Ele afirmou que cerimônias seguindo o rito antigo estavam sendo exploradas como forma de oposição às reformas mais recentes da Igreja e para dividir os fiéis

A medida de restringir o uso de um antigo rito em latim na celebração da missa, anunciada na sexta-feira, foi um golpe para os conservadores, que há muito reclamam que o Papa está diluindo as tradições da Igreja.
Francisco decretou novas restrições sobre onde e por quem a missa tradicional em latim pode ser celebrada e exigiu novas permissões dos bispos locais para seu uso.
A nova lei foi emitida pelo Papa apenas alguns dias após sua alta do hospital depois de uma cirurgia no intestino, em meio a dúvidas sobre se seu recente susto de saúde o retardaria ou aceleraria. Foi uma indicação de que o Papa pretende levar adiante sua agenda para a igreja.
Seu último golpe nas chamadas “guerras litúrgicas” da Igreja ocorre semanas depois que bispos americanos conservadores, muitos dos quais estão ligados à antiga missa em latim, rejeitaram a forte orientação do Vaticano para desacelerar um potencial confronto com o presidente dos EUA, Joe Biden, por seu apoio ao direito ao aborto. Nos últimos dias, prelados influentes em Roma também argumentaram que Francisco não cumpriu suas promessas de modernizar a Igreja.
Mas a ação de Francisco na sexta-feira foi ousada e concreta. Ele escreveu que acreditava que os campeões da antiga missa em latim a estavam explorando para se opor às reformas mais recentes da Igreja e para dividir os fiéis.
Repercussão
Grupos conservadores da Igreja recentemente aplaudiram decisões do Papa, incluindo sua anulação de um voto dos bispos para permitir padres casados em situações limitadas, e ao expressar preocupações sobre um projeto de lei sobre direitos de pessoas homossexuais que está sendo aprovado no Parlamento italiano. Mas alguns ficaram enfurecidos com a nova lei.
Apoiadores do Papa disseram que tais declarações exageradas demonstraram a necessidade de uma correção nas políticas de Bento XVI.
— O que eles estão dizendo sobre a decisão do Papa Francisco é um argumento muito bom para a decisão — disse Massimo Faggioli, professor de teologia da Universidade Villanova, que escreveu extensivamente sobre o assunto.
Embora concordasse com o Papa que a difusão da antiga missa em latim tinha sido usada para minar as reformas do Concílio Vaticano II, ele ficou surpreso com a nova lei.
— Isso é mais radical do que a maioria de nós esperava — afirmou.
Missas em latim
Na década de 1960, a Igreja buscou tornar a fé mais acessível com a liturgia em línguas vivas que faziam uso de expressões modernas em seus livros de orações. Mas nas décadas seguintes, os tradicionalistas recuaram e os pontífices conservadores permitiram que a missa em latim voltasse, incluindo padres voltados para o altar e não para a congregação, dizendo orações mais antigas e, o mais importante, usando apenas a língua latina.
Em declarações divulgadas pelo Vaticano na sexta-feira, Francisco argumentou que a mudança, projetada para trazer unidade à Igreja e seus cantos mais tradicionalistas de volta ao rebanho, tornou-se uma causa de divisão e uma arma para os oponentes conservadores do Concílio Vaticano II, as principais reuniões da Igreja na década de 1960 que deram início a muitas medidas modernizadoras.
Francisco citou essas medidas ao explicar sua nova lei. Muitos analistas veem o pontificado de Francisco como a restauração do envolvimento com o mundo moderno após três décadas de liderança de papas conservadores.
O Papa escreveu em um documento explicando suas motivações para a nova lei que duvidar do concílio é “duvidar do próprio Espírito Santo que guia a Igreja”, e associar apenas o antigo rito com o que os tradicionalistas muitas vezes chamam de “Igreja verdadeira” levou apenas à divisão.
Francisco argumentou que esses tradicionalistas basicamente se aproveitaram da bondade de seus predecessores. A missa tridentina do século 16 foi substituída após o Concílio Vaticano II por uma nova versão padrão aprovada em 1970. No entanto, alguns tradicionalistas insistiram em celebrá-la e rejeitaram a nova versão. O Globo / New York Times