O que vocês querem saber?

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Por Fernando Silva Campos*

Com a pergunta que é título deste texto o professor José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte (Portugal), iniciou seu colóquio na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), dia 29 de setembro. Ele não impôs sua opinião nem fez um discurso elaborado sobre um tema específico, mas, procurou construir, com cada indivíduo, um conhecimento coletivo, partilhado e vivo. O desejo de ouvir os participantes era latente no mestre e, a cada pergunta feita, uma verdadeira aula de vida era concedida.
Explorando o conceito de pergunta, o professor Pacheco foi levantando alguns questionamentos: o que é escola? O que é currículo? Por que um uniforme? Por que horários? Por que uma prova? Estes e outros assuntos foram muito recorrentes em seu discurso, apresentando a educação mais como uma construção individual e coletiva, e não apenas um ato de transmitir conhecimento.
Seguindo o pensamento de Paulo Freire de que “ninguém ensina, estamos aprendendo o tempo todo”, Pacheco propôs uma educação inclusiva e partilhada entre o educando e o educador, valorizando e incentivando ambas as partes. Citou também grandes educadores brasileiros como Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima e Rubem Alves, que lutaram incansavelmente pela educação em nosso país mesmo sob perseguição e repressão política.
Ao comentar a formação de professores, o palestrante apresentou três erros metodológicos no percurso: a isomorfia na formação (o mesmo jeito como se aprende é o mesmo jeito como se ensina), a dificuldade de “ensinagem” (transmissão do conhecimento) e o conceito de capacitação (que pressupõe a incapacidade do professor). Ressaltou novos paradigmas, como: curso, módulo, seminário e treinamento. Criticou a educação “bancária” e incentivou a autonomia do educando.
Durante o encontro, foram apresentados os resultados obtidos com o modelo da Escola da Ponte aplicados no Brasil, especialmente no Projeto Âncora (em Cotia, São Paulo). A ONG atende crianças em situação de vulnerabilidade social provenientes de favelas do entorno da escola. Aplicando os princípios da autonomia e da liberdade orientada ao crescimento, as crianças se preparam para serem cidadãos mais conscientes e maduros para as escolhas e decisões da vida.
O professor enfatizou que “educar é formar para a vida”. Não é apenas informar ou enformar, mas, permitir que o educando cresça e se torne protagonista da sua própria vida, sempre com a colaboração e apoio de sua família e educadores. É transpor velhos paradigmas, o que, muitas vezes, implica desobedecer leis sem sentido, desaprender conceitos errôneos e superar o egoísmo a fim de construir um mundo mais fraterno e coletivo.
*Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde na Universidade Federal do Sul da Bahia. E-mail: [email protected].