O vice-campeão, no futebol brasileiro, fica em colocação vergonhosa?

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Quase todo torcedor do time que ficou com o vice-campeonato pensa que seu time é que deveria ter ganhado o certame. Isso por que o vice, após a derrota (para o torcedor fanático do time, fato ‘injusto e inesperado’), fica numa posição de pouco merecimento. Vergonhosa até, que não mereceria ser o segundo colocado, porque jogou bem; o árbitro é que roubou, que o gol do adversário (o time campeão) foi na banheira etc.

 

É mania de torcedor – dizer que o time ganhador não é o merecido, que o time perdedor (que ficou no segundo lugar) é que seria o legítimo vencedor da final. No campeonato brasileiro de futebol, qualquer que seja a série (A, B, C e D), é sempre assim. E surgem as lágrimas.

 

Por que essa idolatria tão exagerada? A segunda colocação não é também um mérito? A medalha de prata nunca é valorizada no futebol brasileiro? Não pode ou nunca deve ser?

 

Respondendo a essa pergunta, parece que não. Toda vez que há uma disputa de final, como na Série A, entre os times mais badalados do País, o torcedor do vice-campeão abre o bocão e reclama de tudo e de todos, dizendo que o árbitro é o culpado. Nunca se vê ao contrário – o segundo lugar ser aplaudido, dizer que também jogou bem, como o primeiro, que isso é normal.

 

O motivo do chororô, pela lógica, é indevido, e quando saem de campo certos torcedores afoitos e desastrados, estúpidos e com atitudes de vandalismo, quebram tudo pela frente. O fato recente, embora não tenha sido uma disputa de final, foi o caso em que, em Recife, torcedores arrancaram e jogaram vasos sanitários de dentro para fora do estádio, e um deles matou um torcedor jovem que ia passando no local.

 

Isso é crime doloso, porque é plausível o risco de morte, e fica como se fosse ‘a intenção de matar’, característica do nexo causal. O defensor dos réus quis transformar o crime doloso em crime culposo, mas não conseguiu. Os meliantes foram condenados por um júri, chamado popular.

 

Pegaram, individualmente, mais de vinte anos de reclusão. Foram apenados de forma justa (não há outra forma de se pensar). Se não mediram a consequência de seus atos, tiveram que pagar pelos seus atos descabidos.

 

De quem é a culpa? Uma vem de certa mentalidade mesquinha – agem com atitudes aéticas, imorais, e querem reclamar da vida, da aplicação da lei; a outra seria da própria lei, que, em muitos casos, perde sua severidade, e o meliante não vê risco em desrespeitá-la. Por outro lado, até se sente ‘herói e sabido’ em poder burlar o preceito legal. Aquela história errônea – todos fazem, também vou fazer; ninguém vai descobrir; se descobrirem, não vão provar; se provarem, vou-me defender; se for preso, vou sair logo, logo. Alguns conseguem – recebendo o chamado sursis – e voltam a cometer crimes, às vezes, de caráter hediondo.

 

Os estádios, como se sabe, não vêm oferecendo segurança, e o risco de violência, numa partida entre torcedores fanáticos, é muito grande.

 

Ao contrário, nas Olimpíadas, nas corridas de rua (digamos, meia-maratona de Salvador, meia-maratona Garoto em Vitória, corrida de São Silvestre em SP etc.), o segundo lugar é sempre honroso – a medalha de prata é um feito histórico. Por que o segundo lugar, no futebol, não é tão elogiado e aceito como o é a prata olímpica? O bronze, também, é uma honra, mas o terceiro lugar numa competição esportiva futebolística, no Brasil, não é, sequer, lembrado! Não merece quaisquer louros da trupe comentarista. Isso estaria certo? Jogar no ostracismo o time só por que foi o segundo colocado, e pior ainda, o terceiro, não seria uma lástima, um erro de visão? Por que o vencedor da medalha de prata, seus familiares, e até a imprensa, se alegram tanto com essa colocação, num torneio (nacional ou internacional), e no futebol não acontece a mesma coisa?

 

Num Fla-Flu, o perdedor seria como se fosse a pior derrota da vida, e o torcedor do vice-campeão só chora. O que é isso, companheiro? Na disputa em Minas, mais comum entre Cruzeiro-Atlético Mineiro, no Mineirão, o vencedor recebe todos os aplausos; o perdedor, nada. O segundo lugar nada vale? Seria, assim, por todo o Brasil. As disputas regionais são mais acirradas ainda – no campeonato paulista, quem perde, numa final, se esconde, e quem ganha desfila em carro aberto pelas avenidas da cidade. Por que os dois não desfilariam juntos?

 

O segundo e o terceiro lugares são posições honrosas também; para o bem do futebol, essa discriminação deve acabar o mais rápido possível.