Bom-dia! Você fez alguma consulta recentemente sobre assunto em Português com o qual tenha dúvida? Se não consultar, o desconhecimento só aumenta. Será que hoje, neste artigo, algo vai chamar a sua atenção?
Estão oferecendo um bom ‘presente’ aos pais, pelo menos aqui em Teixeira, para este segundo domingo de agosto, o dia deles… Veja: “Presentei o seu pai com…”, e colocam adiante o que seria a oferta.
Como diz a secretária eletrônica: “Esta forma verbal não existe!” O verbo presentear, com a terminação EAR, como se vê, segue a norma de conjugação de nomear. Se se diz “Nomeie”, então, ‘presenteie’. A forma rizotônica na terceira pessoa do singular, respectivamente, dos presentes do indicativo e subjuntivo, é: ele nomeia, que ele nomeie. Assim, seguem a regra outros verbos. Arrear – Arreie o cavalo. Grampear – Grampeie as folhas. ‘Grampie’ é forma indevida. No presente do indicativo: A secretária grampeia as folhas. Florear – Não floreie demais o seu texto. Chulear – O alfaiate chuleia o cós da calça. Chuleie com cuidado, para não desfiar o pano. Rechear – Recheie o bolo com chocolate. Aliás, serve de alerta a frase – Ele comeu bolo ‘recheiado’ com castanha. Esse ‘i’ não faz parte do adjetivo – a forma rizotônica (recheia, recheie) é que tem a vocalização (a presença da vogal para tornar a pronúncia bem audível e sonora), mas o adjetivo, não. Apenas, recheado. O mesmo caso é Ele ‘estreiou’ idade nova, ‘Freiou’ bruscamente o carro. No pretérito perfeito do indicativo o verbo fica assim – estreei, estreaste, estreou, estreamos, estreastes, estrearam. Não existe grafia com ‘i’. Apenas, estreou, freou, da mesma forma que se usa ‘nomeou, recheou, floreou, chuleou’ etc. E estas? Ele tinha estreiado idade nova. Ela ficou muito receiosa com o acontecido. Certos: estreado, receosa.
A terminação ‘ei’, usada em ‘presentei’, não é própria do presente do subjuntivo; existe em outros verbos regulares, como ‘andei, amei, comprei’, e em presentear, nesse tempo, passa a ser ‘Eu presenteei’, da mesma forma que ‘Eu nomeei, eu chuleei, eu estreei’.
O que se desconta no erro é que, para quem conhece pouco as terminações verbais, elas confundem a cabecinha pouco pensante e pesquisadora. As terminações verbais indicam as pessoas no tratamento que usamos – eu, você, ele, tu, nós, vós, eles. Amo – eu. Ama – você. Amas – tu. Amamos – nós. Amais – vós. Não somos obrigados a escrever o pronome pessoal reto antes do verbo em Português, como o exige o Inglês – I read, you read, a não ser que se tenha alguma coincidência – amava. Quem – eu ou ele? Eu amava, ele amava. No restante, e na maioria das flexões verbais, a antecipação do pronome ao verbo é opcional. Além disso, temos as desinências modo-temporais, que indicam tempo, modo e pessoa – ‘aram’, Eles compraram – 3ª. pessoa do plural no pretérito perfeito do indicativo. Nós dispusemos todo o material em ordem – ‘emos’, 1ª. pessoa do plural no pretérito perfeito do indicativo. Se fizessem como se mandou – ‘ssem’, 3ª. pessoa do plural no pretérito imperfeito do subjuntivo. Há outras.
A Gramática Normativa ajuda muito o estudante quando dá um modelo, chamado paradigma, e compara verbos entre si, dizendo se são regulares ou irregulares. Dizem que jovens estudantes de eras passadas decoravam essas formas; hoje, tem-se muita prática, e a melhor via será a comparação, a observação do verbo pela sua terminação – iar, ear, ecer etc. e pela sua desinência verbal quando conjugado – Eu faço, que eu diga, que possamos chegar ao destino, se ele pudesse, que você venha cedo, que se presenteie os pais no segundo domingo de agosto.
Mudando um pouco.
A frase “Ele veste bem” pode ser duvidosa. Quem ele veste, a outrem ou a si mesmo? Sendo a si mesmo, Ele se veste bem; sendo a outrem, Ele veste a criança bem. Quando a propaganda diz “Funilaria veste dona Gumercinda” – a loja tal veste o âncora, tem-se um charme na expressão, que, para não se dizer que fulano usa a roupa de tal grife, seria a grife que veste o fulano. Vá lá! Passa, mas não que essa seja a melhor redação.
Uma manchete diz que certo pastor deu este recado: “Não está gostando? Vai para outra igreja. Não se mete nisso que não é de sua conta”. Há algum problema de redação nesse contexto? Redija-se o texto na pessoa ‘você’, sem misturar o tratamento: “Não está gostando? Vá para outra igreja”. (‘Vai’ é para a pessoa tu.) “Não se meta nisso, que não é de sua conta”. ‘Não se mete’ é do presente do indicativo – ‘Ele (não) se mete onde não é chamado’. No caso de a pessoa tu ser usada, a frase ficaria toda assim: “Não estás gostando? Vai a outra igreja. Não te metas nisso, que não é da tua conta”.
Para concluir, comentei rapidamente alguns termos. Ei-los aqui: inapto, que não tem capacidade; inepto, que não é capaz, inexperiente, imperito. Os dois termos são sinônimos: inapto, muito usado em textos outros; inepto, mais usado juridicamente. Rapto – o ato de raptar, de levar alguém na garupa do cavalo, por exemplo, numa forma poética de Romeu ter levado Julieta. Repto – tapume, desafio, oposição jurídica. Paredão que embate as ondas do mar; quebra-mar. Atlético, que tem porte belo, bonito. Atrético (usado na taxinomia médica) indica órgão doente, que sofreu uma oclusão. A grafia não está errada. Como se o ânus estivesse sem o devido orifício para a defecação. Nasce um bebê assim, e precisa de cirurgia adequada. Costuma não resistir. Consócio, o sócio numa empresa – Ele é meu consócio (meu sócio). Consórcio (conjunto, associação) – Adquiriu o veículo através de um consórcio em 30 meses. Esses termos parecidos – que não têm pronúncia nem grafia iguais – são parônimos. Além dessa parecença, o significado, como deve ser, faz a diferença.
É bom consultar. Você já viu um escritório que tenha em cima do birô três livros básicos do dia a dia? Uma Bíblia, um bom dicionário – de preferência que seja etimológico, e uma Gramática Normativa supimpa?
Um abraço.
Acesse: www.clubedeautores.com.br. Conheça e adquira a obra EM CADA CANTO, o mais novo livro de poesia do professor João Carlos de Oliveira. Vem aí “Colóquio com o silêncio”.