Por Maurício de Novais Reis*
Parte I – Desde muito cedo na história do movimento psicanalítico, Freud compreendeu que existe uma sexualidade infantil, ancorada na relação estabelecida entre o infans e os indivíduos pelos quais fora recebido no mundo. As investigações empreendidas pelo psicanalista austríaco (publicadas no texto de 1905, intitulado: Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade) demonstraram haver o estabelecimento de uma relação objetal entre a mãe e a criança, na qual a criança busca não somente a sobrevivência no aconchego materno, mas especialmente deriva prazer desse aconchego. Desta forma, a teoria freudiana argumenta que a sexualidade infantil não está presente apenas na excitação provocada pelo toque nas zonas genitais, mas, sobretudo, quando o infans busca um prazer (sucção do polegar, por exemplo) independente da função puramente biológica representada pelas zonas erógenas.
A psicanálise, no interior de seu corpus teórico, atribui relevância incomensurável à sexualidade para o desenvolvimento psíquico dos indivíduos, reconhecendo que a sexualidade infantil poderá ressurgir frequentemente na idade adulta envolta na carapaça do desejo. Por isso, aprofundando as discussões acerca da sexualidade infantil, Freud teoriza sobre o desenvolvimento psicossexual das crianças, explicitando as fases que o integram.
A fase oral persiste no decurso do primeiro ano de idade, podendo estender-se pelo segundo ano. Nesta fase o interesse primário da criança está concentrado em sua boca e o que ele pode realizar, assim, o ato de levar tudo à boca e o sugar adquire a maior importância.
Na fase anal as energias libidinais centralizam-se na retenção e expulsão das fezes; muita atenção é direcionada ao controle do esfíncter anal (treinamento higiênico). Neste ato estão envolvidos um grande prazer e um marcante sentimento de realização.
Na fase fálica, que ocorre entre os três e os cinco anos de idade, o pênis ou o clitóris entram no foco das energias libidinais. Os meninos se divertem com a capacidade de direcionar o jato de urina, sentem prazer no toque no membro e se interessam pelo fato de as meninas não o possuírem. Neste momento surgem as preocupações com a força, com a competição e com o poder.
Ultrapassado o período fálico, a criança experimenta a mudança de direção da pulsão. Se antes o autoerotismo era predominante, doravante sua pulsão será direcionada para um objeto exterior, ou seja, o genitor do sexo oposto, acompanhada de um sentimento de rivalidade em relação ao genitor do mesmo sexo. Inicia-se, portanto, o período conhecido como Complexo de Édipo.
Todavia, reconhecendo que não poderá suplantar o genitor masculino para finalmente acoplar-se à figura materna, o menino desiste, por assim dizer, da empreitada, preferindo sofrer a angústia da castração simbólica operada pela função paterna.
O conceito Nome-do-Pai, criado pelo psicanalista francês Jacques Lacan, relaciona o Complexo de Édipo, articulando-o com a metáfora paterna para explicar a função da figura paterna nos processos de simbolização. O psicanalista Marco Antônio Coutinho Jorge esclarece que “a elaboração do Complexo de Édipo por Freud corresponde precisamente à construção da metáfora paterna e do Nome-do-Pai” cuja importância estrutural da interdição do incesto revela-se marcadamente impregnada no registro simbólico da humanidade. Continua.
*Mauricio de Novais Reis é Graduado em Pedagogia, Graduado em Filosofia, Especialista em Teoria Psicanalítica, Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e Coordenador Pedagógico na Escola M. Prof. Sheneider Cordeiro Correia. Contatos: (73) 99928-0460 | (73) 98885-3463.