Por Maurício de Novais Reis*
Parte Final – O vocábulo homossexualidade tem suas raízes no idioma grego, no qual homo refere-se à noção de igual. Neste sentido, a terminologia homossexualidade representa a sexualidade direcionada para o igual, isto é, sexualidade direcionada para um objeto que se apresenta como semelhante do sujeito desejante. Assim, o desejo sexual do indivíduo não é direcionado a indivíduos de sexo oposto, mas a indivíduos do mesmo sexo. Embora o termo tenha origem antiga, somente em 1860, mediante o médico Karoly Maria Benkert, o termo foi utilizado para designar o amor carnal, sexual, entre indivíduos constituídos, biologicamente, como atinentes ao mesmo sexo.
Nos anos posteriores, o termo homossexualidade passou a substituir, paulatinamente, as designações anteriormente utilizadas, como inversão e uranismo. Por outro lado, popularizou-se, em contraposição à homossexualidade, a noção de heterossexualidade, que designa o desejo sexual direcionado a indivíduos do sexo oposto. Todavia, não sem uma dose extra de preconceito contra a homossexualidade, que era classificada como pecado a partir do advento do pensamento cristão especialmente dominante na Idade Média. Nesta esteira, Michel Foucault explicita que a “homossexualidade apareceu como uma das imagens da sexualidade ao ser reduzida da prática da sodomia, a uma espécie de androginia interna, a um hermafroditismo da alma”, o que certamente colaborou para a demonização da homossexualidade e posteriormente sua patologização.
O pensamento cristão moldou a mentalidade das sociedades ocidentais, colocando o desejo “normal” como aquele socialmente aceito e sancionado pelo grupo majoritário, a saber, a heterossexualidade, enquanto que o desejo patológico – a homossexualidade – tenderia a representar as formas de sexualidade que não coadunavam com a sanção da maioria. A American Psychiatric Association (APA) só retirou a homossexualidade do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – DSM, em 1974, no qual era classificada como perversão (treze anos depois o próprio vocábulo “perversão” desapareceu, dando lugar para a terminologia “parafilia”, campo no qual a homossexualidade não mais era perfilada).
Freud, em 1935, respondendo à carta de uma mãe preocupada com o comportamento homossexual do filho, esclareceu que a homossexualidade não pode ser considerada uma doença, mas que a psicanálise a considera como uma variante da função sexual. Segundo Freud, a sexualidade não é natural, porque é perverso-polimorfa. Isso significa que mesmo indivíduos heterossexuais carregam consigo uma vertente homossexual, seja sublimada ou latente.
Elisabeth Roudinesco diz no seu Dicionário de Psicanálise que, diversamente do pai, Anna Freud “militou contra o acesso dos homossexuais à análise didática” e que em sua prática clínica “sempre teve como objetivo transformar seus pacientes homossexuais em bons pais de família heterossexuais”. A Associação Internacional de Psicanálise – IPA, seguiu o mesmo procedimento, inclusive estabelecendo que indivíduos homossexuais (à época considerados perversos) não poderiam autorizar-se como psicanalistas.
Jacques Lacan “foi o primeiro psicanalista da segunda metade do século”, escreveu Roudinesco, “a aceitar pacientes homossexuais sem tratá-los como desviantes ou doentes”. Ao fundar a Escola Freudiana de Paris, em 1964, Lacan permitiu que indivíduos homossexuais se autorizassem de si mesmos a tornar-se psicanalistas, caso desejassem. Estava estabelecido o retorno a Freud.
*Mauricio de Novais Reis é Graduado em Pedagogia, Graduado em Filosofia, Especialista em Teoria Psicanalítica, Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e Coordenador Pedagógico na Escola M. Prof. Sheneider Cordeiro Correia. Contatos: (73) 99928-0460 / (73) 98885-3463.