Muitos prefixos são usados no linguajar cotidiano, e alguns oferecem dificuldade de uso. Os mais usados, ao que parece, são “super” e “semi”, e ambos não aparecem escritos corretamente, cuja escrita seria, na maioria das vezes, sem hífen e justaposto, isto é, “tudo junto”.
Uma obra jurídica, que leio no momento, traz “superlotação”: essa é a forma correta, a da derivação prefixal por justaposição, sem hífen. O erre do prefixo não oferece dificuldade quanto à pronúncia da consoante ele (L) que inicia o vocábulo seguinte, portanto, “tudo junto” sem hífen. É o mesmo modelo de “supermercado”, palavra conhecida de todos nós. Seguindo esse critério, vai-se grafar superlegal, supercorajoso, superfeliz etc. Escolhi esses três exemplos somente para citar vocábulos que, de hábito, não estão no dicionário, mas podem ser usados com segurança, mesmo que seja uma criação poético-metafórica. Escrever, portanto, “Meu amigo é um cara super bacana”, como comumente se fala e também se vê escrito, é um grave erro em virtude da tradição de palavra similar – o mesmo prefixo seguido de vocábulo que começa por consoante (superdileto, superbom, supermentiroso). Se o fonema inicial do segundo vocábulo for vogal, ainda assim, na atual regra gramatical, o hífen é dispensado – superanimado, superentendido, superentusiasmado. E se for R? Dobra-se essa consoante e aparece a grafia com o dígrafo RR – superresponsável, superrespeitoso, superrealista. E se for S? Tudo junto, sem hífen, grafia que segue o modelo, mesmo antigo, de supersônico: supersensível, supersensato, supersensorial.
Sim, o livro jurídico cita superlotação, e logo adiante escreve “super população”, ao se referir ao sistema carcerário brasileiro, superabarrotado de presos de todos os tipos, e por essa e outras razões, é necessário o “Monitoramento Eletrônico de Preso”, ainda capengando em nosso País e usado em abundância nos Estados Unidos, e um pouco na Europa, como em Portugal, França, Inglaterra. Pouco em relação ao sistema norte-americano; muito em relação ao nosso, falho e deprimente. É uma pena que essa obra, tão importante, exponha essa grafia. Ah! Mas foi um lapso! Pode ter sido, mas aparece mais de uma vez. Superlotação (para relembrar a forma correta).
O outro prefixo citado (semi) vem plainando entre o certo e o errado num mesmo panfleto, ou correto no comercial de uma empresa e incorreto no de outra, até na mesma cidade, como nesta. Quando falam de veículo – de moto a carro – , “semi” supera o uso de outros prefixos, mas não aparece com a grafia correta – tudo junto, sem hífen, a forma direta de explicar a grafia correta. Semi novo ou semi-novo, essa é a grafia que mais aparece; forma incorreta, corrigida para seminovo – o mesmo caso de seminu, semideus, semicírculo. E se o redator fizer uso de uma palavra que não está no dicionário? Qual o critério? Observar se o termo seguinte começa por vogal, agá, erre ou esse. Semianalfabeto – não precisa mais do hífen, porque as duas vogais são diferentes (i, a). Semiindustrial (errado); – aqui, sim, porque as duas vogais são iguais – semi-industrial, como micro-ondas, que antes não tinha o hífen, e agora o recebe. Semihematófago (errado). O agá obriga a separar os termos: semi-hematófago, como semi-humano, super-homem. Semirrústico, semissurdo (só a grafia, pois dizem que a pessoa não é surda pela metade… mas usam muito uma “leve surdez), aparecem os dígrafos RR e SS, como em minissaia, minissérie etc.
O melhor, quando a dúvida prevalece, é não deixar os termos “soltos”, isto é, um lá, outro cá – assim, não ficam juntos nem separados por hífen. E sempre usar um único critério: ou acerta, ou erra tudo.
Para terminar hoje, citemos a expressão “Graças a Deus”, usadíssima, por sinal. Mas por que é tanto falada? É uma pergunta que me intriga: falam-na para indicar que houve um milagre, uma intervenção divina em um fato ou doença? Falam-na porque Deus já teria o senso-comum de antecipadamente defender alguém e, por isso, o milagre aconteceu? Falam-na porque haverá a intervenção divina e isso deve ser motivo de regozijo, e o beneficiado terá que agradecer com uma oração. A pergunta tem três partes: o Graças a Deus é presente – diz-se por simples dizer?; é passado – foi o milagre dEle que aconteceu?, ou é futuro – vamos louvá-Lo para Lhe agradecer o benefício divino? Isso é inquietante, embora pareça sem necessidade. Trata-se do aspecto semântico da linguagem usada no cotidiano.
Acesse: www.clubedeautores.com.br. Conheça e adquira a obra EM CADA CANTO, o mais novo livro de poesia do professor João Carlos de Oliveira. Vem aí “Colóquio com o silêncio”.