“O Brasil está se desintoxicando dos juros envenenados do governo anterior”, diz Guido Mantega

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Inflação deve cair com valorização do real, e ciclo de cortes nos juros pode começar ainda em 2025, segundo o ex-ministro da Fazenda

(Foto: ABR)

247 – Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou que a economia brasileira vive um processo de “desintoxicação” após o que classificou como “envenenamento” provocado pela política monetária do governo anterior. A declaração foi feita no contexto de um debate sobre o atual nível da taxa de juros no país e as perspectivas para o restante do ano.

Mantega criticou os juros elevados mantidos nos últimos anos, especialmente sob o comando do ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Segundo ele, essa política teve efeitos negativos duradouros e agora precisa ser revertida com cautela. “A economia brasileira foi envenenada pelo governo anterior e pela política monetária do Roberto Campos. Então a gente tem que se desintoxicar”, disse.

Para o ex-ministro, o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, tem uma tarefa difícil, mas necessária: reduzir os juros sem comprometer a estabilidade do sistema financeiro. “Ele não pode dar um cavalo de pau. Ele tem que ir gradualmente trabalhando para poder virar a situação. Tenho certeza de que ele fará isso”, afirmou Mantega.

Na avaliação do ex-ministro, apesar do crescimento econômico no início de 2025, os juros altos já começaram a produzir efeitos de desaceleração. “O último trimestre do ano passado foi fraco. Em dezembro, houve uma queda no consumo das famílias”, observou. Ele destacou, no entanto, que o desempenho positivo do setor agropecuário neste início de ano sustentou um dinamismo econômico temporário: “A economia deve ter crescido entre 0,8% e 1% no primeiro trimestre”.

Mantega indicou que a valorização do real frente ao dólar deve contribuir para uma queda gradual da inflação, o que abriria espaço para cortes na taxa básica de juros. “A boa notícia é que a inflação vai cair por causa do câmbio, por causa da valorização do real”, afirmou, destacando que o dólar já vinha em tendência de queda mesmo diante de instabilidades criadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Quando o Trump acalmar um pouco, definir melhor o que ele quer fazer, certamente o dólar vai cair bastante”, completou.

Ele também citou a desaceleração da economia mundial como um fator que pode beneficiar o Brasil, principalmente devido à manutenção da demanda por commodities alimentares. “O Brasil tem uma posição relativa mais favorável”, explicou. Segundo Mantega, setores como indústria e investimento devem crescer menos do que em 2024, mas ainda manter um desempenho positivo. “A indústria poderá crescer entre 1% e 2%, e o investimento, algo como 3,5% a 4%”, previu.

Ao traçar um cenário para a política monetária ao longo do ano, o ex-ministro apontou que um novo aumento residual dos juros pode ocorrer ainda em maio, mas que a inflexão virá no segundo semestre, caso a inflação fique abaixo de 5% ao ano. “O Banco Central poderá começar um ciclo de redução da taxa de juro de modo que ainda até o final do ano a economia possa ganhar dinamismo”, disse.

Mantega também relembrou sua experiência durante a crise de 2008 para ilustrar como é possível crescer com juros baixos. “Mostramos que é possível ter crescimento com uma taxa de juros baixa. Levamos a Selic a 7,25% e mesmo assim conseguimos manter uma média de crescimento de 3% com a inflação dentro da meta”, afirmou.

Sobre o papel do Estado na retomada econômica, ele defendeu que, no passado, os bancos públicos tiveram protagonismo na concessão de crédito, algo que hoje é mais limitado. “O BNDES está fazendo um grande esforço, mas o que ele coloca na economia é muito menos do que colocava no passado”, disse, acrescentando que a Caixa Econômica e o Banco do Brasil também têm restrições. “Hoje o crédito é cada vez mais escasso e as pessoas já estão endividadas.”

Por fim, Mantega reconheceu que a tarefa de Galípolo exige equilíbrio entre estabilidade e transição para um novo modelo econômico. “Ele tem que manter a credibilidade, mas no seu tempo ele vai entregar aquilo que interessa a todos nós”, concluiu. Assista:

 

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