Português do Dia a Dia (10 de dezembro/2014)

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Por João Carlos de Oliveira

O artigo de hoje é simplesinho que dói. Peço desculpas ao leitor por isso, mas, ainda assim, seria possível encontrar uma pepita em meio ao bamburro.

Há palavras derivadas, que são muitas, enriquecedoras do vocabulário. Tem-se uma primitiva, e dessa se originam as derivadas, conservadoras da grafia inicial. Essa é a regra da Gramática Normativa, que se apoia, fundamentalmente, na Gramática Histórica.

Pense um pouco: casa, termo primitivo; o étimo. Dela surgem outras, que devem conservar o S da origem, motivo por que não cabe que se escreva ‘cazeiro’. Casa: casinha, caseiro, casar, casado, casamento, casadoiro, casamenteiro, casadinha, casebre, casulo. Você ‘dezenvolvido’?

Trata-se de aprendizagem básica para o uso correto da ortografia, que muitos consideram, entretanto, como perda de tempo.

Note que usei ‘simplesinho’, derivado de simples. Primeiro, observe a permanência do S. Não posso inventar a grafia ‘simplezinho’ ou ‘simplisinho’. Da mesma forma, deve-se escrever ‘simplesmente’, e não ‘simplismente’, muito comum em redação escolar.

Entretanto, de simples formam-se estas: simplificar, simplicidade, simplificado. Lápis: lapisinho, lapiseira, lapisado.

Se o primitivo não contém S, como esses, nem Z – cruz, capuz, usa-se o sufixo izar, que forma muitos termos.

Havendo S, conserve-o. Havendo Z, conserve-o: cruzeiro, cruzado, cruzada, encruzilhada; capuz, encapuzado. Cicatriz, cicatrizar, cicatrizado.

Não havendo S nem Z (repito), use izar – normal, normalizar; fiscal, fiscalizar; federal, federalizar. Todos os subsequentes derivados seguem o mesmo critério – federalizado.

Variemos um pouco. O uso de ‘sobre’, como prefixo, tem causado algumas dúvidas. A primeira lógica é unir esse elemento aos termos primitivos para formar os derivados prefixais: sobre+loja, sobreloja. Siga o critério: sobrepiso, sobrepeso, sobrecu, sobremesa. Não separe os termos, como se fosse bonito usar “Alugo o sobre piso desse prédio”. Se você disser que o objeto foi encontrado “… sobre o piso…” (caído no piso), faz sentido. Fora disso, há uma dúvida, e, possivelmente, um erro. Assim, o comércio tem pecado quando usa ‘super promoção’. Tudo junto: superpromoção, seguindo o critério de supermercado, supersônico.

Analise este enunciado: A palestrante discorreu sobre tudo – a vida, a morte, o céu, o inferno. Ele usava um sobretudo de lã importado da Índia.

Ouvindo um comentário sobre crime, percebi, ‘nos meus ouvidos moucos’, que o cidadão pronunciou ‘barbariedade’. Tomara que eu seja o errado, porque o termo é barbaridade; algo como maldade, truculência, estupidez, crime hediondo. Ato praticado por um bárbaro. Não confunda esse substantivo abstrato com ‘barbárie’, a ausência de civilização; ausência de ordem e de lei.

Alguns usam ‘barbaridade’ como interjeição: “Barbaridade, tchê! Não dá para acreditar. Puxa vida!”

Mas eu gosto mesmo é da poesia ‘bárbara’, muito bonita – juntam-se o trágico e o cômico. O quase épico…

Neste Natal, surge de chofre – Papai Noel verdadeira. Ora, se termo é verdadeira, assim seria Mamãe Noel verdadeira. Quase uma sereia.

Um livro de Português me ensinou a pronúncia ‘gui-a-na’, como guiar, guiado. Pronuncie ‘enguia’. Você diria ‘engúia’? O acento serve para indicar a sílaba forte nessa pronúncia exótica… Compare ‘engúia’ com ‘Gúiana’… Se temos en-gui-a, vamos ter ‘gui-a-na’. Ensina-nos o livro.

 Até a próxima.

João Carlos de Oliveira, professor jubilado, formado em Letras, com especialização em Língua Portuguesa; advogado, pós-graduado em Direito Civil, membro-correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (de Cachoeiro de Itapemirim, ES), poeta, cronista, colunista linguístico. Acesse www.clubedeautores.com.br, e adquira ‘Em cada canto’.