Obscurus

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Recentemente escrevi sobre uma das violências e falta de respeitos ocorridos no Brasil. Deogenes, aluno de Platão e colega de Aristóteles, perguntado por que pedia esmola aos ricos, respondeu que, provavelmente, pensariam eles que jamais chegariam a ser filósofos. O inverso do pensamento de Deogenes ocorre com os legisladores brasileiros. As leis por eles elaboradas são visando uma ocorrência similar no futuro. O que, certamente, os beneficiarão. Nas palavras pretéritas, demonstrei a minha indignação sobre uma empresa de telefonia = A MORTA, apodada de vivo.  Insatisfeito e indignado com o tratamento recebido, tentei aportar em outra operadora, na expectativa de melhor receptividade. Ledo engano! Com menos de vinte dias de assinatura do contrato, foi o mesmo interrompido. A MORTA – VIVO com suas amplas fauces, abocanhou quase a totalidade do mercado com horrível serviço prestado, deixando o resto para a outra de nome sugestivo, como autorizado pela autonomásia. Na ocasião indiquei vinte duas acepções de Antonio Houaiss para a palavra VIVO. Enquanto que para a segunda colocada, o numero aumentou consideravelmente para 35, ampliadas para mais de 600 pelo Professor Francisco Azevedo. Entre os mais significativos, registra Houaiss, “sem nuvens, puro, iluminado” (5). Em seu escritório, belas garotas, insinuantes bem falantes, fazendo-se de entendidas em tudo, discutindo literatura, Jean Piaget, entre outros, numa demonstração de que armazenaram os ensinamentos ministrados, apesar da dicção pela brida nos dentes ensamblada. Tudo adredemente empolhado para fisgar os incautos. Bem sugestivo e bastante comum é encontrar pessoas escurras, sem instrução e educação discutindo grandes princípios filosóficos desde a antiguidade. Brasileiro gosta de novidade, ainda que não saiba distinguir o seu uso. Daí ser encontrado, ainda que inadequadamente, determinados aparelhos sendo usados nas mais diversas e exóticas situações, mesmo que proibidos por lei e o bom senso condenar. Ciclistas são flagrados falando ao celular com a maior sem cerimônia, tal qual narradores de futebol. Isso é uma prova da proliferação destes aparelhinhos inconvenientes e de fácil condução e manuseio.  As operadoras de olho no mercado alvissareiro, mais que promissor, aproveitando a ignorância, a estupidez do ser humano, os empurram de todas as maneiras para os usuários sem se preocuparem com o respeito, aos de contratos, ou outra obrigação qualquer. O número de reclamações na justiça se avoluma cada vez mais, embora as operadoras garantam que o serviço prestado é de primeira qualidade. É o que Stanislaw Ponte Preta, filosoficamente afirmava: “No Brasil as coisas acontecem, mas depois, um simples desmentido, deixam de acontecer”. Exemplos são encontrados nos mais diversos campos, sobretudo político, onde os governantes se esmeram em desmentir fatos, os mais cristalinos e verdadeiros. Por tais motivos e procedimentos, o Brasil continua a ser um país desacreditado nos países civilizados, habitado por um povo incivilizado, como sempre ocorria desde o século XVII. Aqui é a pátria de todos os bandidos do mundo, refúgio seguro para delinquentes de todo tipo e qualidade. Retratado em todos os filmes como o lugar perfeito para se esconder. Pois encontram amparo e guarida das mais altas autoridades, de Ministros ao Presidente da República. Se assim é, por que censurar uma empresa oportunista, que em vez de proceder com dignidade, respeitando os direitos dos usuários, deixam suas atendentes amordaçadas com ferro na boca, para embair a todos?

Ferro na boca é a moda, e serve para esconder, dissimular o verdadeiro desserviço oferecido. Afinal, diz o populacho: “em boca fechada não entra mosquito”. Só que, apesar do ferro a boca nunca se fecha, pois precisa mentir oferecendo um serviço imprestável. Portanto, voltemos à ESCURIDÃO bíblica (gen.1.2). Teixeira de Freitas, 26 de fevereiro de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.