O Brasil das medalhas olímpicas

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Chega a ser inacreditável o que acontece no Brasil. Porque insistimos tanto em ser um país medíocre?! Se não bastasse toda a lama que envolve a turbulenta realidade política do país, agora desnudasse para o mundo a vexatória polêmica envolvendo a qualidade das medalhas olímpicas produzidas no Brasil e ofertadas aos campeões olímpicos.
Vários medalhistas de diversos países estão reclamando, e com razão, que suas medalhas estão descascando ou oxidando. Enfim, apresentaram em poucos meses defeitos inadmissíveis. Imagine o cenário: um dos maiores campeões olímpicos de todos os tempos, o nadador americano Michael Phelps, daqui uns anos relembrando suas vitórias através das medalhas conquistadas em várias olimpíadas, pega uma a uma e vai revivendo cada momento guardado na memória, até que ele se depara com uma das conquistas no Rio de Janeiro, neste momento ele correrá o risco de nem saber o que lembrar, pois pode acontecer da medalha estar enferrujada. Parece cômico, mas é muito triste! Não pelo objeto em si, mas pelo que ele representa.
Mas este, aparente fim não poderia ter sido diferente, as Olimpíadas no Brasil vêm sendo motivo de várias investigações e de suspeitas de pagamento de propinas para a sua própria realização no Brasil, através de compra de votos dos membros do Comitê Olímpico Internacional.
Sem falar nos escandalosos casos de corrupção que envolvem a construção da cidade olímpica. Obras superfaturadas, corrupção envolvendo as empreiteiras que tocaram as obras juntamente com membros dos governos, de todas as esferas, e até mesmo queixas de falta de luz, água e condições físicas dos alojamentos ocupados por algumas delegações.
As medalhas representam mais um símbolo da desastrosa administração pública que temos. É muita incompetência reunida misturada com interesses particulares. O que nos leva a mais um fato vexatório com repercussão mundial.
Para variar, desculpas não faltam, sempre há uma na ponta da língua, mas todas não conseguem mais tapear o caos que está instalado na República Federativa do Brasil. De viadutos que caem, de obras que se transformam em elefantes brancos, de tantas outras prontas que se sucateiam com o tempo, pois não são usadas, de estádios superfaturados, até mesmo a uma simples medalha. Neste país tudo parece estar contaminado pela destruidora corrupção ou pela forma de tratar as coisas públicas de qualquer jeito. Parece que não há uma boa vontade de fazermos as coisas certas, com precisão, com vontade de acertar.
Nesta toada vamos nos construindo, nos enraizando, nos mostrando para o mundo, como um povo que insiste em não querer ser melhor. Mas também, em uma nação em que cerca de pouco mais de 1% dos cursos superiores podem ser considerados de qualidade, seria muito querer que uma medalha fosse diferente. Como diria um locutor esportivo “que fase!”.
Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.