Novo ‘limite’ de Guedes é aumento para emendas e fundão eleitoral

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Depois de justificar em entrevista sua concessão ao arrombamento do teto de gastos dizendo que prefere tirar um “oito” em matéria fiscal, mas não ser reprovado no quesito sensibilidade social, Paulo Guedes elegeu um novo “limite” que diz que não vai ultrapassar para ficar no governo: caso os deputados e senadores decidam usar o espaço fiscal que está para ser aberto no Orçamento para aumentar as emendas do relator e o fundo eleitoral para 2022 ele garante que pega o boné.

Fica difícil levar a afirmação ao pé da letra, uma vez que o próprio Guedes sempre colocou o respeito ao teto como condição sine qua non para sua permanência na pasta, mesmo depois de Jair Bolsonaro ter avançado várias casas no sentido do populismo que ele sempre condenou.

É que nas conversas que tem mantido depois da decisão de aquiescer com o Auxílio Brasil de R$ 400, e as manobras legislativas necessárias para viabilizá-lo mesmo sem receita nova que o ampare, Guedes tem dito que não poderia fechar os olhos para a necessidade, de resto apontada pela própria imprensa, de amparar aqueles que perderam emprego e renda com a pandemia.

Quando confrontado com a possibilidade de que a inflação se agrave com o fim das amarras fiscais e acabe por corroer justamente parte do benefício ampliado, além de atrasar a recuperação dos empregos que garantiriam a retomada de uma renda mais consistente, Guedes concorda com o argumento, mas dá a entender que foi vencido nesse debate. E teria evitado uma explosão ainda maior de qualquer controle do teto.

Não é confortável a posição do titular da Economia, que, mesmo tendo ficado no cargo, atirou publicamente, e ao lado de Bolsonaro, em vários colegas de Esplanada. Aos interlocutores, Guedes nega que a decisão de ficar se deva a uma necessidade de, ao final do mandato de Bolsonaro, mostrar a seus pares que estava “certo”, ou que tenha aderido de vez à agenda eleitoral. Mas as duas percepções são as predominantes no mercado, no meio político e entre os economistas. Daí porque o ministro esteja cada vez mais explicitando suas críticas a nomes que o antecederam, a analistas e mesmo a colegas de Esplanada.

Se esse é um caminho sustentável para ele, os próximos lances do jogo político tratarão de deixar claro. Basta uma esperada movimentação do Congresso para criar novos gastos para que ele tenha de ser exposto de novo à dúvida de se vai condescender ou se demitir. E a expectativa é de que isso seja apenas questão de dias, ou semanas. Por Vera Magalhães / O Globo