“O que é um homem fatiotado?”, pergunta da semana passada. O sujeito bem empetecado, engalanado, “engomadinho”, quase almofadinha, é um homem bem vestido, portanto, fatiotado, aquele que usa fatiota, roupa (talvez da moda), modelo daqueles anos em que se vestia gabardine como o tecido mais apropriado ao homem em dia com a moda, talvez o segundo uso após o linho. Um alfaiate de Jacobina, conhecido de meu pai, ao costurar calça, camisa e paletó, dizia que o seu cliente tinha ficado “porreta”, isto é, elegante. Seria a moda da época.
“João, João! Cuidado com o que você escreve!”, diria eu comigo mesmo. Na passada semana, que me desculpe o leitor, ao pretender escrever “editoriais”, por um lapso digital – que já foi chamado “erro de datilografia”, saiu “editais”. Cuidado, João!
“O furacão Sandy quase devastou o litoral americano” nesses últimos dias. Foram bilhões de dólares de prejuízo, mais de quarenta mortos, e muitas cidades às escuras, além de invadidas pelas águas do mar. Foi esse o aspecto do noticiário sobre “essa terrível tempestade tropical chamada Sandy”. Mas… o que significa Sandy? Nome de mulher? Bonito, feio? Quem registrou filho ou filha com esse nome sabia de sua origem e de seu aspecto semântico? Semanticamente, “sandy”, agora com letra minúscula por se tratar de um adjetivo em Inglês, saxônico ou americano, é “arenoso(a)”, isto é, cheio de areia. Por que chamam o furacão assim? Ele traz também uma tempestade “de areia”? É preciso ir aos recantos americanos, buscar os idos da História, e saber os motivos do nome, mas não é ele nome de gente. Metaforicamente, como se vê, Sandy é catastrófico, destruidor, trágico, verdadeiramente “sanguinário e hostil”.
Algumas pessoas de regiões distantes do interior do Brasil, talvez iletradas no sentido literal de saber escrever o idioma pátrio, trocam janela por “jinela” e não se dão conta de que falam algo diferente. Só o tempo as ajudaria a perceber isso, e só convivendo com outras pessoas que usam “janela” para sabe r a diferença. Há quem fale “arrecardar” e não perceba esse erre a mais; há quem diga “raspadura” em vem de rapadura, talvez com base no verbo “raspar” – raspar o arroz queimado no fundo da panela – que se trata do mesmo aspecto semântico de “rapar”, como rapar o bigode, o mesmo rapar de, em significado especial, “cair fora”. É assim o interior do País, e temos que respeitar “essa cultura individual”. Ache bonito quando esse falante usa “oiitu”, “oiteinta”, e outros, com pronúncia diferente da tradicional.
Meu vizinho Otoniel Costa Ferreira, agropecuarista, culto, inteligente e “bom-vivã”, exímio entendedor das coisas do campo – aliás já estive em sua fazenda nos campos gerais do município de Vereda (fronteira com o de Itamaraju), linda, de clima ameno, e bem cuidada. Ele me pegou comentando o que seria “um cavalo quatralvo”. Você conhece, leitor, esse termo, e os seus correlatos? Monalvo, diz Otoniel, é o cavalo que tem apenas uma parte da pata com a cor branca; bialvo, que tem duas patas nessa situação; trialvo, que tem três patas, e “quatralvo”, nome originado de “quatro” e “alvo”, que tem as quatro patas brancas. Meu pai chamava de “catravo”, com cê, como se vê, e sem o L. Ora, estaria certo? Sim, estaria certo respeitando-se o regionalismo linguístico em que se usa o idioma como é ouvido, e não como é escrito. Estaria certo, mais ainda, por que a Gramática diz que há variantes gráficas no idioma: quatorze e catorze, cota e quota, cotidiano e quotidiano, cotista e quotista. Não existe mais “cincoenta”, de cinquenta, mas ainda se diz “desperdiçar” e “esperdiçar”, como desperdício e esperdício. Otoniel explica também que o cavalo jovem é o potro, que, por certo desconhecimento, se usa “podro” ou “poldro”, este até aceito pelo vocabulário ortográfico da Língua Portuguesa. Há mais termos, mas esses, por hoje, bastam para indicar a nossa variedade linguística do dia a dia. O que é uma “potranca”?
Fiquemos por aqui. Que tal um questionamento: Você diria “Com a final da Ditadura Militar” ou “Com o final da Ditadura Militar” o País voltou ao regime democrático? O final ou a final da partida de futebol? O que seria uma coisa “extreme”? Não seria “extrema”? Ligue-se ao assunto e veja (minha) opinião na próxima. Um abraço.
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