouco – nem todo líquido conteria água (como o óleo, a não ser em nanoquantidade). O líquido que sai do estômago do sujeito deve conter água, mesmo que seja uma borra preta. Líquido aquoso, isto é, que contém água. Certo, com ressalva. Mas a pronúncia não pode ser da forma anterior: aquoso tem três sílabas, e não, quatro. Da mesma forma, não se pode dizer “a-gu-ar” as plantas, mas ‘aguá-las’. Não diga “O jardim foi a-gu-a-do” (com quatro sílabas), mas foi ‘aguado’ (com três sílabas: a-gua-do). Ademais, não existe em Português vocábulo com a grafia ‘qu’, sem estar seguido de a, e, i, o. Não entendo que a pronúncia do vocábulo seja ‘su-bli-nha-do’, mas ‘sub-li-nha-do’ – o mesmo processo para sub-lin-gual. Tente pronunciar ‘sublinguístico’.
Um abraço.
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