
Caros leitores, a sucessão ao governo de Minas Gerais em 2026 já começou, mesmo que timidamente, movimenta-se os bastidores da política estadual. E, entre os sinais mais claros dessa corrida antecipada, chama atenção o movimento do governador Romeu Zema, que parece ter deixado o tabuleiro mineiro nas mãos do vice, Mateus Simões, enquanto foca em construir uma ponte difícil e até agora mal iluminada com o cenário nacional. Zema, reeleito com ampla vantagem em 2022, saiu do segundo turno como nome forte do Novo e alternativa “discreta” para um eleitorado cansado dos extremos. Mas desde então, sua presença política arrefeceu. A aposta em ser um nome “presidenciável técnico” se diluiu em meio à dificuldade de articulação política em Brasília e à limitação estrutural de seu partido. Enquanto isso, em Minas, o governo entrou numa espécie de piloto automático, com Mateus Simões assumindo progressivamente o protagonismo e sendo tratado por aliados como possível candidato à sucessão. Não foi cedo demais para Zema sair de cena em Minas?
Em política, tempo é capital. E um governador com máquina na mão e base consolidada, tem poder de arbitrar a própria sucessão desde que não delegue esse poder antes da hora. Ao projetar Simões como herdeiro natural sem testar sua força eleitoral, sem prepará-lo publicamente e sem consolidar alianças políticas em torno dele, Zema pode ter cometido um erro estratégico com alto custo. Mateus Simões tem qualidades técnicas e bom trânsito com o empresariado, mas ainda é um nome desconhecido fora da capital. Nunca disputou uma eleição majoritária, muito menos enfrentou crises políticas ou desgastes típicos do Executivo. Se Zema apostar tudo em sua candidatura sem construir pontes com partidos médios e sem medir o humor do eleitorado, pode ver sua base se fragmentar. E, nesse cenário, Minas se abre para outros projetos mais competitivos, com mais articulação partidária e mais experiência eleitoral.
Do lado oposto, nomes como Alexandre Kalil, que ensaia uma volta ao cenário político, e Patrus Ananias, presente como referência do campo progressista mineiro, são possibilidades. Além deles, Marcelo Aro, Rogério Correia, e Saraiva Felipe surgem como possíveis articuladores de uma frente de centro e centro-esquerda. E, claro, o bolsonarismo mineiro que ainda pode lançar um nome forte como o senador Cleitinho Azevedo, com apelo popular que ressoa no interior. Zema, por sua vez, pode estar abrindo mão do protagonismo estadual sem garantias de projeção nacional. Sem partido estruturado e com concorrência dura à direita (como Tarcísio em SP e Ronaldo Caiado em GO), sua viabilidade como presidenciável é duvidosa. A única saída realista, se quiser manter capital político, talvez seja disputar o Senado por Minas, onde sua popularidade ainda tem valor, especialmente contra nomes de esquerda.
No xadrez político, antecipar jogadas é importante mas abandonar a casa do rei sem consolidar a defesa é arriscado. Romeu Zema pode estar entregando o governo de Minas de bandeja sem conseguir manter o controle da sucessão, nem garantir espaço no jogo maior de 2026.Se esse for o desfecho, o governador corre o risco de sair da política como entrou: com discurso técnico, desgaste com o funcionalismo público, sem enraizamento e sem legado político duradouro.
*Thales Aguiar – Jornalista, escritor e Especialista em Ciência Política