A oposição da Venezuela retomou nesta quinta-feira (20) os protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro e se reuniu em vários pontos da capital Caracas para tentar novamente marchar até a Defensoria do Povo, no centro da cidade, depois da jornada de protestos de quarta-feira (19), que terminou com três mortes, várias pessoas feridas e mais de 500 detidos.

Os opositores tentarão pela sétima vez em três semanas marchar até a sede do órgão para exigir a seu titular que apoie o processo iniciado na Câmara com o qual a oposição pretende destituir sete juízes do Supremo. Esses magistrados emitiram duas sentenças – que depois foram parcialmente suprimidas. As manifestações já deixaram um balanço de nove mortes e cerca de mil detenções.

O número de manifestantes, no entanto, era menor do que as centenas de milhares de pessoas que foram às ruas de Caracas e de outras cidades venezuelanas na quarta-feira, segundo informa a agência France Presse.

Manifestante com bandeira da Venezuela diante de policiais durante marcha da oposição nesta quinta-feira (20) em Caracas (Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

Manifestante com bandeira da Venezuela diante de policiais durante marcha da oposição nesta quinta-feira (20) em Caracas (Foto: REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

“Novamente, o grito dos venezuelanos será sentido ao longo de todo o país, exigindo democracia”, escreveu a aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) no Twitter, onde também foi compartilhada uma imagem com os 26 pontos de onde sairão os manifestantes pelo segundo dia em Caracas.

 Além disso, a plataforma opositora convocou os cidadãos a se concentrarem nos 23 estados do país para continuar com os protestos contra o que consideram um “golpe de Estado” e “uma ruptura da ordem constitucional”.
Manifestante entra em confronto com a polícia durante protesto contra o presidente Nicolás Maduro (Foto: Federico Parra / AFP)

Manifestante entra em confronto com a polícia durante protesto contra o presidente Nicolás Maduro (Foto: Federico Parra / AFP)

O governador de Miranda e ex-candidato presidencial Henrique Capriles anunciou no Twitter que as mobilizações desta quinta-feira pedem “eleições livres, respeito ao parlamento, bem como a abertura de um canal humanitário para a entrada de alimentos e medicamentos que estão escassos no país”.

Além disso, o opositor indicou que os protestos buscam a libertação dos políticos presos e que não ocorram mais inabilitações a dirigentes, como a que foi aplicada a ele mesmo por 15 anos para exercer cargos públicos, ditada pela Controladoria da Venezuela.

Capriles pediu na quarta-feira a empresas e instituições que “colaborassem” para que os cidadãos “possam se ausentar de sua atividade trabalhista e acadêmica” para participar dos protestos e “defender a Constituição”.

Carro blindado da polícia tenta dispersar manifestantes durante protesto contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em Caracas, nesta quinta-feira (20) (Foto: Federico Parra / AFP)

Carro blindado da polícia tenta dispersar manifestantes durante protesto contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em Caracas, nesta quinta-feira (20) (Foto: Federico Parra / AFP)

O primeiro vice-presidente do parlamento, o opositor Freddy Guevara, também afirmou no Twitter: “Hoje, mais do que nunca, devemos voltar às ruas e reafirmar que a resistência é pacífica. É a única forma de conseguir dividir ainda mais o regime”.

Diálogo

Após os protestos desta quarta, o presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, convocou a oposição para um novo diálogo. O presidente anunciou sua disposição para retomar o diálogo durante um discurso feito após uma marcha em apoio a seu governo e no marco da comemoração dos 207 anos do movimento popular que é considerado o início do processo independentista da Venezuela da Espanha.

Nicolás Maduro fala parar apoiadores nesta quarta-feira (19) durante manifestação em Caracas (Foto: CARACAS, VENEZUELA)

Nicolás Maduro fala parar apoiadores nesta quarta-feira (19) durante manifestação em Caracas (Foto: CARACAS, VENEZUELA)

Em 30 de outubro do ano passado se iniciou na Venezuela um processo de diálogo que se estendeu por pouco mais de um mês e que foi suspenso depois que ambas partes se culparam pelo descumprimento dos acordos. A oposição venezuelana assegurou então que o governo de Maduro não cumpriu com os acordos de criar um cronograma eleitoral, implementar medidas para aliviar a crise de escassez de remédios e alimentos, a libertação dos políticos presos e a restituição do papel do parlamento.

Maduro detalhou que chamou porta-vozes oficialistas para o diálogo com a oposição. Eles serão o prefeito chavista Jorge Rodríguez, sua irmã, a chanceler, Delcy Rodríguez, e o deputado Elías Jaua. O presidente também disse que pediu ao jornalista José Vicente Rangel e ao advogado Hermann Escarrá que se incorporem como “fiadores” para ” explorar o caminho do diálogo”.

Além disso, assegurou que ele não é um “fraco” e que tem um “braço duro”, após afirmar que todos os que deviam ser presos assim estarão, “de acordo com as leis, com provas e testemunhos, em um processo justo”.

“Mas também sou um homem de diálogo, acredito na palavra, acredito nas razões e acredito que só através da palavra é possível consolidar e abrir caminho à paz”, acrescentou, ressaltando que nunca se culpará por não ter convocado à oposição a uma mesa de diálogo.