Uallace Moreira detalha política industrial que une tecnologia, energia limpa e soberania digital para atrair investimentos históricos
“vivendo uma transformação comparável à revolução industrial”, observou.
Brasil estratégico e soberano na era digital
Segundo Moreira, o Redata nasce de um diagnóstico preciso: o Brasil possui vantagens competitivas naturais que poucos países podem oferecer. “Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, estabilidade geopolítica e um mercado interno robusto. Isso nos coloca em posição de destaque para atrair investimentos estratégicos”, afirmou o secretário.
O programa, explicou ele, foi elaborado em conjunto por diversos ministérios — Indústria, Fazenda, Minas e Energia, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente e Casa Civil — e integra a Nova Indústria Brasil, plano que busca modernizar a estrutura produtiva do país.
Além de reduzir tributos federais sobre equipamentos e infraestrutura, o Redata estabelece contrapartidas ambientais e tecnológicas para as empresas que se instalarem no país. “Nenhum projeto de data center poderá operar sem energia limpa, eficiência hídrica e compromissos de investimento em pesquisa e desenvolvimento”, ressaltou.
Soberania digital e equilíbrio econômico
Moreira destacou que 60% da infraestrutura digital brasileira hoje depende de servidores hospedados no exterior, principalmente nos Estados Unidos. Essa dependência, disse, gera não apenas risco à soberania nacional, mas também déficits bilionários na balança de serviços.
“Quando uma empresa brasileira hospeda seus dados fora do país, ela paga por isso em moeda estrangeira, agravando o desequilíbrio das contas externas”, explicou. Para ele, reduzir essa vulnerabilidade é questão de soberania: “A política para data centers é, antes de tudo, uma política de independência tecnológica e financeira.”
Energia limpa como ativo estratégico
A preocupação ambiental é central no desenho do Redata. As empresas beneficiadas precisarão comprovar uso de energia limpa ou renovável e apresentar índices de eficiência hídrica, limitando o consumo de água a 0,05 litro por quilowatt. “Queremos garantir que a expansão tecnológica seja compatível com a sustentabilidade”, destacou.
O secretário rebateu críticas de que os data centers poderiam pressionar o consumo energético do país. “Ao contrário, essa política estimula a demanda por energia eólica e solar, setores em que o Brasil já possui uma cadeia produtiva verticalizada e capacidade ociosa. É uma forma de reativar a indústria nacional”, disse.
Desenvolvimento regional e inclusão produtiva
O plano também prevê incentivos específicos para empresas que optarem por instalar seus centros de dados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com redução de contrapartidas financeiras e prioridade em linhas de crédito. “Desde os anos 1930, o Brasil convive com um desequilíbrio regional que favorece o Sul e o Sudeste. A política de data centers é uma oportunidade de corrigir essa distorção”, afirmou.
O governo já articula, junto ao BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica e Banco do Nordeste, um fundo de R$ 10 bilhões destinado a projetos industriais nessas regiões, ampliando a descentralização tecnológica.
Inteligência artificial e o novo ciclo tecnológico
Na entrevista, Moreira relacionou a política de data centers à chegada da indústria 4.0 e da inteligência artificial. “A cada 40 ou 50 anos surge uma nova revolução tecnológica. Estamos vivendo uma transformação comparável à revolução industrial”, observou.
Segundo ele, o Brasil não pode perder essa corrida: “A inteligência artificial será transversal em todas as áreas — cidades inteligentes, indústria, educação, saúde. Mas isso exige infraestrutura digital robusta, e é por isso que o Redata é tão essencial.”
Margem equatorial e transição energética
Ao comentar a recente liberação da licença ambiental para a exploração da margem equatorial, o secretário defendeu o equilíbrio entre exploração e sustentabilidade. “Nenhum país abandona fontes fósseis de um dia para o outro. O petróleo pode — e deve — financiar a transição energética”, afirmou.
Moreira ressaltou o papel da Petrobras na retomada de investimentos em pesquisa, refinarias e indústria naval. “A Petrobras voltou a investir com responsabilidade social e ambiental. A margem equatorial será essencial para fortalecer o Norte e gerar milhares de empregos”, completou.
“A nova indústria brasileira está acontecendo”
Encerrando a entrevista, o secretário destacou que a política industrial já mostra resultados concretos. “Do total de R$ 643 bilhões em crédito disponíveis no programa Mais Produção, R$ 517 bilhões já foram aplicados em mais de 258 mil projetos industriais. Isso demonstra que a nova indústria brasileira não é um plano no papel — ela está em curso.”
Para ele, a continuidade dessas políticas é o grande desafio: “Precisamos transformar a política industrial em política de Estado. Só assim o Brasil poderá consolidar um novo ciclo de desenvolvimento, com tecnologia, sustentabilidade e soberania.” Assista:


