Lendo vários artigos, encontro a dúvida do redator quanto ao uso do acento gráfico, em especial, do agudo. De maneira bem fácil e com termos comuns, comecemos os exemplos: o verbo duvidar, conjugado no presente do indicativo, na terceira pessoa do singular, é um desses casos. Chega, infelizmente, a haver o acento agudo no verbo, que não pode, e a não existir no substantivo, em que é obrigatório. Fica claro que a forma verbal – duvida – é uma palavra paroxítona (du-vi-da), da mesma forma de ‘lapida, suicida, convida, trepida’ etc. e, por isso, não carece desse acento. O substantivo, de entonação diferente, por ser palavra proparoxítona (dú-vi-da), é que necessita do acento, obrigatório em Português – toda palavra proparoxítona é acentuada, diz a Gramática Normativa. Segue o mesmo modelo de estômago, âmago, informática, Matemática, rápido etc. Há casos em que a forma verbal na primeira pessoa do singular também serve de modelo, para distinguir o verbo do substantivo. Eu anuncio o fato; o anúncio do fato foi feito.
Façamos, agora, duas frases, uma com o verbo – Ele duvida de você? – e outra com o substantivo – A dúvida dele sobre você permanece? A partir destes, qualquer um, no bom sentido, não usaria mais o acento para um caso e o usaria para o outro.
Listemos, então, exemplos, por ser esta uma página também didática, para facilitar o entendimento de quem tem dúvidas. O prenúncio – substantivo, eu prenuncio – verbo. O anúncio, eu anuncio; o datilógrafo, eu datilografo; o médico, eu medico; a médica, ela medica; o prognóstico, eu prognostico; a sessão pública, ele publica a matéria.
Então, por que se esquecem do acento obrigatório em certos vocábulos? Não seria a pouca prática na escrita e na leitura?
Compare: pais (nossos pais); o país (a nação); maio (mês), o maiô; caqui (o fruto), cáqui (a cor, muito comum em uniformes militares); ela é sábia, ela sabia a verdade; o sabiá tem canto canoro; a minissaia; a saia míni pode não ser confortável (se o prefixo estiver separado, sendo de pronúncia paroxítona, o acento gráfico é obrigatório); a maxidesvalorização do Real; sua ideia é máxi.
Há uma imensa relação. Paremos por aqui.
Pensando em verbo, o verbo curtir é pouco conhecido dos jovens no sentido usado nos curtumes; exatamente, este é um substantivo deverbal, isto é, originado de verbo. Curtir – transformar (pele bruta de animais) em couro, mediante o uso de tanino e outros produtos (explicação didática contida no dicionário); preparar (uma infusão, bebida), deixando de molho em líquido adequado, como ‘curtir pimenta malagueta em azeite de oliva; tornar rijo ou resistente – deixar um tronco verde secar no relento para ficar endurecido; sofrer, padecer, suportar – curtir saudades da ex-amante; aproveitar ao máximo – ele curtiu as férias como ninguém quando foi à Europa. Curtir a balada noturna.
O quinto aspecto, a meu ver, esse sim, é o conhecidinho da rapaziada; os outros, para alguns, nem existem, e muito menos ‘curtir o couro do boi para dar uma boa sola’. Não concorda?
Para terminar, agradecimentos a muitos nanuquenses que vêm lendo esta coluna, como amigos da família Sucupira que encontrei aqui há uma semana e recordaram tempos em que fui professor naquela cidade. Obrigado pelos elogios.
Em Nanuque, na cabeça da ponte (seria a direita ou a esquerda?), na que fica dando início à avenida Geraldo Romano, antiga Uberlândia, havia os dizeres: “Nanuque é uma cidade farta; farta água, farta luz, farta tudo”. O gaiato fez uma boa frase, com o duplo sentido do verbo (farta) e do adjetivo (farto, no feminino). Fartar é ser suficiente, bastar-se, ter o necessário. Ele se farta com pouca coisa. Farto é saciado, nutrido, enfastiado. Estou farto de comida por hoje. Farto pode ter o sentido negativo: Estou farto de você, seu cretino. Farto no sentido de fartura – A roça é um local farto: tem de tudo, do leite ao feijão de corda, do ovo de galinha a uma espiga de milho, isto é, se o homem plantar e souber cuidar do campo. O sentido mais chegado no momento da ironia é o de aborrecer, chatear, enfastiar: O trabalho noturno, assim como o de alta periculosidade, farta o empregado, que está ali todos os dias.
A intenção do colunista é divulgar a Língua Portuguesa em seus aspectos cultos e eruditos, no dever de cumprir a Gramática, para que não seja assassinada, e de outra forma auxiliar a quem teria dúvida no uso de certos termos e expressões. Por exemplo, uma obra fala em ‘áurea luminosa’, referindo-se ao halo, a auréola que envolve a cabeça de um santo; em não se usando halo, talvez, termo mais complexo, podem ser usados ‘aura e auréola’. Áurea, feminino de áureo, referente a ouro, não cabe naquele contexto. Áureo vem de ‘aurum’, ouro; por isso, o símbolo químico do metal é Au, como está na tabela de Química.
Um abraço.